Motos Clássicas: restaurar vale a pena?

Comprar uma moto clássica em mau estado para a restaurar totalmente pode ser um projeto estimulante, mas outra hipótese é comprar essa mesma clássica já pronta e restaurada.

De início, é provável que nos deixemos encantar pela ideia de restaurar a moto clássica dos nossos sonhos, se calhar uma das motos que tivemos na nossa juventude, ou até uma que gostaríamos de ter tido mas nunca conseguimos ter…mas que ficou no nosso imaginário.

É bom sonhar e realizar esses sonhos. Nem todos são impossíveis.

Para quem gosta de motos desde sempre, desde jovem, muitas foram as motos que sonharam ter, e provavelmente poucas foram as que realmente puderam ter.

Com o avançar da idade, e a evolução da carreira profissional, algum poder de compra pode ir aparecendo e é comum que alguns dos sonhos de juventude voltem a ganhar forma.

A paixão nunca se perde e muitos são os que mais cedo ou mais tarde pensam em voltar a ter a moto com que sonharam na sua juventude.

Triumph Bonneville ou Norton Commando , nos anos 60 ou Honda CB 750 Four ou Kawasaki Z1 900 nos anos 70 são algumas das motos míticas com que muitos sonharam, e que hoje atingem valores de mercado verdadeiramente alucinantes, bem mais caras do que os modelos actuais equivalentes.

Uma Kawasaki Z1 900 de 1973 acabou de ser vendida num leilão no Arizona por 50.000$ batendo todos os recordes, mas a cotação deste modelo anda pelos 25.000 a 35.000€ para os melhores exemplares e mais originais. O modelo equivalente atualmente vendido pela Kawasaki será talvez a Z900 RS que custa cerca de 15.000€! Por aqui podem ver o crescimento do valor das clássicas, a atingir níveis impensáveis há alguns anos atrás.

Por outro lado também nos últimos 10/15 anos, com a volatilidade dos investimentos financeiros, os clássicos (carros e motos) começaram a ser vistos como investimentos seguros e com excelentes vantagens fiscais. Muitos milionários de todo o mundo concretizaram investimentos em clássicos na expectativa de forte valorização, algo que tem acontecido na realidade. Os clássicos não estão sujeitos à oscilação das bolsas, e sendo peças raras e muito desejadas, não sofrem desvalorização.

Claro está que a entrada de milionários e fundos a investir em clássicos, acaba por complicar a vida aos verdadeiros apaixonados, aqueles que vivem a verdadeira paixão por um carro ou uma moto.

Por isso se coloca a questão: é uma paixão ou é um investimento?

A boa noticia para os que têm a paixão, é que investir na sua moto clássica de sonho, acaba por ser um excelente investimento. O dinheiro que gastam a comprá-la ou a restaurá-la, estará sempre lá, bem seguro.

É uma ótima sensação a de poder “gastar” dinheiro numa moto que adoramos e no final sentir que fizemos um bom investimento.

Portanto vamos responder à questão: Paixão sim, bom investimento também.

O que nos traz de novo ao título deste artigo: faz mais sentido comprar em mau estado e restaurar ou comprar já restaurado?

A resposta depende muito da situação pessoal de cada um.

O maior problema num restauro de uma moto clássica, é encontrar quem faça o trabalho. As oficinas comuns de reparação de motos, ou concessionários de marcas, não estão vocacionadas para este tipo de trabalhos que implicam muitas horas de mão-de-obra (entre 100 a 200 horas)

As oficinas querem despachar serviço e não acumular motos em espera, pois isso não dá rendimento ao trabalho.

Por outro lado pagar um restauro a 35€/hora, nunca será interessante num restauro, pois colocará o valor total bem acima do valor da moto. Claro está que algumas oficinas têm a vocação do restauro e estão preparadas para apresentar um valor fixo para o trabalho, deixando as peças à parte, por vezes chegando a aceitar que as mesmas sejam adquiridas pelo cliente.

Mas mesmo assim a opção pelo restauro privilegia os que têm um bom espaço e boas ferramentas para fazerem eles próprios o trabalho, recorrendo a prestadores de serviços externos para algumas (muitas) tarefas.

O restauro de uma clássica, começa pela desmontagem. Um trabalho que parece simples mas que por vezes acaba por ser bem trabalhoso e demorado. A ferrugem e corrosão são responsáveis pela maior parte dos problemas, e por vezes não é mesmo possível salvar todos os parafusos ou mesmo todas as peças…

Uma vez a moto totalmente desmontada, é então possível fazer o levantamento do que se deve aproveitar (tentar preservar o máximo possível de peças originais) e do que será necessário comprar novo.

Depois inicia-se a parte mais complicada do processo, aquela que não depende de nós próprios.

Decapagem, lixagem, lacagem, cromagem, anodização, zincagem, pintura, todo o processo de restituição do aspeto original de cada peça. Uma fase extremamente complexa que obriga à escolha dos melhores fornecedores, estes geralmente com prazos de entrega muito dilatados, e atrasos sistemáticos que levam ao desespero. Na receção das peças, muitas vezes o trabalho não foi bem executado e o resultado pode ser decepcionante.

A compra das novas peças também pode ser desgastante, pois os bons fornecedores estão a praticar preços muito caros, e cada vez há menos peças disponíveis para os modelos antigos. Existe sempre a alternativa de encontrar usado no Ebay mas determinadas peças serão mesmo impossíveis de encontrar.

Restaurar uma moto clássica não é um processo fácil e a experiência acumulada permitirá atingir cada vez melhores resultados.

A escolha dos fornecedores é crucial mas não tenham ilusões já não é possível nos tempos de hoje fazer um restauro barato.

O Brexit veio complicar o processo de importação de peças do Reino Unido, seguramente o país melhor apetrechado para estas coisas. Os ingleses sempre foram loucos por clássicos.

À medida que as peças vão chegando recondicionadas, recuperadas ou compradas novas, inicia-se o processo da montagem a partir do quadro já devidamente lacado ou pintado.

Importante dispôr de um elevador de motos para que todo as horas de trabalho sejam menos penosas em dores de corpo, mas seguramente tambem em eficácia.

O processo de montagem é extremamente estimulante e é precisamente nele que se obtém o maior nível de prazer e estimulo. seguramente é também nesta fase que a pessoa se vai ligando cada vez mais emocionalmente à sua moto e, tendo gosto pelo detalhe de facto os resultados podem ser espectaculares.

A pintura é seguramente algo que deve ser feito por especialistas e de preferencia pintores bem experientes pois é aqui que se vai diferenciar o resultado bom do óptimo.

Um bom pintor é um bom investimento e sempre valerá o seu preço que se reflectirá directamente no valor da moto restaurada.

O estofador também é muito importante e os bons são já difíceis de encontrar nos tempos de hoje. Os jovens não estão a entrar nestas profissões e isso está a tornar-se um grave problema.

No final, seguramente mais de um ano após o inicio, o valor despendido será bem superior ao inicialmente previsto, e esse é o momento em que pensamos que talvez tivesse valido a pena comprar uma moto já restaurada…

São opções diferentes e por vezes o restauro é uma boa opção para quem não tem a liquidez necessária toda de uma só vez, podendo ir gerindo os trabalhos e os gastos em função das disponibilidades financeiras.

Seguramente o restauro acrescenta um valor sentimental à própria moto e proporciona a vantagem de se poder escolher o nível de detalhe, de perfeccionismo que se pretende aplicar no trabalho.

A compra de uma moto já restaurada tem a vantagem de não ter de esperar todo o tempo do restauro, sempre bastante longo, mas por outro lado impede-nos de conhecer em detalhe o que está por dentro de todas as peças mecânicas. Um bonito motor com bom aspecto pode mesmo assim nunca ter sido aberto ou devidamente reconstruído, pelo que é obrigatório pedir todas as fotos e videos do restauro para comprovar e assim minimizar o risco de surpresas desagradáveis.

É importante compreender que o mercado português é muito limitado no que diz respeito à compra de motos que sejam bons projectos de restauro, tal como tambem é extremamente limitado em motos interessantes e bem restauradas…mas se falarmos de valores geralmente não são acessiveis fruto da escassez da oferta. A compra no estrangeiro é geralmente mais interessante pela dimensão da oferta e possibilidade de escolha e o processo está hoje muito facilitado pela internet.

Seja qual for a vossa opção acredito que investir em clássicas vale a pena, sendo que os preços estão já muito elevados o que torna difícil encontrar boas oportunidades. Mas quem espera sempre alcança e este é seguramente um hobbie para pessoas pacientes.

Nunca se esqueçam, os bons negócios fazem-se na compra!