A Yamaha aproveitou a chegada do Euro 5+ para renovar alguns dos seus “best sellers”. A MT-07 não podia estar fora deste intento, glorificando aquela que é uma das motos mais divertidas do mercado. Mais tecnologia, melhores soluções ciclísticas e o mesmo pulmão de sempre, o fantástico motor CP2. Nesta que foi a sua apresentação internacional, descobrimos mais adjectivos para a descrever…
POR PEDRO ALPIARÇA • FOTOS YAMAHA EUROPE
Vamos começar por enquadrar este fenómeno de popularidade. Se os números nos dizem que nos últimos 10 anos esta foi a moto naked mais vendida na Europa (mais de 195 000 unidades), a nossa fauna motociclística urbana comprova-o, sendo o público jovem o mais permeável a idolatrá-la.

Tendo surgido em 2014, esta é a quarta geração da MT-07 e claramente aquela que traz mais mudanças na sua personalidade. Diz a sabedoria popular que em equipa vencedora não se mexe. Mas existem determinados ícones que não podem deixar de evoluir, sob pena de serem ultrapassados pela concorrência. A grande questão resume-se ao clássico dilema do natural crescimento: Será possível amadurecer sem perder a inocência?

Qualquer “restyling” estará sempre sujeito ao escrutínio apurado dos fãs do modelo, especialmente se este estiver associado a uma faixa etária mais baixa, tradicionalmente rápida a criar juízos de valor baseados na direção do vento. Se o modelo anterior foi alvo de alguma polémica devido ao seu “look” ciclópico, temos em crer que a marca de Iwata acertou na nova direção estética que desenhou para a série “Dark Side Of Japan”. Em boa verdade, tratou-se apenas de um reordenamento dos elementos, harmonizando o conjunto frontal com atrevimento e ousadia. Continuamos a ter dois LED’s diurnos acompanhando um farol bifocal, mas o seu formato mimetiza um certo personagem da Marvel. Continuando pela restante estrutura, nota-se um cuidado especial na uniformização de todas as linhas, evitando perder a sensação de moto compacta mas dando ênfase a uma “nova” robustez. O braço oscilante redesenhado e o quadro reforçado prometem trabalhar em uníssono com o novo eixo dianteiro (uma muito bem vinda suspensão invertida assim como toda a estrutura da direção), e sobre os seus milagrosos efeitos falaremos mais adiante. Como não podia deixar de ser, a peça mais importante continua em destaque, o seu motor bicilíndrico paralelo com cambota desfasada a 270º (tecnologia “Crossplane” estreada na superdesportiva R1), mais conhecido como CP2.
Os números, não mentem

Façamos agora uma pequena ode para enaltecer esta maravilha de engenharia, a alma de toda a feliz forma de existência desta máquina. Sempre solícito, a sua entrega sempre se caracterizou por apresentar uma disponibilidade previsível sem deixar de ser surpreendente. Este bloco vencedor (quase de 400 000 unidades vendidas, nos diversos modelos onde é montado) vive de um binário que surge cedo, viciando o utilizador nesta espécie de frenesim bem disposto, em que a extraordinária ligação do acelerador à roda traseira fazia parte da equação. Dizemos fazia, porque agora temos um cérebro electrónico a mediar as nossas intenções. Um novo sistema “Ride by Wire” (denominado YCC-T) permite mapas de condução (Sport, Street e Custom, sendo este último totalmente parametrizável a nível de entrega de potência e de ação do controlo de tração) e ajudas eletrónicas, um novo paradigma para aquela que era uma das últimas resistentes do universo analógico. Claro que temos de considerar esta evolução como um ponto positivo, até porque a modulação da sensibilidade do acelerador está ao nível do que a marca faz de melhor, mas não é a mesma sensação de “moto de carburador” que a MT-07 sempre nos habituou. Só pelo simples facto de termos de explicar a um computador que estamos naqueles dias em que a roda da frente teima em levantar, torna a experiência mais… adulta. Até porque os valores de potência e binário permanecem praticamente inalterados (73,4 cv às 8750 rpm e 68 Nm às 6500 rpm), pois as alterações de nota surgem numa nova embraiagem deslizante e numa caixa de velocidades redimensionada (com possibilidade de poder montar um “quick-shifter” como acessório). A envolvência sonora é uma preocupação óbvia para uma marca com uma ligação intrínseca ao mundo da música, e a Yamaha consegue mais uma vez amplificar o som da admissão recorrendo a alguns truques engenhosos (aquelas ranhuras no depósito não são de meter “fichas para mais uma voltinha”), nomeadamente no redesenho da caixa de ar e respectivas condutas de ressonância. É até os “putos” lhe colocarem um escape de rendimento sem “Db-Killer” (existe um Akrapovic na lista de acessórios)!
Evolução na ciclística

E é nesta nova realidade tecnológica que digerimos que a miúda está mais crescida, com mais tema de conversa, horizontes mais largos e ambições bem definidas. A MT-07 sempre foi bastante inconsequente, com uma loucura típica de quem faz primeiro para apenas pensar depois. O seu carácter espirituoso era patrocinado pelo motor, mas a ciclística tinha sempre vontade de ir para casa mais cedo, desistindo nas alturas de maior aperto.
A sua incapacidade para digerir oscilações em ângulo fazia parte de uma forma de estar, e não enganava ninguém. Quando carregávamos velocidade nas curvas de apoios longos, o trem dianteiro acabava por se tornar demasiado vago e todo o conjunto ficava sujeito a torções que geravam instabilidade e por conseguinte, retiravam-nos confiança para continuar a diversão. A nova forquilha dianteira invertida (montando umas KYB com 41 mm de diâmetro), e o reforço do quadro e do braço oscilante, vieram aumentar os horizontes dinâmicos desta pequena “hooligan”. Mais plantada sem deixar de ser assertiva, o nível subiu de forma significativa.
Continua a ser impressionante a sua agilidade (o peso mantém-se nos 183 kg) e a forma quase instintiva como se atira para o centro da curva. A travagem está mais incisiva (agora com montagem radial) e permite-nos confiar na estabilidade do eixo dianteiro para prolongarmos a sua ação até voltarmos ao acelerador. Muito embora a distância entre eixos tenha diminuído de forma tangencial, a nova MT-07 parece uma moto mais equilibrada e menos brusca nas reações (a que não alheia a nova geometria da suspensão frontal).
Era tecnológica

Quando o ritmo desce e temos tempo para explorar o universo digital ao nosso dispor (utilizando o novo comutador tipo “joystick”, bastante prático), mergulhamos na informação elegante e acessível apresentada no TFT de 5”, e descobrimos a capacidade de navegação por mapa (através de ligação ao smartphone por app dedicada). E muito embora agora exista magia ao assinalarem travagens mais urgentes, ou a cancelarem-se sozinhos, não somos grandes fãs dos novos comutadores de mudança de direcção (vulgo “piscas”). Chama-se memória muscular e é um gesto que é comum a 99% dos modelos de motos, por melhor que seja a intenção de uma mudança ergonómica, o processo é sempre complicado.
Falando em ergonomia, gostamos bastante da posição de condução, em que a nova colocação do guiador e dos poisa pés tornam a postura mais natural e confortável. O assento (com 805 mm de altura ao solo) continua rijo, sem se tornar desconfortável, e os consumos conseguem estar facilmente abaixo dos 5 L/100km.
Sistema Y-AMT

Como grande novidade nesta apresentação tínhamos ao nosso dispor uma tecnologia que propunha abrir o horizonte de clientes da pequena MT-07. A nova caixa semi-automática da Yamaha faz questão de ser simples. Dois atuadores no punho esquerdo pretendem fazer-nos esquecer da ausência da embraiagem e do pedal das mudanças, e este é o primeiro CP2 que monta a tecnologia Y-AMT. Podemos operar a caixa manualmente, num princípio sequencial, ou podemos deixar o algoritmo escolher entre dois níveis de entrega. Muito embora a precisão e rapidez seja inquestionável, existe alguma margem para melhorar na sua suavidade, sobretudo no modo automático.
Percebemos o intuito de contextualizar o seu uso num ambiente citadino, com todas as vantagens e conforto de utilização inerentes, mas na verdade gostámos bastante mais da sua envolvência em ritmos mais vivos. Por apenas mais 600€ (e menos de 3kg) podemos esquecer a embraiagem e viver uma realidade de condução mais próxima de um jogo de computador (paradigma do gesto nas patilhas). Um pormenor revelador da postura da marca em relação ao posicionamento da MT-07 com Y-AMT é o da inclusão do “Cruise Control” exclusivo para esta versão. Faz sentido.
CONCLUSÃO

A Yamaha conseguiu fazer evoluir de forma convincente uma das suas motos mais importantes do seu catálogo. Acrescentou-lhe tecnologia sem a tornar demasiado digital, melhorou a sua praticabilidade, e fez subir em muito a fasquia no que concerne às suas capacidades dinâmicas. Tudo isto sem perder a sua disponibilidade para agradar, sobretudo a um público mais exigente/experiente.
A adolescente inconsequente já se sabe comportar e ganhou a confiança dos pais para chegar bem mais tarde. A sua maturidade foi bem trabalhada e agora só lhe resta continuar a fazer-nos sorrir com a sua eterna jovialidade. A MT-07 está melhor do que nunca.
FICHA TÉCNICA
YAMAHA MT-07 (Y-AMT)
Motor: Bicilíndrico, refrigerado por líquido
Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada: 689 cc
Potência Máxima: 73,4 cv às 8750 rpm
Binário Máximo: 68 Nm às 6500 rpm
Embraiagem: Multi-discos em banho de óleo
Caixa: 6 velocidades
Final: Por corrente
Quadro: Tipo diamante em tubos de aço
Suspensão Dianteira; Forquilha telescópica, curso 130 mm
Suspensão Traseira: Amortecedor, curso 130 mm, ajustável na pré-carga
Travão Dianteiro: Dois discos de 298 mm, ABS
Travão Traseiro: Disco de 245 mm, ABS
Pneu Dianteiro: 120/70-17”
Pneu Traseiro: 180/55-17”
Altura do Assento: 805 mm
Distância entre eixos: 1395 mm
Depósito: 14 litros
Peso: 183 kg (186 kg Y-AMT)
Cores: Cinzento, azul e preto
Garantia: 3 anos
Importador: Yamaha Motor Europe
PVP: 8.200€
PONTUAÇÃO
YAMAHA MT-07 (Y-AMT)
Estética 4
Prestações 4
Comportamento 4
Suspensões 4
Travões 4
Consumo 4,5
Preço 4