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A melhor moto Adventure

By on 29 Outubro, 2020

 Entrevista de Pedro Alpiarça

 

Três visões diferentes sobre o eterno tema. Três amigos nossos que tratam o fora de estrada por tu.

Temos uma maxi-trail best-seller de vendas globais (R1200GS) pilotada por Luis Matias, uma Rally-Raid (KTM 690 Enduro R) pilotada por Bruno Baptista, e uma Endurista (KTM 500 EXC-F) pilotada por Sergio Gomes (2WheelsChannel). À luz de uma paixão comum, procurámos relatos, convicções e razões que fundamentassem as suas escolhas. O resultado não podia ser mais surpreendente..(ou não!) 

Introdução:

Luis Matias (R1200GS)

Começando pela introdução poderei dizer que sou um motard tardio. Andei de moto até aos meus vinte e poucos e só voltei a andar 20 anos depois, aos 40 e poucos. Regressei às motos com uma Piaggio X9 125cc e 2 anos mais tarde e 5000km depois senti-me preparado o grande desafio de uma moto a sério e avancei para a minha primeira BMW, uma F650, versão rally 2004. Decidi fazer o meu primeiro curso off-road num de fim de semana, na Serra de Sintra, organizado pelo piloto Bianchi Prata que foi um sucesso, em dois dias consegui aprender o que me demoraria anos em experiência, desde aí, tudo mudou, percebi que tinha um mundo fora da estrada para explorar e aventurar-me. 
Passados 2 anos e 36000km achei que era altura para o meu próximo passo, uma Big Trail, R1200GS de 2007, um verdadeiro upgrade.
Além das idas anuais a Marrocos , continuei a apostar na minha experiência off-road, participando em 2 eventos anuais,  em ambientes diferentes, em Abril com chuva e lama e em Setembro com calor, pó, pedra e areia. A experiência adquirida nesses eventos levou-me a participar na minha maior aventura, o Big Trail Challenge.
A ideia sempre foi sentir-me o mais à vontade possível na pior das circunstâncias, ou seja, estar sempre preparado para o pior e saber como reagir, seja na estrada ou fora dela. O acumulado destas experiências permitem-me aventurar-me para qualquer tipo de terreno e manter ao longo de todo o ano pneus mistos.
 Com 85000km despedi-me da de 2007 e troquei-a pela nova versão LC de 2016 e com ela já fiz 76000km continuando sempre a optar por um trilho ao lado da estrada tornando a viagem mais emotiva e seguramente mais bonita em termos paisagísticos, nomeadamente os trilhos do ACT de norte a sul do nosso país. 
Sou fã da BMW pela sua fiabilidade e segurança e sou fã das Big Trail que apesar do seu porte e peso não peca por falta de manobrabilidade e tem a força necessária para superar qualquer obstáculo, compreendo que não é o tipo de moto mais indicado para o off-road mas o facto é que vou e volto sempre o mais confortável possível. O dia ideal para mim acaba sempre na natureza a apreciar o pôr-do-sol…
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): Gosto de motas desde sempre, tive varias motas de vários estilos, desde maxi-scooter, pista , trail, maxi-trail. Gosto de mecânica e como tal mexo nas minhas motas ate onde sei. Que é suficiente para desmanchar uma mota… montar é que já não! Quando cheguei ao mundo das trail, todo um novo espectro se abriu para mim. E comecei a ver a vertente do passeio off-road algo muito aliciante. Na altura tinha uma mota muito pesada (BMW1200GSA) o que me levou a comprar a minha primeira verdadeira mota dual sport uma Suzuki DR650 que me abriu novo caminhos e mostrou-me novas amizades. Atualmente faço alguns passeios off-road, mas não prescindo das voltas grandes em alcatrão.

 

Sergio Gomes (KTM 500 EXC): No momento em que os pneus saíram do asfalto e entraram na terra, a realidade atingiu-me. Tinham sido anos à espera e naquele momento o sonho tornou-se realidade. Tinha voltado a Marrocos, mas desta vez iria vivê-lo da única maneira que tinha imaginado: do assento da minha mota e para lá do asfalto. Tudo se tornou real quando os tacos entraram na terra e comecei a sentir as montanhas do Atlas a passar por baixo. Fiquei viciado no off-road e foi assim que tudo recomeçou.

 
 

 -Qual é a tua arma eleita para as viagens de aventura?

 
Luis Matias (R1200GS): A minha arma é a preparação e a logística. Elaboro os tracks de 300-500 km diários, evitando Autoestradas optando por Nacionais e tentando sempre incluir um percurso off-road tendo como destino final um hotel, de preferência rural ou de montanha. Além disso tenho sempre a preocupação de o peso ir equilibrado e distribuído na moto, evitando grandes volumes de bagagem, quanto mais light a moto for melhor se manobra. 
 
 
 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): As viagens de aventura são aquelas que nos levam a sonhar em ir mais alem, subir o topo daquela colina, descer aquela ravina de pedra, passar o leito do rio… mas todos queremos fazer isto e terminar com um sorriso na cara, e não com aquela sensação, de não poder ver a mota à frente. E ao fim ao cabo já todos passamos por isso uma ou outra vez. Nesse sentido, não existe o melhor de dois mundos, mas existe um tipo de mota chamado Dual Sport. As Dual Sport são quanto a mim as motas ideais para viagens de aventura, a maioria consegue alias boas aptidões off-road, com capacidade de bagagem, autonomia, sistemas de navegação e manutenção relativamente simples. Claramente a minha escolha seria uma mota do género, por isso tenho atualmente a KTM 690 Enduro R. 
 
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F): Na verdade o que gosto é de explorar paisagens ainda não exploradas por outras motas, e deixar um trilho novo para traz. A KTM 500 EXC-F leva-me as estes sítios, muitos deles completamente isolados e inacessíveis de outra maneira. É por isto que a 500EXC é a minha arma eleita! De fábrica pesa pouco mais de 100kg e é abençoada com quase 60 cavalos. Como é a experiência ao comando de uma mota tão leve? Numa palavra, envolvente!
Mas algumas alterações foram necessárias para ficar como está, isto é,  preparada para viagens de aventura e expedições. Comecei por lhe mudar o assento, o que de origem é pedra! Investi então num assento da Seat Concepts, uma empresa norte americana que só faz assentos para motas. De seguida, mudei o depósito de gasolina. O de origem levava apenas 8 litros e era suficiente para os passeios com o gang aos fins de semana. No entanto, para expedições era preciso mais autonomia e então instalei um Acerbis de 15 litros. Tenho também uma bexiga de gasolina com 6 litros de capacidade que uso como back-up. Com 21 litros consigo fazer perto de 400km e foi assim que consegui atravessar o interior da Islândia, solo e sem apoio, este Verão.
Sendo uma mota de competição, a manutenção do motor é intervalada a horas em vez de quilómetros. O que significa mudar o óleo a cada 30 horas ou aproximadamente a cada m 1.500/2.000km, dependendo do terreno. A capacidade de óleo do motor é apenas de 1.2litros o que não é muito. E por isso mesmo não me faz muita diferença transportar óleo e fazer uma mudança a meio duma expedição. A outra opção teria sido uma KTM 690 Adventure R que faz mais de 10.000km com o mesmo óleo mas pesa cerca de 150kg. Então a escolha para mim foi esta, o que prefiro para uma expedição solo: uma mota leve e ágil, fácil de levantar sem ajuda, mas que precisa de manutenção mais frequente? Ou uma mota com menos manutenção mas com mais peso permanente? Light is right! right?
 
 

– Qual foi a viagem mais memorável que fizeste?

 
Luis Matias (R1200GS): A minha segunda viagem a solo a Marrocos. Tem tudo a ver com as emoções sentidas. No ano anterior tinha feito a minha primeira viagem a solo a Marrocos mas digamos que foi uma experiência e preparação para a segunda. Foi uma viagem curta, não fui com os pneus ideais o que me limitou e me encurtou a viagem. No ano seguinte já fui mais bem preparado e decidi ir mais longe do que alguma vez tinha ido, e assim foi. A sensação de liberdade e realização que tive, abaixo de Agadir onde se encontra um Marrocos completamente diferente, na costa do Oceano Atlântico, passando por praias absolutamente maravilhosas e percorrendo centenas de kms sem ver vivalma, com as dunas e o mar à vista, ficarão comigo na memória. A sensação de estar só numa terra inexplorada e quase desabitada, para mim, foi sem dúvida uma experiência marcante, sentindo a adrenalina a cada momento. Um prelúdio para as próximas viagens que serão cada mais longas, prolongadas e sempre recheadas de adrenalina.
 
 
 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): A viagem que me marcou de uma forma muito vincada, foi uma viagem que fiz com uns amigos a Marrocos. Nesta viagem de 12 dias propusemo-nos  fazer cerca de 3700 km, e fazer algumas pistas por Marrocos. Á data tínhamos todos Maxi-Trails, foi com estas que tivemos varias aventuras, em especial, no dia que fizemos o Cirque du Jaffar entre outras pistas e que, devido ao tipo de mota que tínhamos, se revelou um desafio, realmente marcante. 
 
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F): Já tinha rolado em Marrocos 4 vezes antes, com a BMW 1200GS, por alcatrão. Tinha comprado a GS nova em 2005 depois de ver o Charlie e o Ewan no Long Way Round. Desta vez, em 2015, decidi explorar o Atlas e o deserto para lá destas montanhas, em plano fora de estrada. Moro em Londres e o meu amigo Ricardo Correia (também conhecido como Ricky) nesse ano morava em Lisboa. Combinámos um rendez-vous em Sevilha para trocarmos de pneus para os TKC80 antes de entrarmos em Marrocos. Passámos a primeira semana a explorar trilhos no Altas antes de enfrentarmos o Sahara. Era ele que nos atormentava porque sabíamos que as GS eram pesadas e nenhum de nós tinha experiência em areia. Mas nós tínhamos um plano. E então, quando chegámos a Merzouga passámos uma tarde a treinar no início das dunas, onde a estrada acaba e a areia começa. Baixámos a pressão dos pneus até 1bar. A esta pressão os TKC80 espalmam o que aumenta dramaticamente a estabilidade da mota na areia. Passámos então a tarde inteira a treinar, a entrar e sair de uma duna. Rapidamente descobrimos que para não cairmos da mota teríamos de acelerar nos momentos certos, ao contrário da voz do instinto que nos dizia para abrandar quando se estava quase a cair! Acabámos o dia confiantes e sentimo-nos preparados para os próximos 2 dias de deserto. O dia seguinte foi dos dias mais intensos e extraordinários que já tive de motociclismo. Deixamos a última civilização para trás, a sul the Merzouga, e seguimos por um caminho de terra batida que por imensos quilómetros entrava e saía pelo leito de um rio seco. Aqui a areia ainda só aparecia em poças pequenas, fáceis de navegar. Sabíamos que mais há frente iríamos ter de atravessar um rio chamado Rheris. Ainda em Merzouga já tínhamos ouvido falar deste rio e de histórias de outras motas que nos dias anteriores não tinham conseguido atravessar e que tiveram de voltar para trás. Quando alcançamos o tal rio havia muita água e muita lama, demasiada para arrevessarmos com as motas. Não tive duvidas de que ajuda iria chegar de algum lado, e com ela provavelmente alguma reviravolta inesperada. ‘Prepare for the worst, and hope for the best.’ Ora a parte do ‘prepare for the worst’ já nos tínhamos feito! Ali esperámos, até que apareceram 3 rapazes marroquinos e propuseram atravessar-nos as nossas motas na caixa aberta de um Land Rover Defender por €10 por cada mota. “D’accord monsieur!” E metemos mãos há obra a carregar a primeira GS para cima do defender. Já com uma mota do lado de lá do rio, o defender avariou-se. Ali passámos horas enquanto os marroquinos tentavam solucionar o problema. Nisto passaram 3 Land Cruises novos, em caravana. Atravessaram o rio e pararam ao nosso lado. As portas abriram-se e os passageiros saíram todos e começaram a tirar fotografias ao nosso infortúnio. Eram quase todos marroquinos, apenas um dos condutores era espanhol. O espanhol perguntou-nos onde iríamos dormir naquela noite e dissemos que estávamos a apontar a uma povoação pequena uns 50km mais há frente chamada Tafraoute Sidi Ali. Ao qual ele respondeu que também ali iriam todos pernoitar num Kasbah gerido por um português. Explicou também que os 50km até lá eram todos por areia mas que valia a pena porque ali serviam cerveja, gin tónico e vinho tinto. Não somos alcoólicos mas haviam já 8 dias que só bebíamos chá de menta. Dissemos de imediato, quase em couro, que seria ali mesmo que também iríamos dormir. O espanhol concordou de nos levar as malas nos Land Cruises, para aliviar peso às GS. Deu-nos um cartão de visita do tal Kasbah e seguiram. Como no deserto não há moradas, o cartão de visita tinha apenas as coordenadas GPS do Kasbah. Era tudo o que precisávamos mas uma das GS estava ainda do outro lado do rio. Com o passar das horas os marroquinos lá conseguiram desempanar o defender. Apressámos-los a buscar a outra mota e já com as duas motas do lado de cá do rio e tudo apostos inserimos então as coordenadas do Kasbah no nosso GPS. O aparelho que tínhamos era antigo e só nos dava duas informações básicas, a distância até ao ponto e uma agulha com a direção. Tínhamos 2 horas de luz até ao por do sol para fazer 50km, por areia. Para além da roupa que tínhamos vestida tínhamos ficado também com as nossas carteiras e os passaportes, que não serviam para nada no deserto. Não tínhamos nem sacos cama nem mais nada. Lembro-me vividamente do que senti quando levantei a cabeça do GPS e olhei para o deserto na direção da agulha. Medo! Mas também euforia, “bora lá, foi para isto que viemos!” E assim nos fizemos à areia, de pneus meios vazios e com a faca nos dentes. Caímos muitas vezes ao início mas Km a Km o medo começou-se a transformar em satisfação pois estávamos a conseguir. O peso da GS é quase todo concentrado na frente e isso sentia-se muito a rolar na areia. Por muito que me chegasse a traz a roda da frente tentava sempre enterrar-se. Era preciso enrolar punho, muito punho para ela finalmente vir há superfície. A velocidade necessária para conseguir navegar a areia era absurda, e francamente assustadora. Uma queda ali teria aleijado! Com a noite a aproximar-se não tínhamos outra opção se não continuar com aquela loucura. Havia alturas em que passávamos por poças de areia Fech Fech, só nos apercebíamos já dentro delas com pó pelo joelho. Outras vezes já quase a cair, e era preciso enrolar ainda mais punho. Foram momentos de êxtase e de susto constate, em proporções iguais. Chegámos à tal povoação já o sol se tinha posto. Estávamos exaustos. Embora tivéssemos chegado, e já se começasse a ver casas, o GPS ainda nos estava a dar mais 7km. Aproximou-se uma motorizada e o rapaz arranhava um pouco de francês. Perguntámos-lhe onde ficava o Kasbah Maraboute, do tal português. Apontou para uma luzinha que pulsava muito ao longe no horizonte já escuro e disse que era ali naquela luz. O Ricky pergunto sem hesitação “o quê mais 7km de areia!” O rapaz então explicou que não havia mais areia, e que o que estávamos a ver entre nós e o Kasbah era um lago antigo seco e que podíamos navegar os 7km em linha reta até à tal luz. “Que alívio!” Fizemo-nos ao lago já era de noite. Durante aqueles 7km pensava “será que têm Sagres ou Super Bock! Bem se calhar vou já ao Gin Tónico!” A antecipação de chegar era palpável, quando de repente apareceram mais dunas e mais areia. Não queríamos acreditar. Estávamos a 500m da tal luz. Como seria possível! Parámos para pensar. Até pensar era já um esforço. Estávamos desidratados e já sem energia, modo de sobrevivência. O Ricky propôs irmos o resto a pé e virmos buscar as motas de manhã. Enquanto debatíamos a ideia, apareceu um velhote de turbante e com uma lanterna a gritar do topo de uma duna “ici Monsieur, ici…” Claramente sabia de nós. Lá nos apontou um caminho à volta das dunas e escoltou-nos ate ao Kasbah. Apareceu o espanhol, já bem alegre pois tinham chegado às 4pm e ainda não tinham parado de beber. Enquanto explicávamos a peripécia aproximou-se outro indivíduo e disse em português muito acolhedor “boa noite!” O instinto do Ricky foi mais forte que ele e abraçou o indivíduo sem sequer se apresentar primeiro. Chamava-se Cindo e era o dono do kasbah, um verdadeiro anfitrião. Nessa noite bebemos cerveja e gin tónico, comemos feijoada à transmontana, vinho tinto, salada de frutas e pastel de nata, e tudo isto ao som de tambores e percussão marroquina. Do dia para a noite não poderíamos ter tido um contraste maior. Um verdadeiro oásis no meio do deserto. Este dia foi dos mais memoráveis dias de motociclismo que já tive, e resultou em 3 coisas. Vincou ainda mais a minha amizade pelo Ricky pelo momento de sobrevivência que tivemos, fiquei viciado no off-road, e decidi naquela noite que quando chegasse a casa iria comprar uma mota leve e própria para aquele tipo de terreno. A KTM 500 EXC-F.
 
 

 

-Qual foi a situação/aventura em que tiveste a plena certeza da tua escolha?

 
Luis Matias (R1200GS): Big Trail Challenge, mudou a minha vida como motard. Na sua primeira edição em 2016, 3000km off-road em Marrocos. Foram 9 dias de emoção e aventura a rolar com muitos pilotos mais experientes, as condições ideais para aprender com quem realmente sabe.
 
 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): Não posso dizer que tenha havido uma ou outra situação que me tenha passado isso pela cabeça. Considero que cheguei aqui num processo de maturação. Se vou ficar por aqui? Não sei! Este tipo de mota neste momento serve perfeitamente para o que quero. Poder sair de casa, com alguma bagagem, razoável autonomia, manutenção descomplicada, poder navegar com Roadbook ou Track de GPS, e acima de tudo, não ver o caminho à minha frente como um obstáculo mas sim como parte da diversão. 
 
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F): A última viagem que fiz foi à Islândia. Para mim foi uma aventura porque rolei solo para sítios muito isolados no interior vulcânico da ilha. O interior da Islândia é 100% off-road e só é acessível nos meses de Verão. Tinha plena confiança na 500 porque sabia que não havia terreno ou obstáculos que não conseguisse passar. Os únicos verdadeiros desafios eram os rios, o combustível e o tempo. Os rios porque todos os dias partia de amanhã sem saber quantos iria conseguir passar.  O combustível porque era necessário transportá-lo o que aumentava a carga à mota e também pela ansiedade que sentia em relação à autonomia, especialmente quando passava lá de meio caminho. Equipei a 500 de forma a poder estar completamente autónomo pelo menos por 3 dias, não só para poder atravessar a ilha mas também para poder explorar um pouco do interior enquanto lá estivesse. Mesmo carregada, a 500 continuava-se a comportar leve, e já lá no interior da ilha era uma alegria poder explorar qualquer trilho sem grande preocupação, mesmo com carga. O que com uma mota mais pesada talvez não o tivesse feito com tanto à vontade. Na vastidão do interior da Islândia a 500 estava sem duvida em casa e isso inspirava muita confiança. 
 
 
 
 

– É importante pertenceres a uma “tribo”? 

 
Luis Matias (R1200GS): Gosto muito de viajar a solo mas também gosto de viajar com amigos onde impera a diversidade motociclistica o que anima sempre as discussões.
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): Claramente sou tribal! Em primeiro lugar, as aventuras em ambiente Off-road devem ser sempre feitas com mais de um elemento, afinal a segurança está em primeiro lugar. Segundo, claramente que a amizade, a camaradagem, o espirito de entreajuda, e a partilha de experiencias são o que nos fazem pensar sempre “ quando é o próximo passeio”.
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F): Uma viagem a solo é completamente diferente de uma viagem em grupo. E na minha experiência uma não é nem melhor ou pior do que a outra. Gosto de ambas por razões diferentes. Por exemplo, gosto de beber uma cerveja com companhia ao redor de uma fogueira. E da mesma forma também gosto de um pouco de solidão e do desafio da independência.
Não é uma tribo ou um clube mas sou afiliado a uma organização chamada Trail Riders Fellowship. O sentimento de comunidade é algo que me estimula. 
 
 
 

– Trocarias a tua arma por alguma das presentes? Em que situações? 

 
Luis Matias (R1200GS): Se fosse para escolher só uma, não hesitava, a BMW R1200GS. 
 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Rally): Costumo dizer que cada macaco no seu galho. Escolheria a EXC 500 se tivesse muito off-road e pouco alcatrão, Claramente a 1200GS se a aventura fosse muito alcatrão e pouco Offroad. E como no meio está a virtude… vou manter a 690 Enduro R. 
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC): Gostava de dar uma volta ao mundo e se um dia o fizer será provavelmente numa KTM 690 Adventure R ou numa Husqvarna 701. Estas motas estão numa classe própria. São ótimas nas estrada, embora não sejam feitas para horas a fio na autoestrada, e são excelentes em off-road. Saio todos os fins de semana com vários grupos de enduro, por vezes aparece uma destas motas e tenho visto que conseguem fazer 90% do que as EXC fazem. Embora venham de fábrica com pisa pés para o pendura, e até haja no mercado sistemas de hard-case panniers específicos para estas motas, na verdade não são feitas para isso. Com 150kg de peso ficam muito mais bem preparadas com um saco tipo alforje como o Coyote da Giant Loop.  Equipadas desta forma não há nenhuma outra mota que ofereça esta versatilidade para viagens de longa duração e todo o terreno. 
 
 
 

– Como vês o futuro das motos de aventura? O que achas que o mercado precisa?

 
Luis Matias (R1200GS): Acho que será um meio cada vez mais privilegiado no futuro, menos agressivo para o meio ambiente e o mercado terá de ser cada vez mais direcionado para liberdade e aventura que daí advêm. 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): As motos de aventura claramente vão continuar a ter um peso muito importante nas vendas, o mercado desde há 10 anos a esta teve um boom gigantesco, por vezes com a procura a superar a oferta. Nesse contexto claramente as Trail e Maxi-trail deram o mote e fizeram muita gente sonhar com viagens e aventuras por esse mundo fora. Mas, no que diz respeito ao fora de estrada, e à medida que a experiência aumenta (e a idade também), sente-se cada vez mais a necessidade de redução de peso. E penso que é para ai que o mercado aponta, motas de cilindrada entre o 500cc e 800cc, pouco peso, boa autonomia e bons intervalos de manutenção.
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F): Muito em breve vão começar a ser produzidas em massa motas elétricas com a mesma ou ainda mais autonomia do que as que temos hoje. Com uma mota elétrica consegue-se explorar quase em silêncio, o que também diminui o nosso impacto ambiental. Por exemplo, cruzamo-nos com muitos cavalos nos trilhos e eles assustam-se com o barulho dos nossos escapes. Faz parte do nosso condigo de conduta parar e desligar os motores nestas situações. Com motores elétricos esta situação será muito mais facial de gerir. Isto é apenas um exemplo mas com ele consegue-se rapidamente visionar outras situações onde a mota elétrica trará vantagens.
 
Sinto que a palavra Aventura hoje em dia está banalizada e diluída. Praticamente as marcas todas a usam para aumentar as vendas. O que é uma aventura para uns é um dia normal para outros. Para mim aventura inclui viajar e conhecer outras pessoas e outras culturas. Vejo que cada vez há mais indivíduos, homens e mulheres, a darem a volta ao mundo de mota, solos e em grupos. Verdadeiros overlanders. O pioneiro foi o Ted Simon em 1974 numa triumph 500 durante 4 anos. O livro chama-se Júpiter’s Travels e é um verdadeiro abre-olhos! Hoje em dia cada vez mais se exploram as zonas rurais, são estas que cativam o interesse a estes overlanders. Por isso penso que a mota aventura será uma mota versátil, fácil de arranjar, não muito pesada, e capaz de um pouco de off-road. No entanto a melhor mota é aquela que já temos! 
 

 

– Qual é a tua próxima aventura?

 
Luis Matias (R1200GS):Há vários anos que me ando a preparar para uma grande viagem, ir de avião até à Austrália e regressar de moto. Uma aventura de cerca de 6 meses e 40000km de pura emoção.
 
 
 
Bruno Baptista (KTM 690 Enduro R): A minha próxima aventura será a continuação de uma outra já iniciada. Vou reiniciar o TET (https://transeurotrail.org ), do local onde suspendi por falta de tempo. O TET é um passeio maioritariamente off-road que no caso de Portugal atravessa o país de norte a sul. São cerca de 1500klm de paisagens magnificas que vale a pena fazer pelo menos uma vez. Começámos três Amigos no exigente Norte onde as pedras e o douro vinhateiro nos fez suar e rolámos durante três dias  ate Vilar Formoso. E será aí que iremos retomar o track, desta feita não três mas sim dois, uma vez que infelizmente, o Pedro Jesus já não está entre nós. Mas por certo que nos estará a ver sempre de roda no ar. Godspeed. 
 
 
 
Sergio Gomes (KTM 500 EXC-F):
Estou de olhos fisgados nos Estãos. Cazaquistão, Uzbequistão, Afeganistão, Paquistão Tajiquistão e no Irão. Tenho vistos muitos posts no Facebook, muitos deles no Horizons Unlimited, e gostava muito the explorar estes países na minha 500. Não acredito que em 2021 já se vá conseguir viajar outra vez sem restrições. Portanto este talvez seja um projeto para 2022. Em 2021 irei explorar mais trilhos na Europa, nomeadamente o TET Portugal (Trans Euro Trail), e gostava de voltar mais uma vez a
Marrocos mas desta vez com a 500. 
 

 

 

Nota de agradecimento: Em nome da Moto+, gostava de vos agradecer pela paciência e disponibilidade em explicarem-nos tanto por tão pouco. As vossas vivências servirão certamente de exemplo para quem procura respostas neste mundo do adventure riding. Se aprendemos alguma coisa convosco, é que mais importante que a máquina, é o espírito que cria a superação. Eu iria com cada um de vocês até ao fim do mundo, fácilmente. Até já.

 

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