Viagens de Aventura: Tajiquistão, no tecto do mundo
Karakoram Son é um aventureiro. Mas não um aventureiro comum. É um viajante para o qual cada desafio nunca termina, um aventureiro que não sonha acordado, ou que fica sentado num fim de tarde a ver a linha do horizonte, conformado. Viaja sem medo, sem limites, para mostrar ao mundo que o Mundo não acaba aqui ou ali, e que o caminho a percorrer somos nós que o definimos!
Bartang Valley, uma jóia escondida no Tajiquistão. “Provavelmente a área/estrada mais difícil de atravessar”, afirma este ‘motard’ aventureiro que já fez a Shimshal Valley Road, a Carretera de Austral, a Estrada dos Mortos na Bolivia e a Laguna Rota no Atacama. O deserto áspero e aspecto desafiador, tornam este percurso no Tajiquistão demolidor e aos mesmo tempo, emocionante e belo.
Esta é uma história nos caminhos do Vale Bartang, numa estrada de ninguém!
O ser humano é adaptável, mas, qualquer viagem consegue transformar o mesmo. Para Karakoram Son, é surreal, como em tão pouco tempo – apenas alguns meses – estava num lugar completamente diferente, um homem diferente e com uma mentalidade muito distinta. Demorou 4 meses para chegar a uma pequena cidade de Kalaikhum, perto da fronteira do Afeganistão – Tadjique, separados apenas por um rio.
“Há momentos em que desejas seguir o teu instinto. Foi uma situação idêntica para mim… Eu não sabia que caminho seguir para cruzar a Montanha Pamir em direcção ao Quirguistão: ROAD 41 pavimentada, Vale Wakhan ou o infame Bartang Valley (verde).”
Tecnicamente não existe nenhuma estrada no Google Maps. Em vez disso, existe apenas uma ‘estrada’ de montanha com aproximadamente 400 km ao longo do rio Bartang, Caminho este que pode facilmente desaparecer durante a noite devido à subida no nível da água. Altitude elevadíssima, falta de civilização e infraestruturas, sem gasolina, sem água e comida – a combinação perfeita para tudo se tornar ainda mais desafiador.
“Tinha prometido a mim mesmo sair da minha zona de conforto e desafiar a minha capacidade de lidar com os problemas”, refere.
Karakoram Son decidiu seguir caminho por Bartang, sem saber muito sobre este percurso que escolhera e acabou por ser uma das estradas mais desafiantes, física e psicologicamente. Logo no primeiro dia, notou numa grande amolgadela no aro da frente, sentiu medo e fúria ao mesmo tempo quando percebeu que este percalço poderia piorar dentro do vale e que ficaria em grandes apuros, pelo que, poucas horas antes de entrar precisou de encontrar uma solução para consertar a jante.
“Bem… Se estão a pensar porque raios está a minha moto deitada no chão, porque é que aquele miúdo está a segurar a minha mochila e porque existe um martelo perto da roda da frente, é porque vou martelar a jante até conseguir a sua forma normal! Parece assustador e caro, mas, quando se está no meio do nada e há compromissos, o que tiver que ser, será… Nesta pequena aldeia, o mecânico recusou-se a bater com um martelo numa superfície de alumínio, não tive outra escolha sem ser martelar eu próprio e reparar o problema. Não havia nenhuma oficina de luxo da BMW, ou melhor, nenhuma oficina…”
DIA 1
“Os primeiros 25 km foram relativamente fáceis, mas, de repente a altitude aumentava e a estrada transformou-se num inferno com uma travessia de água provavelmente a cada 10/15 km do caminho. O nível da água aumentava a cada minuto e decisões tinham que ser tomadas rapidamente! Segui em linha recta por um pequeno acesso em pedra, passando pelas pedras maiores arredondadas e com uma perfeita combinação entre acelerador e embraiagem para passar pela água! Uma grande pedra submersa e escondida mudou o meu caminho naquele instante porque acabei por cair de cabeça em grandes rochas.”
Karakoram Son, o aventureiro que deixou Berlim há muito, levantou-se, avaliou os danos e prosseguiu. Afinal, “The Show must go on!”
DIA 2
“Uma das experiências mais assustadoras desta viagem por causa de uma má tradução ao falar com um Russo, e do meu próprio espírito aventureiro. Esta ponte não é para motos carregadas mas, mesmo sem experimentar caminhar sobre a mesma e testar a carga e o equilíbrio, peguei numa moto de 450kg (incluindo a minha pessoa) e fomos atravessar esta ponte de corda. Demorei apenas alguns segundos para perceber que esta decisão teria sido muito provavelmente, o maior erro da minha viagem. A meio da ponte, esta começou a balançar e a mover-se lateralmente e tive que contrariar estes bruscos movimentos com peso, num espaço muito apertado.”
Em Bartang Valley, a 4000m de altitude, com menos comida e sem água, Karakoram perdeu o foco por momentos, e numa porção de gravilha sentiu o pneu da frente da BMW GS a ziguezaguear e balançar. “Caí com o meu pé esquerdo por baixo dos alforges e fiquei preso. Bem… Ao empurrar a moto, todo o peso bruto foi feito em cima do meu pé, nem mesmo as melhores botas com um bom ‘Gore-Tex’ completo iriam conseguir parar as dores que sentia.”
O significado de Viagem de Aventura é sempre relativo para todas as pessoas que por si só, são sempre diferentes, mas uma coisa existe em comum: “É incrível estar lá, no deserto, perdidos no nosso lado mais selvagem”, esclarece.
É assim, o Oeste das Montanhas Pamir é selvagem e austero! Bartang Valley, é perigoso e memorável. Apesar do solo e paisagens estéreis, nascem e crescem nestes caminhos aventuras que deixam marcas, experiências que elevam o ser humano a um novo nível de capacidade. Karakoram Son, um dos poucos aventureiros que, carregando combustível para 400 km e poucos recursos, concluiu a travessia do vale em poucos dias. Depois de toda uma jornada dura onde foi levado aos mais diversos limites, ainda lhe sobram forças para dizer: “Não trocaria nenhum destes dias de travessia de Bartang Valley por um único dia no conforto do sofá a ver o Netflix!”
E com esta palavras, Karakoram Son acionou o ‘starter’ da BMW F800 GS e prosseguiu em direção a um novo desafio…
Boa sorte!
Continua
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