Off Road – 2 ou 4 tempos?
Por: Rui Sousa
2 Tempos ou 4 Tempos? A grande dúvida ao comprar uma moto de Enduro…
Quem vai comprar uma moto de Enduro nos dias de hoje depara-se com uma grande oferta de todas as marcas. Existem diferentes cilindradas, com diferentes opções, equipamentos e soluções técnicas que vão ao encontro do tipo de piloto e da utilização da moto.
As 2 Tempos
Desde sempre que os motores a 2 tempos andam pelas nossas serras e montes. Com uma mecânica simples e bastantes mais leves, estas motos despertam os sentidos de quem as conduz devido ao barulho muito particular, que sai pelo cano de escape, as altas rotações que atingem e pela diversão que proporcionavam.
Mas estes motores apresentavam um grande senão, apenas trabalhavam de uma forma efetiva e muito explosiva num pequeno intervalo de rpm e em altas rotações. Toda a potencia do motor chegava à roda traseira de uma só vez, como se de um botão on/off se tratasse, o que dificultava muito a utilização em zonas com pouca tração e por pilotos menos experientes.
Porém, as motos de Enduro a 2 tempos têm evoluído muito nos últimos anos, e algumas marcas já apresentam motores com injeção directa, deixando para trás os tradicionais carburadores.
A evolução tem sido no sentido de tornar as motos de Enduro a 2 tempos mais fáceis de utilizar e de explorar, mesmo pelos menos dotados tecnicamente, permitindo uma condução mais tranquila e eficaz, sem necessidade de andar com rotações elevadas. Esta evolução aliada à leveza da moto, levou a que se tornassem as armas de eleição nas competições de extreme enduro em que as motos andam a maior parte do percurso a ultrapassar obstáculos em baixa rotação.
Até mesmo as 125cc que apresentam uma condução mais endiabrada, têm evoluído no sentido de uma utilização mais fácil e linear.
Para tal, as marcas têm dotado as motos 2 tempos com um leque de opções e soluções técnicas que possibilitam diferentes afinações que vão ao encontro do nível e do tipo de pilotagem.
Adicionalmente, algumas motos trazem 2 mapas de ignição, um normal e um mais “soft” para condições com menos tração, motor de arranque e sistema de autolube que trazem o conforto de não ter que fazer a mistura cada vez que se abastece, e até controlo de tração.
Quando se junta todos estes ingredientes, o resultado é uma máquina muito eficiente e divertida de conduzir e com a capacidade de ultrapassar obstáculos de uma forma muito facilitada.
No entanto, é importante perceber que levar uma moto a 2 tempos para competir dentro de uma especial de enduro e fazer bons tempos não é fácil. São motos que para se conduzir de uma forma rápida, contra o cronometro e sem cometer erros, requerem um avançado nível técnico e físico.
As 4 Tempos
As motos com o motor a 4 tempos são efetivamente mais polivalentes. Todas as marcas já usam sistemas de injeção fazendo com que estes motores consigam trabalhar efetivamente desde as baixas rotações e com uma curva de potencia muito linear. Com isto, conseguimos atacar uma trialeira com pouca tração de uma forma confiante e segura.
Esta facilidade de condução traduz-se na possibilidade de fazer vários quilómetros de uma forma confortável e sem grande esforço físico.
Apesar de motos mais pesadas, têm um centro de gravidade mais baixo o que as ajuda a manter “coladas” ao chão, mesmo em velocidades mais altas.
As motos a 4 tempos são mais polivalentes e adaptadas a qualquer tipo de utilização. Permite-nos entrar numa serra e andar num percurso sinuoso, encarando algumas trialeiras sem qualquer problema e depois ir acelerar para os estradões do Alentejo.
E os valores?
Quanto a valores, as motos a 2 tempos têm um valor de compra mais baixo, uma manutenção mais simples e mais barata quando comparado com as motos a 4 tempos.
Isto deve-se principalmente ao fato de os motores a 4 tempos serem mais complexos e compostos por mais peças. Logo, têm mais peças para ser substituídas e que tendem a ser mais caras, têm mais óleo para substituir (em algumas motos até usam diferentes óleos, um para a caixa das velocidades e outro para o motor) e são precisas mais horas de mão de obra quando comparado com uma moto a 2tempos.
No entanto, apesar de cada ida ao mecânico para a revisão programada ter um valor inferior, as motos a 2 tempos têm maior desgaste das peças.
Nas motos a 2 tempos, as peças são trocadas mais frequentemente. Por exemplo, o pistão de uma moto a 2 tempos por norma deve ser substituído a cada 60 horas (exemplo de uma Beta 300 2t) enquanto que o pistão de uma moto a 4 tempos só é substituído a cada 90 horas (exemplo de uma beta 430 4t).
Outras situações a ter em conta é que fora das revisões programadas, as motos a 2 tempos tendem a gastar mais pneus, mais conjuntos de calços de travão (não tem efeito de travão motor), mais conjuntos de embraiagens, mais gasolina, sem contar com o óleo de mistura que temos de acrescentar na gasolina.
Agora, o que leva alguém a escolher uma moto a 2 tempos ou a 4 tempos?
Será que o tipo de condução do piloto vai ajudar a decidir?
Será o gosto pessoal pelo tipo de motor?
Será que o objetivo para qual vai usar a moto, tem um peso na decisão?
Será o tipo de utilização (competição ou lazer)?
Todas estas perguntas (e outras que poderão surgir) são pertinentes para a tomada de decisão. Existem ainda os fatores emocionais que não raras vezes, acabam por influenciar a escolha.
Quem compra uma moto, não se decidirá por comprar uma marca que não gosta, só porque essa moto é racionalmente melhor que as outras. O comprador sente-se mais afeiçoado à marca A, ou à marca B porque se revê nela, muitas vezes por razões do passado, de pilotos que seguiam e o que conduziam ou ainda porque algum familiar ou amigo próximo também tinha uma moto dessa determinada marca.
Sem nunca esquecer a ligação emocional que envolve a compra de uma moto de Enduro, a escolha do tipo de motor que se adeqúe às suas características e ao tipo de utilização que vai dar será a base para uma escolha acertada.
A realidade é que as 2 tempos estão de volta e em força. E isso enriquece o mercado e aumenta as opções.
Agora a escolha, será da razão ou do coração?
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