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História – As motos de Lawrence da Arábia

By on 18 Dezembro, 2018

Arqueólogo, militar, político, historiador, escritor, filósofo, a faceta motociclista de T. E. Lawrence, mais conhecido por Lawrence da Arábia, quase poderia passar despercebida. No entanto, a constante procura de adrenalina fez com que as motos tivessem um papel central na vida, e em última análise, na morte, da lenda da guerra da independência árabe.

Thomas Edward Lawrence nasceu no país de Gales em 1888, o segundo de cinco filhos dum Baronete, Sir Thomas Chapman. Quando a família mudou para Oxford, Lawrence aproveitou para frequentar a cadeira de História no Jesus College, de onde saiu em 1910 com uma Licenciatura com Honras, sendo a tese sobre os castelos dos cruzados no Médio Oriente. Para pesquisar essa tese, passou longos meses na Palestina e Síria, percorrendo a região e tornando-se familiar com a cultura e língua árabes.

Fascinado pela história e arqueologia locais, emprega-se como assistente numa das escavações do Museu Britânico na cidade Hitita de Carchemish, no rio Eufrates. Na sua posição estava encarregado dos trabalhadores árabes, e assim se torna fluente na língua, além de ganhar valiosa experiência em motivá-los a trabalhar em equipa, que viria a ser muito útil mais tarde.

T. E. Lawrence em uniforme militar

A Grande Guerra de 14-18

Com o advento da I Guerra Mundial, Lawrence acaba por ser destacado para o Departamento de Inteligência Militar no Cairo, tornando-se um especialista nos movimentos nacionalistas árabes nas províncias turcas que hoje são Israel, a Síria, Jordânia e Líbano.

Após um memorável encontro com o Rei Faisal da Arábia Saudita, que se revoltara contra os Turcos, acaba por ser nomeado Oficial de Ligação. Junto dos Árabes, Lawrence desenvolveu estratégias para enfraquecer o invasor Turco com tácticas de guerrilha, conseguindo, com forças teoricamente obsoletas, manter em alerta grandes destacamentos turcos. Depois, a revolta estendeu-se para o Norte, na direcção de Damasco, capital da Síria, para o que foi necessário fazer uma arrojada travessia do deserto e capturar a guarnição Turca de Akaba no Mar Vermelho. A 10 de Julho de 1917, Lawrence chega ao Cairo, exausto, maltrapilho e coberto de poeira, para consternação das altas patentes britânicas, tendo levado 4 dias a atravessar o deserto do Sinai de camelo, considerado impossível na altura.

Tinha tomado Akaba de surpresa com meia dúzia de tribos locais. Nesse dia, começou a sua lenda e Lawrence acabou por se tornar o elemento chave de ligação entre as forças do general Allenby e o exército de Faisal. Anos depois, o próprio Lawrence registaria estes factos num dos seus livros, “The seven pillars of wisdom”, ou “Os sete pilares do conhecimento” e sabemos, por documentos militares revelados posteriormente, que o seu papel fulcral nos acontecimentos da época é minimizado no livro.

O armistício

Na conferência de paz de Paris, em 1919, Lawrence senta-se ao lado de Faisal como parte da delegação Britânica. Nesta fase, Lawrence aproveitou a sua relativa fama, após as campanhas do deserto, para ganhar popularidade para a causa da independência árabe. Porém, tanto a Inglaterra como a França têm ambições coloniais na região, que acaba por ser nomeada um território controlado pelos dois países- e Lawrence, desiludido por aquilo que considera um volte-face, abandona a política.

A relação de Lawrence com a Palestina não está, no entanto, acabada. Winston Churchill, então Secretário de Estado das Colónias, convence-o, em vista das revoltas no Iraque contra a administração Britânica (e estamos a falar de 1920!) a ingressar na diplomacia, com o resultado da formação do Iraque e Jordânia, que, embora teoricamente sob tutela Britânica, passaram a deter considerável autonomia como estados.

Porém, os anos da guerra, o seu desdenho de politiquices e o esforço de escrever o seu livro duas vezes (o primeiro manuscrito fora roubado em 1919 e perdido) deixaram Lawrence transtornado, e ele anseia por paz longe das intrigas da diplomacia. De volta a Oxford, decerto habituado a viver com um intenso grau de adrenalina, “Ned”, como era alcunhado pelos ingleses, (os Árabes chamavam-lhe El Aurens, o tigre do deserto!), entretanto promovido a Major, desloca-se de moto.

Lawrence com George Brough, criador da SS100

Duma forma ou doutra, acaba por fazer amizade com George Brough, criador e fabricante da espantosa artesanal Brough Superior. O seu modelo SS100, ainda hoje uma moto rápida, cujo motor JAP desenvolvia mais de 45 cavalos, com duplo veio de excêntricos nas cabeças dos seus 2 cilindros em V de 988cc, pesava apenas 180 Kg e atingia mais de 170 Km/h, sendo considerada por muito tempo o “Rolls Royce” das motos. Brough acabaria por fazer máquinas especialmente para Lawrence, o que não era raro, pois fazia questão de dar serviço pessoal aos seus clientes fieis. Ao longo dos anos, Lawrence teria várias destas máquinas, uma das quais pelo menos está hoje nas mãos dum coleccionador. São extremamente valiosas, pois fabricaram-se apenas cerca de 370.

Irrequieto

Lawrence adorava a leveza e velocidade da máquina, que lhe permitiria escapar a tudo, num desafio individual contra os elementos, como o que tinha vivido nas campanhas do deserto. Ansiando por anonimato, deixa o exército e volta a alistar-se na RAF com o nome suposto de John Hume Ross. Porém, é descoberto e demitido. Tenta de novo, com ajuda de amigos influentes, e desta vez vai para a Cavalaria como Thomas Edward Shaw. Colocado no condado de Dorset, permanece até 1925 numa casa de campo alugada em Clouds Hill. Aproveita a calma relativa para publicar uma edição de luxo do seu livro, de lombada a ouro e de tal modo elaborada que custa três vezes mais a produzir que o preço de venda! Porém, outra edição popular com o título “Revolta no Deserto” é um sucesso e equilibra as coisas.

De facto, Lawrence teria ficado um homem rico se não tivesse cedido as “royalties” a uma instituição de caridade. Duma forma ou doutra, consegue ser transferido para a RAF de novo e é colocado na India, onde escreve outro livro, sobre a vida na Força Aérea. Por alturas de 1931, está de novo em Inglaterra numa unidade de hidroaviões. Após presenciar um grave acidente, em que as antiquadas lanchas de salvamento da altura não chegam a tempo de efectuar um salvamento, começa a desenvolver para a RAF uma versão rápida de casco laminado, que anos depois, salvaria vidas sem conta durante a 2ª Guerra Mundial.

No entanto, T. E. Lawrence nunca chegaria a testemunhar esse sucesso. Reformado para a sua casa de Clouds Hill, tenciona resumir as suas actividades de editor. Porém, a caminho da cidade uma manhã, sofre um acidente na sua última Brough Superior, de matrícula GW2275, ao desviar-se de dois adolescentes que pedalavam pela pacata estrada rural. Nesses dias não se usava capacete e o crânio de Lawrence embate violentamente na estrada. Apesar da intervenção do eminente cirurgião Sir Hugh Cairns, pioneiro da neuro-cirurgia, não mais voltaria a acordar do severo traumatismo craniano, que o faz perder a luta pela vida em Maio de 1935, aos 47 anos.

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