Um novo estudo está a alertar para a ameaça oculta que os motociclistas conhecem: os rails de segurança em aço que ladeiam milhares de quilómetros de estradas.
Motociclistas em toda a Europa estão familiarizados com os perigos de curvas escorregadias e obstáculos inesperados. Os investigadores confirmam que estas barreiras, concebidas principalmente para proteger os ocupantes do automóvel, representam um sério risco para os motociclistas num tipo específico de acidente: colisões na vertical. Quando um motociclista atinge uma barreira na posição vertical, o seu peito ou abdómen bate frequentemente diretamente na borda superior afiada do rail. Um artigo científico defende rails melhores para proteger os motociclistas nessas colisões na vertical. Embora já existam barreiras “amigáveis para motociclos” para reduzir as lesões em colisões por deslizamento, nas quais os motociclistas deslizam para dentro da barreira após caírem da moto, a borda superior dos rails convencionais permanece letal em impactos na vertical.
Publicado na revista ‘Infrastructures’, o estudo analisa um vasto leque de patentes e projetos que visam reduzir o risco de impactos nas margens superiores dos rails. A equipa de investigação, composta por engenheiros de segurança e especialistas em infraestruturas, avaliou treze projetos internacionais quanto ao seu potencial para salvar vidas.

“A maioria das soluções existentes concentra-se em impedir lesões por deslizamento, o que é importante”, destacam os autores deste estudo. “Mas descobrimos que muito poucas abordam o risco que acontece quando um motociclista embate de frente no rail superior, ainda na moto”. Os investigadores identificaram vários projetos promissores, incluindo um desenvolvido pela Texas A&M University. A sua adaptação acrescenta uma placa de aço curva ou plana na parte superior do rail, que ajuda a distribuir a força do impacto e a prevenir lesões por arestas vivas. Outro ponto alto foi uma invenção espanhola chamada P2025012, um elemento de aço moldado para se ajustar à parte superior da barreira existente. É simples, relativamente barato e não interfere com coisas como a drenagem de água ou limpa-neves, uma grande vantagem para as autoridades rodoviárias.

A maioria das barreiras na Europa são vigas W de aço. Quando um automóvel embate numa delas, o sistema absorve a energia ao flexionar e curvar, o que ajuda a manter o veículo na estrada. Mas os motociclos não desencadeiam a mesma resposta. O corpo de um motociclista é muito mais leve e, quando atinge a borda superior da viga, há pouca absorção de energia, apenas uma borda dura e implacável. Em colisões por deslizamento, os motociclistas ficam frequentemente debaixo do corrimão, onde os novos “sistemas de proteção para motociclistas” (MPS) ajudam a prevenir ferimentos fatais, cobrindo os postes e as secções inferiores. Mas a borda superior ainda fica descoberta na maioria dos casos. O risco é maior em curvas, sobretudo as fechadas. De acordo com os dados europeus de acidentes, quase metade dos acidentes fatais com motociclistas envolvem uma colisão com um único veículo, geralmente numa curva. Se um motociclista perder o controlo, mas permanecer erguido, o seu corpo irá provavelmente atingir a viga superior na altura do peito. Sem equipamento de proteção para o tronco, as consequências são, muitas vezes, fatais.
Os autores deste estudo apelam à colaboração entre projetistas de estradas, investigadores de segurança, governos e organizações como a Federação das Associações Europeias de Motociclistas (FEMA). Realçam também a importância de envolver os motociclistas nas decisões sobre as infraestruturas. “Trata-se de tornar as estradas seguras para todos, não apenas para os condutores de automóveis. Uma peça de aço relativamente simples pode significar a diferença entre escapar ileso a um acidente ou não escapar.”
Fonte: FEMA