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Ensaio Yamaha MT-09: Uma predadora obediente

By on 30 Agosto, 2020

A YAMAHA MT-09 É UMA MOTO FABULOSAMENTE BÁSICA, COM UM MOTOR TRICILÍNDRICO DE PRIMEIRÍSSIMA CLASSE E BOAS AJUDAS ELETRÓNICAS À CONDUÇÃO. UMA PREDADORA OBEDIENTE MAS QUE NOS OBRIGA A ESTAR SEMPRE ATENTOS, PORQUE AINDA TEM GARRAS FORTES E UNHAS BEM AFIADAS!

Ensaio realizado por Ricardo Ferreira, equipado com capacete SHARK R-Pro, blusão, luvas, calças e botas IXON, cedidos por LUSOMOTOS

A Yamaha MT-09 é uma daquelas motos que não deixam ninguém indiferente, que tem um imenso caráter e uma personalidade própria. É por isso que a marca a insere num mundo denominado “The Dark Side of Japan”. Neste ensaio, tiramos a MT-09 desse lado obscuro e trazemo-la à luz do dia.

Observando os seus 4 LED’s de cada lado da dupla ótica, na forma dos olhos de um lutador de sumo, apreciando as aletas dianteiras e laterais do radiador e a mais curta cauda que nos despertam a ideia de um réptil, facilmente percebemos que a filosofia Masters of Torque – na qual se baseia o nome MT – é toda uma declaração de intenção. É por isso que a Yamaha a classifica como uma Hyper-Naked.

MOTOR: “3 NÃO É MENOS QUE 4”

Mas vamos a factos. A MT-09 foi a primeira moto da Yamaha, desde as XS750 e XS850 produzidas de 1976 a 81 – a ser alimentada por um motor de três cilindros em linha. Porém, a escolha dessa configuração não foi fácil. Das várias soluções em cima da mesa, 2 cilindros paralelos, 3 cilindros em linha, 4 em linha ou V2, o motor triplo foi o eleito porque era a melhor solução em termos de potencia, torque e baixo peso. Na ocasião, Shun Miyazawa, gestor de produto da marca, comparou a MT-09 com a Street Triple, rotulando a Triumph como uma streetfighter e a Yamaha como uma roadster motard. 

Lançada no mercado em 2014 a MT-09 foi atualizada em 2017 com suspensões totalmente reguláveis, com o sistema de controlo de tração, ABS, a embraiagem deslizante, faróis de LED e tudo um novo estilo – o tal Lado Negro…

Em 2020, a MT-09 passou a oferecer aninhado entre as nossas pernas o motor de 847cc refrigerado a líquido, DOHC, de 3 cilindros em linha equipado com a tecnologia crossplane da Yamaha. Este é um dos dois modelos de MT que possuem tal tecnologia, o outro é a mais velha MT-10. A MT-09 passou a oferecer uma potência máxima de 115 cv às 10.000 rpm e um binário de 87.5Nm (8.9kg-m) às 8,500 rpm, para um peso de conjunto de 193 quilos.

Este motor, para além de oferecer as sensações típicas de um 4 cilindros, está agora menos brutal, mais linear nos regimes e, por consequência, mais utilizável que nas anteriores versões o que se deve em grande parte à cambota de planos cruzados. Mas… o que isso significa?

O design crossplane significa que cada um dos pinos de manivelas da cambota está num ângulo de 90° em comparação com o próximo. Os pinos de manivela estão, portanto, em dois planos cruzados a 90°, e daí o nome de cambota crossplane. Este tipo de configuração foi criado para reduzir o torque de inércia criado pelo motor ao mínimo.

O torque que um condutor sente é uma combinação de dois tipos de forças: o torque a combustão, vindo diretamente do disparo do motor, e o torque inércia, proveniente do movimento das peças (como pistões e cambota) dentro do motor.

Produzindo estes motores grandes quantidades de torque, reduzir o torque inercial proveniente das peças móveis internas, significa melhorar consideravelmente a resposta do acelerador e reduzir as vibrações para o condutor. Ou seja, é como se a Yamaha, que produz dos melhores instrumentos musicais em todo o mundo, afinasse um piano de cauda, eliminando nele todos os ruídos parasitas que distorcem a qualidade sonora!

CAIXA DE VELOCIDADES E CICLÍSTICA: MUDANÇAS A CONSIDERAR

Situada no topo de gama das nakeds da Yamaha – acima dela apenas existe a streetfighter MT-10 com o motor de quatro cilindros e 160 CV – a MT-09 surge em 2020 com duas boas novidades para quem gosta de pilotar: o controle de tração e o quick-shift, que dispensa o uso da embraiagem nas trocas de marchas da caixa sincronizada de 6 velocidades.

Para evitar acidentes, a embraiagem deslizante segura a pancada das reduções para não travar a roda traseira. O ABS é item de série, atuando nos dois discos dianteiros de 298mm, mordidos por pinças premium Advics de montagem radial, e no disco traseiro de 245 mm.  Em termos estéticos, esta terceira geração da MT-09, afasta-se do visual da irmã mais nova MT-07 com o novo farol duplo em LEDs e grandes mudanças na traseira, agora mais curta.

A suspensão dianteira invertida com bainhas de 41 mm também foi revista, ganhando novas regulações de pré-carga e ajuste de pressão de retorno e compressão. A suspensão traseira mantém a mesma arquitetura, com o monoamortecedor quase deitado e mais regulações para adequarmos a MT-09 ao nosso estilo de pilotagem.

Outro ajuste possível é o seletor de modos de condução (STD, A e B) que age nas respostas do acelerador eletrónico. Para selecionar um destes 3 modos basta acionar um botão no punho esquerdo; para escolher uma de duas posições (1 e 2) do controle de tração, TCS, temos um switch à nossa disposição no punho esquerdo do guiador. Tudo isso pode ser visualizado no minimalista painel digital.

Para os mais exigentes, é importante saber que a Yamaha MT-09 pesa 193 kg com líquidos (óleo e depósito cheio), situando-se bem entre a MT-07 e a MT-10 que chega aos 210 quilos. A sua largura máxima é de 815 mm, bom para passar entre os carros em filas de trânsito paradas e o assento está a 820 mm de altura do solo, não complicando a vida aos condutores de baixa estatura.

E finalmente, a condução, que nos vai dar o veredicto final sobre esta naked.

PREDADORA ÁGIL MAS COM GARRAS AFIADAS

Fizemos a maior parte do ensaio com o modo Standard e TCS na posição 1, a menos intrusivo. Esta foi a combinação que nos pareceu ser a mais equilibrada: permite extrair o máximo  desempenho do motor CP3 sem o controle de tração a cortar em demasia a performance.

No uso da caixa as mudanças são rápidas, funciona espetacularmente em qualquer regime, apenas um toque na alavanca e a engrenagem entra com precisão e muito suave, embora seja em médias e altas revoluções onde se mostra mais eficiente.

O mesmo vale para a embraiagem da MT-09. Além de suavizar incrivelmente o toque da manete de embraiagem – pela cidade é magnífica – o sistema anti-ressalto permite-nos fazer reduções sem nenhum cuidado especial. Com isso ganha-se em estabilidade mas, apesar das melhorias, quando vamos num ritmo rápido ou muito rápido, em termos gerais a inserção da embraiagem continua um pouco nervosa.

No amortecimento, a última revisão do garfo que inclui o novo sistema de ajuste trouxe maior consistência, especialmente ao travar com força, onde a transferência de pesos não é tão pronunciada nem tão desestabilizadora como antes.

Atrás, o nervosismo dos primeiros modelos foi muito reduzido mas, como antes a MT-09 continua a exigir que estejamos sempre despertos porque é uma moto criada para emoções altas… o tal lado negro! Justamente por isso e devido à geometria agressiva do quadro diamante (ângulo de avanço de 25 graus e trail de 103 mm) é que é uma moto tão divertida e que nos força a estar atentos e totalmente envolvidos na condução, sem distrações, embora a sua capacidade de adaptação seja brutal, pois graças à eletrónica, podemos variar vários parâmetros para desfrutar de uma doce e dócil MT-09 como um gatinho… A sua velocidade máxima chega aos 225 km/h.

Projetada para fornecer sensações fortes, a MT-09 é uma moto com feitio radical e que apela às emoções como poucas outras no mercado. É leve, ágil e potente, ideal para condições de condução diária, mas também para nos deliciar ao levá-la por uma ziguezagueante estrada de montanha.

Os Dunlop D 214 nas medidas 120/70 e 180/55 de 17 polegadas, também se revelaram uma boa escolha. Em cidade, a MT-09 passa bem no trânsito por ser uma moto estreita, ter uma posição de condução muito confortável para duas pessoas… mas, como não se pode ter tudo… atenção aos consumos! Obtivemos um consumo médio de 5,8 litros.

3 CONCORRENTES DIRETAS

Hoje, a concorrência também aumentou no mercado, passando a MT-09 a ter como rivais diretas a Kawasaki Z900 e as mais recentes Triumph Street Triple RS e BMW F900 R. Destas, a mais potente é a japonesa  Z900 com 125 CV saídos do seu motor de 4 cilindros, logo seguida pela inglesa Street Triple Triumph com os seu 121 Cv, e por último a alemã F 900 R, que com  105 CV saídos do motor bicilindrico paralelo fica aquém do potencial da MT-09.

Contudo, a BMW acaba por ser a moto mais em conta em termos de preço, já que os seus 8.925 euros, representam menos 370 euros face aos 9.295 euros da Yamaha. Uma diferença quase insignificante. O mesmo não podemos dizer em relação à aquisição da Z900, que custa mais 1100 € que a MT-09 (significativo) ou à compra da Street Triple RS, pela qual temos de pagar mais 3.455 € – uma enorme diferença!

No entanto, a moto inglesa com os seus 765cc do motor triplo e escassos 166 kg, é de longe a mais leve das 3 rivais. Pesa menos 27 quilos que a Yamaha, menos 44 quilos que a Kawasaki e menos 45 quilos que a BMW – uma diferença abismal!

BALANÇO FINAL

Em resumo, a Yamaha MT-09 é uma moto fabulosamente básica (despida de semi-carenagens, asas laterais e outros apêndices aerodinâmicos), com boas ajudas eletrónica à condução, equipada com um motor tricilindrico de primeiríssima classe e uma posição de pilotagem quase perfeita. Uma predadora obediente, que por vezes parece um gatinho de casa mas que quando é preciso mostra garras bem afiadas.

Existem 3 opções de cor para a Yamaha MT-09: branco, azul e preto, qualquer uma ao preço de 9 295 euros.

GOSTÁMOS

ESTÉTICA ‘BÁSICA’ E SIMPLES

POSIÇÃO DE CONDUÇÃO

RESPOSTA DO MOTOR

ABS POUCO INTRUSIVO NA TRAVAGEM

CAIXA COM QUICKSHIFT

COMANDOS DO TCS E MODOS DE CONDUÇÃO

LUGAR DO PASSAGEIRO

A MELHORAR

CONSUMOS EM CIDADE

AUSÊNCIA DO FRONTAL AERODINÂMICO

Se tiver uma MT-09 de 2017 vai sentir algumas diferenças, mas se tiver sido dono de umas das primeiras versões de 2014/15, sentirá uma enorme diferença para o modelo de 2020

FICHA TÉCNICA

Tipo de motor: 3 cilindros em linha (4T) com refrigeração líquida, DOHC, 4 válvulas

Cilindrada: 847 cc

Diâmetro x curso: 78.0 mm x 59.1 mm

Taxa de compressão: 11.5 : 1

Potência máxima: 84.6kW (115 CV) às 10.000 rpm

Binário máximo: 87.5Nm (8.9 kg-m) às 8.500 rpm

Sistema de lubrificação: Cárter húmido

Tipo de embraiagem: em banho de óleo

Sistema de ignição: TCI

Sistema de arranque: eléctrico

Caixa: sincronizada com 6 velocidades

Transmissão final: corrente

Quadro: tipo Diamante

Ângulo do avanço: 25 graus

Trail: 103mm

Suspensão dianteira: forquilha telescópica invertida, bainhas de 41 mm, curso 137 mm

Suspensão traseira: braço oscilante, Tipo Link com monoamortecedor central, curso 130 mm

Travão dianteiro: disco duplo hidráulico, Ø298 mm

Travão traseiro: monodisco hidráulico, Ø245 mm

Pneu dianteiro120/70ZR17M/C (58W) (Tubeless)

Pneu traseiro180/55ZR17M/C (73W) (Tubeless)

Comprimento máximo: 2.075 mm

Largura máxima: 815 mm

Altura máxima: 1.120 mm

Altura do assento: 820 mm

Distância entre eixos: 1.440 mm

Peso máximo (com líquidos) 193 kg

Capacidade do depósito: 14 lt.

Consumo médio (anunciado/verificado) 5.5l/100km – 5.8 l/100 km

Emissões CO2: 127g/km

GALERIA DE IMAGENS

AS CONCORRENTES

MODELO / PREÇO / POTÊNCIA / PESO

YAMAHA MT-09                              9.295 € / 115 CV / 193 KG

BMW F 900 R                                    8.925 € / 105 CV / 211 KG

KAWASAKI Z900                              10.395 € / 125 CV / 210 KG

TRIUMPH STREET TRIPLE RS       12.750 € / 121 CV / 166 KG*

*Peso a seco uma vez que o fabricante não disponibilizou o peso com óleo e gasolina.

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