Técnica: ‘Barbatanas’ aerodinâmicas – marketing ou evolução real?
Apêndices aerodinâmicos, defletores, asas, chame-lhes o que quiser, o fato é que as ‘barbatanas’ são um tema muito debatido. Nos últimos tempos mudaram de forma e tendem a ser menos complicados…
No últimos dez anos a tecnologia fez grandes avanços e a eletrónica invadiu o mundo das duas rodas, de tal forma que até hoje as scooters têm controlo de tração. Muitos argumentam que tais evoluções não seriam necessárias, ponto em que discordamos em absoluto, visto que a eletrónica não só trouxe um extra de segurança para a condução, como na própria extração de um rendimento da moto mais equilibrado, tendo em conta a maior ou menor experiência de quem a conduz. Porém, o tema que hoje analisamos é a aerodinâmica, e a sua evolução nos últimos tempos, que inclusivamente já atinge motos da categoria maxi-naked, como é o caso recente da Aprilia Tuono. Será isto simples manobras de marketing, ou desenvolvimento técnico?
Nos últimos 2-3 anos, a aerodinâmica conheceu um papel cada vez mais dominante no design da moto. Atualmente, praticamente todas as superdesportivas (as exceções são cada vez mais raras!) já são vendidas de série com apêndices aerodinâmicos volumosos, vulgarmente designados de “barbatanas”. O design dessas aletas resulta de apurados estudos em túnel de vento e, teoricamente, servem para aumentar a carga na frente, com todas as vantagens inerentes.
EVOLUÇÃO OU APENAS MARKETING?
Não queremos colocar aqui um tratado de engenharia, com fórmulas e gráficos… Vamos apenas nos limitar a algumas considerações “conscientes”. Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que as designadas aletas aerodinâmicas (nome correcto) são desenvolvidas nos campos de corrida da MotoGP, onde cada elemento adicional tem a sua própria função precisa. O mesmo tipo de know-how, é então transferido para os modelos de série, mas se acha que esses apêndices não têm qualquer efeito na estrada, são apenas ‘truques’ de marketing, está profundamente errado. Para se ter uma ideia, os apêndices frontais montados na última Ducati Panigale V4, geram por si só 9 kg de carga adicional a 150 km/h, 30 kg a 270 km/h… São os testes meticulosos de túnel de vento que acabam por ditar a sua forma e representam um dos maiores desafios para os engenheiros – basta comparar os amplos ‘bigodes’ da Superleggera V4 com as mais recentes soluções da Panigale V4, para se perceber que a evolução não pára. Há milhares de desafios a serem resolvidos pelos especialistas em aerodinâmica: cavitação, condensação, das distâncias de passagem do fluxo de ar.
ÚTEIS NAS NAKED?
Será um erro, pensar-se que as barbatanas continuarão a ser a prerrogativa das superdesportivas. Durante uma reunião no EICMA 2019, Yuzuru Ishikawa (Líder do Projeto Honda há muito tempo) revelou alguns aspetos interessantes sobre as ‘barbatanas’ ou aletas. “Projetamos os apêndices aerodinâmicos com dois objetivos: o primeiro foi reduzir a tendência para evitar o erguer da roda dianteira graças à carga adicional. Uma vantagem importante nas corridas, pois diminuído essa tendência e com a roda no solo aumenta consideravelmente a aceleração. Em segundo lugar, desenvolvemos esse apêndice para levá-los a outros modelos também. A carga adicional dá mais sensação com a frente. Uma naked, por exemplo, poderia ser muito favorecida pelo uso de asas. Certamente serão apêndices menores do que os usados na CBR, mas ainda assim terão a sua utilidade”.
MAIS REDUZIDAS E AFILADAS
Uma última consideração, para vos dizer que, a partir das primeiras versões de ‘barbatanas’, largas e volumosas como na Superleggera V4, estamos gradualmente a passar para apêndices cada vez mais afilados e embutidos na carenagem. Certamente é uma escolha também desejada pelos designers, mas não só. O fato de um apêndice se desenvolver verticalmente e não horizontalmente não altera o resultado: mais carga é gerada na frente, em benefício de sentir e segurar. Ma raramente designers e técnicos estão de acordo neste ponto.
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