Como curvar de joelho no chão – Aprendizagem da técnica

By on 29 Junho, 2023

Qualquer um que goste de rodar rápido na sua moto e levá-la ao limite quer chegar ao ponto de sentir o seu joelho a raspar no asfalto. Se bem que esta realidade é quase como um estatuto que confere reconhecimento de que rodamos rápido o certo é que é uma técnica que nos permite aferir o grau de inclinação da moto antes de ultrapassarmos os seus limites e terminarmos com mais partes do corpo pelo asfalto. 

Há décadas atrás o estilo a curvar era mais alinhado com o centro da moto, com o corpo a acompanhar a inclinação da moto e sem se deslocar sobre a mesma. Nessa altura o colocar o joelho fora era considerado deselegante e o roçar pela pista era sinónimo de queda certa. Nos anos 70 começámos a ver pilotos como o Barry Sheene que colocavam o joelho tão fora em curva que chegavam a roçar no alcatrão. Foi só a partir dessa época que alguns fatos de pilotos começaram a adoptar a colocação de deslizadores.

Mas então como podemos começar a desenvolver a técnica de curvar de joelho no chão ? 

Idealmente deveremos fazê-lo de forma segura e para isso recomendamos que se inscrevam num Trackday e o façam em pista, até porque normalmente os organizadores de Trackdays definem 3 categorias tendo em conta a experiência dos participantes, podendo assim inscrever-se naquela dos menos experientes para poderem fazer evoluir a técnica progressivamente e sem pressão.

Para desenvolvimento da técnica de curvar de joelho no chão deverão considerar três realidades que conjugadas vos permitirão lá chegar de forma mais segura e progressiva; A posição do corpo na moto, a antecipação à curva e a velocidade com que curvamos.

A posição do corpo

Para atingirem a posição ideal do corpo em curva é preciso considerar a importância da colocação dos pés nas estribeiras. Normalmente os pés devem ser colocados numa posição como se os dedos dos pés fossem agarrar as estribeiras, ou seja, quase na ponta dos pés. Esta posição do pé interior da curva permite-nos evitar que as pontas das botas toquem o asfalto em curva e provoquem algum desequilíbrio.

Já o pé exterior poderá ser colocado de forma a obter mais apoio sobre o poisa-pés e com o levantar ligeiro do calcanhar, subindo o joelho da perna exterior, de forma a encostá-lo na parte alta do depósito. Esta posição é muito importante pois toda a sustentação do vosso corpo, que se irá deslocar para o lado de dentro da curva, estará assente na pressão que o joelho exterior exerce sobre o depósito da moto, deixando mais soltas as mãos no guiador.

A partir deste ponto poderão começar a pensar na rotação da anca deslizando o vosso corpo sobre o assento da moto e colocando a nádega interior à curva de fora ( mais ou menos de fora dependendo da preferência de cada um ).

Atenção pois na travagem à entrada da curva, que será forte, há tendência do vosso corpo encostar ao depósito da moto, realidade que irá dificultar a vossa rotação, pelo que é recomendável manter alguma distância ao mesmo.

A rotação do vosso corpo para o interior da curva vai fazer com que o centro de gravidade baixe e permitir que a moto não necessite de inclinar tanto para realizar a curva à mesma velocidade, mantendo assim maior superfície do pneu em contacto com o asfalto e garantindo assim maior aderência.

A cabeça, o olhar e o antecipar

Outro pormenor muito importante é a colocação da vossa cabeça e a direção do olhar. A cabeça deverá igualmente sair da linha interior da moto, mais ou menos alinhada em paralelo com a mesma e como resto do vosso corpo, ou seja, a linha que une a posição do fundo da vossa coluna com o centro da vossa cabeça deverá estar paralela à linha longitudinal da moto. O olhar deverá ser mantido em frente em direção ao Apex da curva e igualmente importante é o facto de nos esquecermos do que se passa atrás de nós, pois quem circular na nossa rectaguarda deverá ter igual preocupação ( recomendamos que nunca se utilizem espelhos retrovisores para evitar qualquer distração que poderá provocar uma saída de pista ou um acidente mais grave ).

Todo o movimento de colocação do corpo para atacar uma curva deverá ser realizado em antecipação, ou seja, antes de começarmos a inclinar já deveremos estar na posição que iremos manter durante toda a curva. Para tal é importante fixar pontos de referência na pista onde começamos a travagem e preparar a entrada em curva. 

Finalmente a velocidade…

Se não tivermos velocidade suficiente em curva não conseguiremos colocar o joelho no chão. Acontece muitas vezes também o contrário, pois muitos conseguem rodar a uma velocidade alta em curva, com uma inclinação da moto que vai até para além daquela que se obtém quando aplicamos a técnica de joelho no chão. É importante não procurar forçar a situação, nem entrar pendurado nos travões e descontrolado em cada curva. Vá aumentando o ritmo e aplicando progressivamente as técnicas referidas e pouco a pouco chegará a colocar o joelho em pista, sentindo-se a cada volta mais confortável e claro não se esqueça de levar deslizadores no fato… 

Evolução e treino

O desenvolvimento e evolução desta técnica deverá ser realizado de forma progressiva, sempre em pista e não na estrada, se não conseguir no primeiro TrackDay não desanime pois irá conseguir no seguinte. Para evoluir mais rapidamente poderá inscrever-se num curso de pilotagem e embora em Portugal não existam muitas iniciativas deste tipo ( penso que apenas o AIA e o Miguel Praia organizam cursos periodicamente ) poderá sempre procurar na zinha Espanha alternativas e ficar a conhecer outros circuitos.

Se pretender poderá treinar a técnica parado bastando para tal ter na sua moto descanso lateral que simulará alguma inclinação da moto. Coloque-se sobre a mesma e tente fazer o exercício de colocação dos pés, do joelho apoiado no exterior e o corpo fora da moto alinhado com a cabeça, olhando em frente e sustentando o peso apenas com as pernas. Este exercício parado exige um esforço muito superior do que em andamento já que a força centrífuga em curva faz com que o peso suspenso do nosso corpo seja muito menor.

Notas sobre a vossa segurança em pista

Devemos sempre realizar uma ou duas voltas de “warm up” tal como nas corridas, pois permitirão fazer aquecer os pneus ( caso não tenham mantas de aquecimento dos mesmos ) e também os travões. Permite-nos também fazer um reconhecimento da pista, detectando eventuais derramamentos e óleo ou água na mesma e perceber quem vai estar a rodar connosco. Se vir que algum está a fim de se “picar” consigo melhor deixá-lo ir e não responder a provocações.

Deve rodar ao seu ritmo, sem se sentir desconfortável, para poder evoluir. Claro que se tiver alguém em pista em quem confia e que sabe que é mais experiente poderá sempre, antes de arrancar, combinar segui-lo durante algumas voltas e perceber quais as melhores trajectórias, onde travar e entrar em curva e onde acelerar.

Para além do equipamento segurança óbvio e obrigatório, fato de 1 peça com proteções de coluna, peito, ombros, cotovelos, joelhos e ancas, capacete de material tri-compósito, botas e luvas de cano alto deveremos também levar um manómetro de pressão de pneus. Sabermos que pressão temos nos pneus é absolutamente essencial e medir a mesma ao início e ao fim de cada sessão dá-nos uma informação crucial sobre o seu comportamento. Também o olhar para o seu desgaste é importante para percebermos se os ajustes de suspensão e pressão estão no ponto certo ( assunto para um próximo artigo )… na dúvida, por falta de experiência, há que perguntar a quem sabe e nos Trackdays estão sempre presentes pilotos com muita experiência prestes a vos prestar aconselhamento e dicas e esclarecer-vos sobre as dúvidas que possam ter.

Divirtam-se e lembrem-se “acelerem na pista e não na estrada “ …

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