Aventureiro italiano inscreve novo recorde no Guiness com uma Vespa 50

By Redação on 18 Abril, 2024

Ao final de 24 horas e sem paragens para reabastecimento, o aventureiro italiano Valerio Boni completou uma distância de 615 voltas (1.233,075 km) no histórico circuito espanhol Terramar, superando o anterior registo de 2005 do australiano Mark Brown aos comandos de uma scooter bem mais atual.

Um novo recorde, o sexto em três anos, soma-se ao acervo singular de Valerio Boni, milanês mas residente na província de Bérgamo, Itália, jornalista de 65 anos especializado em motores, principalmente os de pequena cilindrada.

O seu recorde mais recente é o que, com 1.233,075 km, fixa a distância máxima percorrida em 24 horas sem parar com uma scooter de 50 cc e foi alcançado desde o meio-dia de 6 de março até à mesma hora do dia seguinte no histórico traçado de Terramar, a cerca de 40 quilómetros de Barcelona.

Com aquela mesma scooter, pouco mais que por diversão, há 45 anos percorreu 940 km, certificado por um serviço oficial de cronometragem, sem saber que poderia ter solicitado a aprovação do Guinness. A tentativa foi realizada da mesma forma, sem paragens para reabastecimento, realizada em movimento, embora as orientações não impusessem esta singular dificuldade adicional.

Um recorde que ficou por aprovar…

Em 1979, o jovem Boni, com apenas 20 anos, tinha de facto percorrido 940 km em 24 horas na sua Vespa 50, uma distância impressionante tendo em conta o limite de velocidade de 40 km/h imposto pela lei da época.

“Não foi um recorde oficial porque apesar da presença de um serviço de cronometragem oficial não tinha pensado na possibilidade de obter a aprovação do Guinness. Considerei-a simplesmente uma das pequenas loucuras sobre duas rodas da minha vida, mas também considerei uma pequena derrota, visto que a meta que me propus em 1979 era atingir os 960 km. Para fazer isso, planeei uma viagem ininterrupta de 24 horas, usando uma técnica inovadora de reabastecimento em movimento, inspirada no método de “reabastecimento ar-ar” usado por aviões de combate, mas uma queda no desempenho do motor durante a noite fez-me perder cerca de vinte quilómetros.”

“Na época da Covid, descobri que na base de dados do Guinness havia uma categoria ‘Maior distância percorrida em 24 horas numa scooter de 50cc’. O recorde pertencia ao australiano Mark Brown, que em 2005 não tinha ultrapassado os 928 km, 12 a menos que o meu”

A partir daquele momento nasceu inconscientemente a ideia de reivindicar a primazia que moralmente lhe pertencia. A Vespa 50 ainda estava na garagem, entretanto fora restaurada em 2015 e inscrita no registo histórico da Federação de Motociclismo de Itáia (FMI). Contúdo, já se tinham passado 45 anos para a scooter e o condutor, um elemento que não deve de forma alguma ser subestimado.

O empurrão final veio por acaso, por ocasião da apresentação de um livro, “A primeira Vespa nunca se esquece”, no qual a autora Paola Scarsi recolheu em 208 páginas os testemunhos de personagens mais ou menos conhecidas ligadas à scooter mais famoso do mundo. O encontro com Denys Maiorino, proprietário da oficina Epoca Motors em Trezzo sull’Adda, especializada no restauro de scooters, despertou a vontade de aceitar o desafio.

A escolha do circuito

Um dos elementos fundamentais na organização de uma tentativa de recorde está sempre ligado à escolha do circuito ideal, que deve aliar o traçado da pista à vertente económica. Se em 1979 as 24 horas foram organizadas na pista da Pirelli em Vizzola Ticino (Itália), para esta nova tentativa de recorde a escolha de Boni recaiu sobre o circuito espanhol de Terramar, a cerca de 40 quilómetros de Barcelona. Um anel de 2.005 metros de comprimento, com duas impressionantes curvas elevadas, um dos mais antigos do mundo, nascido em 1923 e muito querido por Tazio Nuvolari.

“Vi o autódromo de Terramar pela primeira vez em 2018 – recorda Boni – e fiquei fascinado. Sente-se o peso do tempo e em alguns pontos as lajes de concreto da superfície são muito acidentadas, mas dada a lentidão pensei que poderia correr o risco e enfrentar a longa jornada. Devo dizer que parte importante da escolha foi feita pelos números “redondos”: uma scooter de 45 anos, uma pista que acaba de comemorar o seu século de vida, 55 anos da apresentação da primeira Vespa 50 Special, 100 anos da fábrica de Pontedera, onde sempre foi construída a Vespa, e finalmente o meu 65º aniversário.”

O novo recorde na Vespa com 45 anos

Na primeira fase de planeamento da tentativa, houve dúvidas se deveria atingir a meta original de 960 quilómetros ou 1.080. A primeira era a original, alcançável viajando a 40 km/h, limite legal de 1979, enquanto a segunda, representava a distância máxima que poderia ser percorrida à velocidade máxima permitida hoje na Europa para um ciclomotor: 45 km/h.

A resposta veio das diretrizes do Guinness, que prevêem um limite de cilindrada de 50 cc, mas sem limites de velocidade, desde que o motor seja compatível com um produzido em série.

Assim a Vespa libertou-se dos bloqueios que limitavam o seu desempenho e consequentemente subiu a velocidade máxima para cerca de 55 km/h. Apoiado pela estrutura da Epoca Motors e pelos amigos Ivo Viscasillas e Cristian Noguera, experientes pilotos que o ajudaram no reabastecimento em andamento, Boni conseguiu de imediato manter uma média superior ao necessário para atingir o objetivo. E o antigo recorde de 928 foi superado com bastante antecedência, antes das 5 da manhã.

O único incómodo foi uma inflamação nos olhos por conta da poeira, que exigiu uma pequena pausa para aplicação de colírio. Não foi assim possível realizar 24 horas estritamente ininterruptas (as diretrizes do Guinness não o exigem), mas isso não comprometeu o resultado final, pois foi um obstáculo adicional acrescentado pelo piloto ansioso por repetir exactamente a prova de 1979.

A certeza do resultado chegou nos últimos dias, depois de toda a documentação exigida ter sido enviada a Londres para verificação e aprovação, caso contrário não é possível utilizar o nome “recorde do Guinness”.

Este resultado celebra não só a determinação e paixão de quem permaneceu no selim durante um dia inteiro, mas também o encanto intemporal da Vespa, um ícone que sobrevive ao tempo e à moda e continua a inspirar desafios e sonhos.