Comparativo Scooters Crossover: Honda ADV 350 versus Kymco DTX 350

By on 5 Setembro, 2022

Por Luis Morales – Solomoto

Tendo chegado um momento em que todos os modelos no mercado se parecem entre si, eis que um sopro de ar fresco acaba por chegar com estes dois modelos de estilo Crossover, ou SUV de duas rodas, nomenclatura adoptada do sector automóvel que classifica aqueles que têm uma capacidade mais abrangente em termos de utilização. No entanto estes dois modelos não se comprometem com grandes aventuras fora de estrada mas sim o levar mais além a sua polivalência de utilização.  E além do mais podermos quebrar com o tradicional pela sua originalidade e novas capacidades do seu desempenho.

Os dois modelos que testámos neste comparativo, a Honda ADV 350 e a Kymco DTX 350, não são por isso verdadeiras scooters de todo o terreno.  Estaríamos a enganar-vos se publicássemos imagens de grandes saltos em terra com as mesmas ou derrapagens em aceleração levantando pó e terra num qualquer caminho fora de estrada em que as puséssemos à prova.

Da mesma forma que um SUV não é um verdadeiro Todo-o-Terreno, também estas scooters adoptam o conceito de polivalência que nos permite enfrentar estradas de asfalto em mau estado ou estradões de terra com alguma descontração.

É bom recordarmos que este conceito de scooters SUV não foi inventado nem pela Honda nem pela Kymco com estes dois modelos. Todos nos recordamos de há cerca de duas décadas atrás do sucesso que foram, no segmento das scooters de baixa cilindrada, modelos como as Piaggio e Gilera Typhoon, as Peugeot Treker, as Aprilia Rally e as Hondas SXR, para além daquela que marcou o estilo reconhecido até aos dias de hoje, a Yamaha BW. Todos estes modelos tiveram um enorme sucesso comercial e apaixonaram todo um público jovem à época pela sua estética rebelde e a pretensa capacidade de enfrentar qualquer desafio graças a suspensões de maior curso e rodas, algumas com tacos, de maior secção ( do tipo fat tyre). No entanto eram essencialmente motos citadinas e de utilização basicamente urbana.

2021 Honda X-ADV 750

Porém o conceito foi sendo esquecido ao longo dos anos até desaparecer, simplesmente porque a moda passou, até ao dia que a Honda decidiu lançar a sua X-ADV, uma scooter do tipo Trail, moto que alcançou um enorme sucesso comercial e que fez com que a marca japonesa tenha decidido fazer crescer a sua oferta dentro do conceito com o lançamento da sua nova ADV 350.  Para tal partiu do seu motor sSP+ de 330cc e 29 CV, o mesmo que monta a sua scooter GT Forza 350, um motor suave e sem vibrações, de entrega linear e redonda, que adopta um excelente pack de ajudas electrónicas, que inclui controle de binário, ajustável em dois níveis e também poder desligado.

Pelo seu lado a Kymco decidiu capitalizar no sucesso do seu modelo Super Dink e transformá-lo por completo, dando-lhe inclusivamente uma nova denominação e rompendo totalmente com o seu estilo anterior, adotando uma nova estética e apostando na maior polivalência da sua utilização através da introdução de algumas evoluções técnicas.

A Ergonomia

Sempre quisemos colocar frente a frente estes dois modelos desde que soubemos da sua existência, sobretudo para percebermos melhor até onde nos leva o conceito e quais os limites desta nova tendência. O primeiro aspecto que analisámos foi obviamente a sua ergonomia e estética. Por exemplo na nova Honda ADV350 sentimo-nos menos descontraídos do que na sua irmã GT, a Forza 350, sendo esta mais compacta e com uma ergonomia que te faz sentir mais encaixado na moto e numa posição algo mais natural.  A ADV monta um guiador largo e aberto, pronto para dar ordens à sua longa e robusta suspensão dianteira. Na Kymco DTX 350 o guiador está colocado mais perto do condutor do que na antecessora Super Dink, certamente para garantir um maior controle, realidade que combina com um assento mais baixo e um desenho mais ergonómico e confortável.

Colocar e tirar os dois modelos do descanso central é uma manobra bastante fácil de executar e o descanso lateral também se encontra numa posição de fácil acesso em qualquer dos modelos, pormenores que são consequência do conhecimento profundo que os dois fabricantes têm neste segmento de motos.

Mas precisamente por isso surpreende-nos que a plataforma da scooter Kymco seja tão larga, realidade que nos obriga a abrir demasiado as pernas dificultando o chegar com os pés ao chão. A mesma situação acontece com a ADV 350 se colocarmos as proteções tubulares opcionais. De resto a posição de condução na Kymco DTX é mais natural e confortável do que na Honda ADV.

Parte das sensações de desconforto da ADV provêm da sua frente algo minimalista, com uma carroceria algo justa e curta na sua parte inferior, expondo a excelente suspensão invertida da Showa e um guiador de secção tubular.  Também o bem estudado écran dianteiro é regulável em quatro alturas e protege de forma eficaz, inclusivamente no caso de utilizadores de estatura mais alta.

A Kymco oferece como opção um écran mais alto, pois o original é mais baixo que aqueles que normalmente montam as scooters GT. O seu assento é mais amplo do que o da ADV embora ambos bastante confortáveis. Se montarmos as opções de Topcase nos dois modelos obtemos no caso da Honda um apoio lombar eficaz e ergonómico para o pendura.  No caso da Honda a fechadura funciona eletronicamente a partir do comando do sistema Keyless enquanto que no caso da Kymco a fechadura da Topcase é manual. A Kymco também é acionada por um sistema Keyless embora o mesmo não permita abrir a Topcase.

Equipamento : Luzes e sombras

Espaço para dois capacetes integrais na Kymco DTX 350

Existem poucas diferenças em termos de espaço disponível debaixo do assento, no entanto há que destacar na Kymco a colocação de uma célula fotovoltaica com luz de cortesia e amortecedor hidráulico na abertura do banco. As duas dispõem de porta-luvas na frente do lado esquerdo com tomadas para carregamento de equipamento electrónico, embora ambas não tenham fechadura eletromagnética.  A Kymco tem ainda uma segunda tomada de ligação no centro do guiador. A Honda monta proteções de mãos de origem enquanto que na Kymco são opcionais. De destacar que estas proteções protegem ainda os punhos em caso de caída e são extremamente úteis para fazer proteger do frio e da chuva no inverno. A Honda oferece ainda a possibilidade de montar punhos aquecidos.

Painel Kymco DTX 350

Continuando a falar de equipamento e conforto, a instrumentação nos dois modelos é bastante completa. No caso da Kymco DTX 350 apreciamos o novo painel a cores de grande dimensão e legibilidade, com os comandos para navegarmos no mesmo situados no punho direito. Porém não inclui informação dos consumos que entendemos ser imprescindível nesta categoria de scooters. Também estranhamos a falta de conectividade via Bluetooth amplamente adoptada pela maioria das marcas neste segmento.

Painel Honda ADV 350

No caso da Honda podemos contar com ligação via Bluetooth  e com um sistema de reconhecimento de voz que nos permite activar as principais funções de chamadas. A gestão de toda a informação faz-se a partir do punho esquerdo, onde se concentram grande parte dos comutadores, realidade que de início nos provoca alguma confusão por exemplo à hora de acionarmos os intermitentes. Requer hábito e tempo. Aquilo que não gostámos foi que a maior parte da informação é fornecida em dígitos demasiado pequenos, realidade que dificulta enormemente a sua leitura.

Diferenças em andamento

Já a rodar encontramos de imediato diferenças claras entre as duas scooters, fruto essencialmente do carácter que cada fabricante decidiu atribuir aos seus modelos.  Por exemplo, em estradas em mau estado constatamos a boa afinação das suspensões da Kymco , tornando a condução confortável e absorvente, sendo que uma condução mais desportiva em asfalto de boa qualidade revela-se menos precisa. No entanto essa sensação desaparece de imediato assim que entramos em curva, desenhando trajectórias com precisão, certamente graças a uma geometria bem concebida e ao seu baixo centro de gravidade. O facto de montar roda de 14” na dianteira com pneu de estilo Fat, oferece menos precisão do que um pneu de perfil mais estradista, como era o caso daqueles que montava a sua antecessora Super Dink. Apesar da dimensão ser idêntica os pneus da DTX têm um perfil mais esculpido e mais redondo, para garantirem também uma utilização mais polivalente.

Por outro lado a Honda ADV 350 parece de início mais nervosa, mas é uma sensação que deixamos de sentir se deixarmos que a moto trabalhe por nós, ou seja, soltando um pouco a pressão sobre o guiador sempre que rodamos sobre piso degradado. É uma scooter extremamente compacta para ser uma 350, com uma distância ao solo superior à habitual no seu segmento, graças a um maior curso das suas suspensões.  Ágil e nervosa, as suas suspensões adaptam-se surpreendentemente às imperfeições que possam surgir a meio de uma curva, garantindo um bom equilíbrio, embora passando a sensação de alguma firmeza excessiva.

Os dois motores respondem de forma semelhante, e se por um lado o motor da Kymco tem um curso algo maior e um design mais veterano, não é de forma alguma “preguiçoso”, recuperando e subindo de regime de forma rápida, penalizado apenas pela sonoridade excessiva nos altos regimes e alguma vibração.

O motor da Honda ADV é claramente mais suave nesse aspecto, inclusivamente a frio.  Os dois motores evoluem bem garantindo velocidades de cruzeiro em auto-estrada dentro dos limites estabelecidos mas com reserva de binário e potência para em qualquer momento podermos ultrapassar as velocidades permitidas por lei e assegurarmos por exemplo uma ultrapassagem mais rápida. O motor da Kymco consome umas décimas mais do que o motor da Honda, porém a maior capacidade de depósito da Kymco faz com que as suas autonomias sejam idênticas.

Em cidade comportam-se praticamente como uma 125, necessitando apenas de um pouco mais de esforço. Gostámos neste caso da maior compacidade da Honda, sobretudo ao nível da sua plataforma.  Os sistemas de control de tração são idênticos e funcionam na perfeição em ambas as scooters. No entanto, os sistemas de ABS não são desligáveis pelo que condicionam a condução em terra, sobretudo na roda traseira faz falta podermos bloquear a mesma em condução OffRoad de forma a garantir um maior controle e equilíbrio do conjunto.

 As duas scooters têm obviamente um sistema de motor suspenso e integrado no braço oscilante pelo que a repartição de pesos coloca uma maior percentagem do mesmo na roda traseira.  Realidade que faz com que seja muito fácil bloquear a roda traseira fora de estrada e fazer com que o ABS intervenha mais regularmente. Pode salvar-nos de uma queda no caso de não ter sido intencional mas numa condução experiente fora de estrada o derrapar da roda traseira é fundamental para controlar a trajectória da moto. Em ambas o ABS traseiro não é desligável, razão pela qual devemos circular com maior precaução e de forma mais controlada. Fica claro que qualquer dos dois modelos apenas permitem um offroad ligeiro por estradões pouco acidentados.

Características principais da Honda ADV 350

Especificações | ADV350 | Big Scooter | Novo Design de Aventura |  Sofisticada Praticidade
Honda ADV 350 2022

Guiador largo montado sobre uma robusta suspensão invertida com dupla mesa, quase como se fosse uma MaxiTrail. Realidade que estabelece uma clara declaração de intenções para uma scooter que não pretende ser uma verdadeira moto de todo-o-terreno, mas sim facilitar a condução em qualquer tipo de estrada, mesmo quando o asfalto termina. O seu motor, herdado da irmã Forza 350,  tem um excelente desempenho em qualquer situação, garantindo ainda um nível de conforto muito alto.  Uma moto luxuosa mas sem excessos, desportiva sem ser extrema. Uma scooter que nos oferece algo mais do que uma GT convencional, tal como a sua irmã Forza.

No punho esquerdo encontramos o selector de controle de binário assim como o impactante selector do ordenador de bordo, com informação muito completa e intuitiva de obter. O sistema de ajuste do écran dianteiro em 4 posições diferentes só se pode realizar com a moto parada por questões de segurança e sem ser necessário utilizar ferramentas especificas. A excelente suspensão invertida da Showa, de longo curso, marca a diferença em termos de comportamento e também em termos estéticos, reforçando uma imagem que se identifica com um estilo OffRoad.

Painel de informação LCD de contraste invertido e com muita informação embora alguma com dígitos demasiado pequenos. Dispõe de conectividade via Bluetooth para emparelhamento de smartphone e função de controle de voz. Conta com botão específico para abrir o assento onde encontramos espaço suficiente para dois capacetes e um separador para ajuste de carga. Sistema de iluminação full LED com iluminação permanente nos intermitentes dianteiros e sistema de aviso de travagem brusca com o acender intermitente de ambos os piscas traseiros.

PVP 6.450 euros Potência 29,2 CV, Consumo 3,4 L/100 Km Autonomia 344 km Peso 186 Kg Altura do assento 795mm

MOTO+

  • Excelente tacto e precisão
  • Ciclística de topo
  • Motor silencioso e sem vibrações

MOTO –

  • Compartimento sem fechadura
  • Ausência de segunda tomada USB exterior
  • Pré-carga dos amortecedores não ajustável

Características principais da Kymco  DTX 350

Kymco DTX 350 2022

O fabricante de Taiwan decidiu aderir à nova tendência com uma aposta que poderia ser algo arriscada, pois a nova DTX vem substituir um modelo que era um sucesso de vendas em toda a Europa, a Super Dink.  No entanto a sua estratégia é a de oferecer uma maior capacidade de utilização, conseguida através de uma nova estética e melhoramentos técnicos, novas rodas e suspensões, que garantem maior conforto e versatilidade do que o modelo anterior. Uma série de extras opcionais, como as proteções laterais e as proteções de mãos, permitem reforçar a imagem e as capacidades do modelo para maiores aventuras.

Estética agressiva, distinta e elegante na dianteira mas algo estranha na traseira, embora perfeitamente identificável. Em termos de equipamento contamos com duas tomadas USB de corrente, uma das quais dentro do compartimento na frente da moto onde podemos guardar um telemóvel, e a segunda numa tampa no centro do guiador.  Em combinação com as proteções laterais ao estilo moto Trail a Kymco oferece ainda como opção umas plataformas em alumínio.

Conta com um painel de informação de grande dimensão e de leitura clara e fácil. Não tem ordenador de bordo nem possibilidade de emparelhamento com smartphone. Acesso ao interior do assento por controle remoto, rodando o botão do sistema keyless, com capacidade para dois capacetes integrais e conta com luz de cortesia no seu interior. Iluminação é também full LED e inclui sistema de luzes diurnas.

PVP 5.599 euros Potência 28,2 CV Consumo 3,7 l /100 Km Autonomia 338 Kms Peso 179 Kg Altura do assento 800 mm

MOTO+

  • Estética atractiva
  • Estabilidade e Conforto elevado
  • Preço
  • Fiabilidade
  • Controle de tração

MOTO-

  • Largura da plataforma
  • Curso e firmeza das suspensões

E O GANHADOR DESTE COMPARATIVO É… A Honda ADV 350

A Honda ADV 350 ganha por pontos na contagem final, sobretudo em temas relacionados com a acabamentos, qualidade dos materiais, desempenho do seu motor, demonstrando maior equilíbrio de todo o conjunto, sobretudo em condução mais agressiva ou desportiva, graças à maior firmeza e maior curso das suas suspensões.

Ficha técnica Comparativa Honda ADV 350 vs Kymco DTX 350
Honda versus Kymco
MotorMonocilíndrico 4T LC SOHC 4V – Monocilíndrico 4T LC SOHC 4V
Diâmetro x curso77,0 x 70,8 mm – 75,3 x 72,0 mm
Cilindrada330 c.c.- 321 c.c.
AlimentaçãoInjecção electrónica
ArranqueMotor eléctrico
IgniçãoElectrónica CDI – Electrónica TCI
CaixaVariador automático CVT
EmbraiagemCentrífuga a seco
TransmissãoCorreia trapezoidal
Tipo chassisEstructura de tubo de aço
Geometría direção26,5º e 90 mm de avanço – 28º e 147 mm de avançe
Braço oscilanteGrupo motopropulsor oscilante
Suspensão dianteira– Forqueta com 37 mm de diámetro e 125 mm de curso – Forqueta de 37 mm de diámetro e 110 mm curso
Suspensão posterior– Dois amortecedores hidráulicos, 130 mm de curso – Dois amortecdores ajustáveis em pré-carga, 100 mm de curso
Travão dianteiro– Disco de 256 mm e pinça de 2 pistons, ABS – Disco de 260 mm e pinça de 3 pistons, ABS
Travão traseiro– Disco de 240 mm, pinça de um piston, ABS  – Disco de 220 mm, pinça de un piston, ABS
Rodas– 120/70 x 15” y 150/70 x 14” – 120 /80 x 14” y 150/70 x 13”
Comprimento total2.200 mm – 2.165 mm
Altura máxima1.295 mm – 1.290 mm
Largura máxima895 mm – 780 mm
Distância entre eixos1.520 mm – 1.550 mm
Altura assento795 mm – 800 mm
Peso ordem  de marcha186 kg – 179 kg
The Winner …. Honda ADV 350
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