Em 2015 a Yamaha introduziu a MT-09 Tracer, com o coração da MT-09, apresentada ao mercado em 2013. Os anos passaram, e como o vinho do Porto, a Tracer foi envelhecendo, e muito bem. Sem medo de se assumir como uma verdadeira Sport Touring, esta moto é agora também uma montra tecnológica para a Yamaha e um poço de inovação, sem perder o seu ADN, subindo a parada para as concorrentes. Fomos até à Eslovénia, Austria e Itália, para realizar mais de 300 km aos comandos da Tracer 9GT+, e não foram só as paisagens que nos fizerem querer voltar.
Por: João Fragoso
Fotos: Yamaha
A filosofia da Yamaha mantém-se mais vocacionada para o lado desportivo nesta Tracer 9GT+, quando comparado com as concorrentes mais diretas, ainda que esta moto não deixe de ser claramente pensada para viajar. Mas para viajar depressa. Em 2025 o foco de desenvolvimento esteve em três pontos: amadurecer o conjunto; equipar tecnologia de ponta e oferecer detalhes para tornar esta Tracer 9GT+ uma moto premium. Podemos dizer que a marca japonesa acertou em quase tudo com distinção.

Belo cantar a três
Mesmo com todo o alarido à volta da tecnologia que equipa esta moto, é impossível não começar por falar do motor CP3. Com provas mais do que dadas, este tricilíndrico em linha da casa de Iwata com tecnologia crossplane, continua a provar as suas capacidades em diversos modelos da Yamaha. Com 120 cv às 10.000 rpm nesta Tracer 9GT+, o CP3 tem agora uma IMU derivada da R1, com controlo de deslizamento da traseira, funcionando em conjunto com a embraiagem deslizante. Nesta versão, temos também a caixa Y-AMT como única opção. Caixa essa que foi também melhorada, comparativamente aos outros modelos que equipa na gama da marca japonesa, tendo agora menos atritos internos e uma gestão eletrónica mais eficaz. A verdade é que os dois modos automáticos (D e D+) funcionam bastante bem numa condução mais relaxada, sendo que o D+ está mais vocacionado para regimes mais elevados. Contudo, se queremos mesmo aplicar-nos na condução desta moto e explorar o lado desportivo da mesma, é no modo manual, com a utilização das patilhas do lado esquerdo do guiador que vamos retirar todo o potencial dos 120 cv. Apesar das normas EURO5+ introduzirem as típicas vibrações numa faixa intermédia de rotação, o motor continua bastante linear e com muita alma. E o som… Bem, é uma sinfonia praticamente perfeita para os nossos ouvidos. Não sabemos, mas especulando, diríamos que a Yamaha utilizou a sua experiência no mundo da música para nos brindar com um som de admissão que nos faz sempre querer rodar um pouco mais o punho direito, e deixar as rotações subir infinitamente. Isto torna a experiência de condução muito mais absorvente, deixando sempre vontade de explorar o lado desportivo desta moto e do motor. O mais importante é que a Tracer 9 e o CP3 continuam a ser uma combinação muito bem conseguida, e apesar de todas as restrições, este bloco mantém o seu carácter e capacidade de nos fazer sorrir em toda a faixa de rotação.
Ciclística aprimorada
A receita mágica para 2025 foi adicionar pequenas melhorias em diversos departamentos, oferecendo grandes benefícios no final. A revisão do quadro e sub-quadro, juntamente com a suspensão semi-ativa KYB, tonaram a Tracer 9GT+ mais estável e previsível em todos os ritmos a que circulámos. Mas houve um ponto especialmente notório nestas melhorias. A suspensão está agora mais eficaz a lidar com as pequenas irregularidades e mau piso – principalmente no modo A2, mais suave – mantendo a sua eficácia a ritmos mais aplicados, com o modo A1, um pouco mais firme, mas mais adequado a uma condução mais desportiva. Os modos de suspensão alteram quando alteramos também os mapas de motor, que podem ser personalizados através da aplicação da Yamaha. Aplicação essa que permite também alterar diversos parâmetros da suspensão, algo que não podemos fazer na moto devido exatamente a esta enorme complexidade, segundo os engenheiros de Iwata. Sem perder o seu carácter desportivo, a Tracer está mais amigável e confortável para condutor e passageiro em velocidades mais tranquilas e por estradas que não estejam bem tratadas. A travagem continua muito eficaz, com dois discos de 298 mm na dianteira e um disco de 267 mm atrás, com um sistema combinado, com ajuda eletrónica, que “força” um pouco mais a travagem em caso de detetar que nos estamos a aproximar de um objeto depressa demais. Em 90% das situações, a leitura do radar dianteiro foi correta, mas passámos por situações onde estávamos simplesmente a desfrutar de uma entrada em curva mais aplicada e a Tracer assumiu que não teríamos capacidade de parar, acionando o travão traseiro para nos avisar que havia uma situação potencialmente perigosa. Este acionamento é bastante rápido e apenas uma chamada de atenção, uma vez que a moto não vai parar por nós, vai apenas fornecer este aviso no caso de não estarmos a travar, e vai travar um pouco mais quando vamos com a mão na manete ou pedal direito. Ciclísticamente a Tracer 9GT+ herda o que de bom havia na geração passada (que era muito) e consegue ainda aprimorar diversos pontos, como os referidos, ou mesmo as jantes forjadas, que no seu conjunto retiram 500g à moto – um valor residual, que pode fazer a diferença no somatório, principalmente quando se localiza num local tão importante como as rodas. Os pneus que equipam estas jantes foram também pensados propositadamente para esta moto, sendo estes os Bridgestone T32, com excelente aderência nas mais diversas condições (chegámos a apanhar chuva e alguma neve) e um aquecimento muito rápido.
Exponte máximo da tecnologia
Quando vimos as primeiras imagens da nova Tracer 9, percebemos que o desenho da dianteira tinha sido alterado. Apesar de manter os faróis superiores bastante característicos, há uns novos faróis Matrix – os primeiros de sempre a equipar uma moto – capazes de se ajustar ao ambiente que nos rodeia, graças a uma câmara infravermelhos, que deteta também carros ou motos que se desloquem na nossa direção. Este sistema oferece, não só, um visual bem distinto à Tracer, como também uma iluminação com mais de 150m de alcance. Infelizmente não o conseguimos testar, por termos circulado apenas durante o dia, mas teremos oportunidade de o fazer. Para além desta novidade absoluta no mundo das duas rodas, a Yamaha equipou a nova Tracer 9GT+ com radar dianteiro e traseiro, permitindo assim que a moto tenha deteção de ângulos mortos nos retrovisores. O radar também possibilita a existência do cruise control adaptativo – até aos 160 km/h – agora melhorado para acelerações e travagens mais suaves, algo que conseguimos confirmar. Mais suave estão também as paragens da moto em subidas, com o sistema de travagem em subida que funciona bem e permite maior descanso quando levamos passageiro ou a moto com mais carga nas malas laterais de origem. Malas essas que agora contam com um sistema sem chave. A abertura é agora possível de ser realizada sem a utilização da chave devido ao sistema Keyless, integrado também nas malas, podendo ser colocado na top case original da marca – esta opcional. O vidro dianteiro tem agora ajuste eletrónico de 100mm e oferece boa proteção, mesmo na posição mais baixa. Para nosso conforto temos incluídos punhos aquecidos de origem, e assentos aquecidos como opcional. A maioria destes apetrechos tecnológicos podem ser controlados através do novo painel TFT de 7” que conta com três temas diferentes e uma navegação muito simples graças ao joystick de 5 eixos, introduzido inicialmente pela Yamaha na última geração da Nike GT. O sistema Garmin integrado no TFT é agora grátis e permite a visualização de mapas durante a navegação, tornando as viagens mais simples e confortáveis. Mais uma vez neste capítulo, a marca japonesa introduziu melhorias importantes para o conforto e facilidade de condução, com tecnologia inovadora e que, acima de tudo, funciona muito bem em nosso proveito.
Cada vez mais perto do 10
A Yamaha continua a apostar forte no segmento Sport Touring e a Tracer 9GT + é claramente a jóia da coroa da marca japonesa. Em 2025 há três versões: Tracer 9, 9GT e 9GT +. E há um pormenor importante. Da versão mais básica até à última referida, há um diferencial de 6.500€, o que representa um valor muito elevado. Contudo, a verdade é que esta versão GT +, não só vem equipada com a caixa Y-AMT, como oferece muita tecnologia que não encontramos na versão base, nomeadamente as suspensões eletrónicas. O diferencial será justificado para uns, não para outros, mas o que podemos dizer é que a Tracer 9GT + está uma moto muito completa e cada evolução deste modelo tem vindo o complementar falhas existentes nas anteriores versões. O pendor mantém-se claramente para o lado desportivo, com uma ergonomia desenhada para sentirmos tudo o que se passa com a dianteira, sem esquecer o conforto e os muitos quilómetros que é suposto fazermos sem sair de cima desta moto.
Conclusão
A Tracer 9GT + representa, não só, o pináculo tecnológico da marca, mas em grande parte de um segmento que tem vindo a ganhar novamente importância. O CP3 nunca desilude e a imensa alma a partir das 6.500 rpm tornam esta turística muito rápida e eficaz por onde quer que passe. O equilíbrio entre quadro e motor é fantástico e as ajudas eletrónicas cumprem o seu propósito de nos ajudar. Uma verdadeira turística desportiva, com requinte e carácter, que atrai muitos olhares por onde passa.