Recordando a Honda RC30
A Honda VFR750R, mais conhecida pela sua designação de quadro ‘RC30’, foi uma verdadeira pedrada no charco quando saiu em 1987… uma moto de corrida exclusiva com lugar apenas para o condutor, criada para fins de homologação para o Campeonato do Mundo de Superbike pela Honda Racing Corporation (HRC). O modelo foi lançado pela primeira vez no mercado japonês em 1987, lançado na Europa em 1988 e depois nos Estados Unidos em 1990.
Apenas 3.000 foram fabricadas e vendiam na altura por cerca de 14.000€ – uma quantia exorbitante para uma moto de produção na época. O V8 de 90 ° refrigerado a líquido de 748 cc e 16 válvulas derivava da RC24 (a modesta VFR de estrada que mesmo assim teve sucesso em competição) e produzia apenas 75,94 cv a 9.500 rpm para o modelo japonês limitado, mas uns já respeitáveis 118 cv a 11.000 rpm na versão internacional.
O motor continha muitos componentes inspirados na competição. Estes incluíam itens como bielas de titânio, uma estreia numa moto de produção que reduzia as massas reciprocantes (50 g mais leves, mas a oito vezes o custo) e as árvores de cames acionadas por cascata de engrenagens. A configuração de disparo do motor era muito diferente da VFR750F, a partir da qual foi derivada, com um arranjo de cambota a 360 ° tipo ‘big bang’ em vez do mais suave de 180 °.
Esta característica produzia uma faixa de potência alargada e, quando acoplada à caixa de velocidades de relações curtas que tinha uma relação de primeira extremamente alta (a moto dava 130 em primeira!), tornava a RC30 intocável em termos de resposta uma vez em movimento.
A desaceleração, por seu lado, era facilitada com uma embraiagem deslizante e uma impressionante capacidade de travagem para a época. A configuração fora inspirada pelo modelo de fábrica de resistência e TT1, a Honda RVF, mas o motor da RC30, como vimos, foi baseado na VFR750F (RC24) de 1986-7.
De resto, os motores são quase idênticos externamente, sendo as únicas diferenças visíveis nas cabeças dos cilindros e nas tampas laterais do motor. Já dentro do motor, nenhuma parte importante era idêntica à RC24. A embraiagem, a caixa, a cambota, a bomba de óleo, as bielas, a bomba de água, os pistões, o sistema de arranque e toda a culassa, bem como as cabeças de cilindro, são específicos da RC30.
Ao mesmo tempo, o HRC disponibilizou um kit de corrida completíssimo, que incluía grupo térmico (pistões, bielas, segmentos), cambota, radiadores curvos, chicote elétrico em opção SBK ou Endurance (com o obrigatório segundo circuito alternativo de iluminação), embraiagem seca, motor de arranque mais leve, cames, volantes motores e engrenagens aligeiradas e reforçadas, além de todos os parafusos em titânio. O V4 foi reconfigurado para atingir as 12.500 rpm (em comparação com a VFR750F, imitada a um redline de 11.000 rpm) e fazia os 400 metros de arranque em 11,8 segundos.
A suspensão dianteira da RC30 era feita pela Showa e tinha rodas e pastilhas de travão que tinham fixações de destaque rápido. A roda traseira carregava um disco de travão interior e uma cremalheira do lado de fora de um monobraço oscilante (originalmente desenvolvido no Mundial de 500 e patenteado pela ELF em França em parceria com a Honda). A roda era fixa com uma única porca central estilo Formula 1. A traseira vinha igualmente equipada com suspensão Showa totalmente ajustável que era normalmente substituída por Öhlins. Devido ao assento individual, o desempenho da suspensão focava-se apenas na tração ideal em detrimento do conforto, e como tal proporcionava características superiores de direção e condução.
O motor e a posição baixa de armazenamento do combustível no tanque de combustível de 20 litros combinavam para fornecer um baixo centro de gravidade que auxiliava a capacidade de manuseio. Outros sinais da qualidade artesanal da RC30 manifestavam-se num sistema completo de escape de aço inoxidável 4-2-1, tanque de combustível de alumínio e carenagem de fibra de vidro afinada manualmente a cada unidade. A moto vinha equipada com um tirante do travão traseiro ‘Pro Squat’ que ligava o cubo traseiro à estrutura com uma articulação com roseta através do braço oscilante (reduzindo o ressaltar da roda traseira durante a travagem).
Desportivamente, a RC30 teve inúmeros sucessos, vencendo quase todos os Campeonatos nacionais de Superbike, como o Alemão, Australiano, Americano, Britânico, Canadiano, Espanhol, Italiano, Francês (e Português com Pedro Batista) entre os anos de 1988 e 1992. Fred Merkel venceu os primeiros títulos de pilotos e fabricantes do Mundial de Superbike em 1998 e 1989 e Alex Vieira venceu duas mangas do Mundial de SBK com uma em 1989.
Robert Dunlop venceu o Grande Prémio de Macau de 1989 e Steve Hislop fez o mesmo em 1990. Em Portugal, pilotos como Vítor Fidalgo, Paulo Almeida, Pedro Geirinhas e Pedro Baptista pilotaram várias com algum sucesso. Hoje, especialmente devido a terem-se fabricado apenas cerca de 3.000, a moto é muito valiosa para colecionadores.
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