Como carregar a bagagem numa moto Adventure
Hoje em dia quando pensamos numa moto Adventure a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma maxi-trail com malas laterais e top-case carregada de acessórios para “aventura”. Mas será que esta é a melhor maneira de carregarmos de bagagem a nossa Adventure?
É importante esclarecer de imediato que estamos a escrever este artigo a pensar essencialmente em aventuras fora-de-estrada, de vários dias, em que os trajectos planeados usam sempre o menos asfalto possível.
Devemos começar por relembrar o conceito de centro de gravidade, ou centro de massa, de um corpo ou sistema físico, neste caso a nossa moto: na física, o centro de massa é o ponto hipotético onde toda a massa de um sistema físico está concentrada e que se move como se todas as forças externas estivessem a ser aplicadas nesse ponto.
Quando uma moto é desenvolvida pelo fabricante, num processo que demora anos, a posição do centro de gravidade é estudada e testada cuidadosamente para que o comportamento dinâmico da moto seja o melhor possível. Este ponto crítico é encontrado, e optimizado, com a moto “nua”, sem malas nem top-cases, e depois chegamos nós e a primeira coisa que fazemos, muitas vezes antes da moto chegar a sair do stand, é equipar o “kit malas” e por vezes nunca chegamos a rodar com moto sem malas!
É por essa razão que a nossa primeira sugestão é precisamente que retiremos as malas laterais, a top-case, e mais qualquer outra malinha que tenham montada na moto, como aquelas bolsas que se prendem às barras de protecção do motor. Depois, com a moto “nua”, vamos fazer algumas incursões fora-de-estrada para sentir melhor a moto, o seu equilíbrio, a sua dinâmica. Feito isto está então na altura de planear a bagagem para a próxima aventura.
No caso de uma viagem de vários dias pelo todo-terreno a máxima que gostamos de aplicar é a de que “menos é mais”, especificamente que “menos peso é mais eficiência, mais condução e mais diversão”. Quando planeamos uma viagem podemos separar a bagagem em várias categorias, como material de campismo, roupa e artigos de higiene, ou ferramentas. Tendo em conta que o material de campismo é a categoria que ocupa mais espaço, mas não obrigatoriamente peso, devemos ponderar cuidadosamente a solução para as dormidas.
Ao planearmos que ferramentas levar – esta sim deverá ser a categoria que pesa mais – gostamos de levar as necessárias como faríamos numa moto de enduro e acrescentamos câmaras de ar, desmontas e bomba ou tubos de CO2 para encher os pneus.
Chegada a altura de começar a carregar a moto o ideal será optar por malas maleáveis, ou alforges, em vez das malas rígidas. Quais são as vantagens e desvantagens?
As malas rígidas usam sempre apoios rígidos, mais susceptíveis ambos a danos causados por vibrações e quedas. Os alforges maleáveis são ajustados regra geral com cintas e absorvem muito melhor tanto as vibrações como as quedas mas, é importante lembrar que embora os alforges possam não ficar danificados oferecem menos protecção ao seu conteúdo do que as malas rígidas.
As malas são mais pesadas que os alforges, contribuindo para uma maior alteração do centro de gravidade da moto. Na maioria dos alforges conseguimos ajustar a sua dimensão ou volume, apertando mais ou menos a bagagem, evitando assim “chocalhar”. As malas têm uma dimensão fixa e exigem um cuidado extra com o acondicionamento da bagagem no seu interior para evitar esse chocalhar.
Escolhida uma ou outra solução a estratégia para carregar a bagagem é idêntica e simples: colocar os artigos mais pesados o mais próximos possível do centro de gravidade da moto, e tendo em conta que na generalidade das Adventure este se encontra na zona do motor, a técnica acaba por ser colocar esses artigos mais pesados no fundo e na dianteira das malas ou alforges. Por exemplo as câmaras de ar, desmontas e ferramentas. Se optarmos por acampar tanto a tenda como o saco cama, que actualmente são itens muito leves, não deverão causar muito incómodo se forem no topo.
Existem no mercado um sem número de bolsas e malas para o depósito, para prender no guiador, para o guarda lamas dianteiro, para as barras de protecção do motor. Todas estas “soluções” acrescentam peso acima e à frente do centro de gravidade da moto, o que é de evitar ao máximo numa moto de todo-terreno dado que uma das técnicas de condução mais utilizadas para superar obstáculos (troncos, buracos, valas, pedras) é precisamente levantar, ou pelo menos aliviar, a frente da moto.
Quem vem do enduro poderá ter a tentação de manter a sua sacoche à cintura com as ferramentas. É uma solução válida, que poupa espaço nos alforges e não acrescenta peso à moto, mas acrescenta-o ao condutor! É importante ponderarmos bem a distância planeada e o esforço extra, ou não, de levar a sacoche à cintura. Sempre recomendável é a mochila de água para nos mantermos bem hidratados durante o caminho uma vez que a condução no todo-terreno é mais exigente fisicamente que pela estrada.
Para terminar diremos que é sempre importante termos connosco, ou seja no nosso corpo, os documentos, dinheiro ou multibanco, e telemóvel. Assim em caso de avaria, de se apanhar uma boleia de um companheiro de viagem, em qualquer situação não planeada, não damos por nós sem dinheiro ou sem o telemóvel para chamar assistência.
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