A CFMOTO tem vindo a destacar-se como a marca chinesa que, provavelmente, mais tem evoluído e mais se tem aproximado da concorrência europeia e japonesa. Desde a sua entrada no mercado há uns anos que é visível a evolução da qualidade dos componentes e da construção das suas motos. Uma das bandeiras desta evolução é a 800 MT que recebe agora uma nova variante, a MT-X. Maior curso das suspensões, mais capaz para fazer trajetos fora de estrada, sem perder o conforto e a capacidade estradista que lhe era conhecido. Esta é a promessa da marca chinesa, nós, fomos até ao Algarve para a apresentação mundial do modelo, de forma a confirmar isso mesmo.
POR: JOÃO FRAGOSO . FOTOS: CFMOTO
Apresentada em 2023 no salão de Milão, ainda como concept, a 800 MT-X chamou muito à atenção pelo seu aspeto de moto de rally, com o guarda-lamas dianteiro elevado, motor bicilíndrico em linha 799cc (já conhecido da marca), mono amortecedor Ohlins e suspensão dianteira KYB. Os componentes de elevada qualidade e um desenho extremamente apelativo, deixaram antever um modelos de produção bastante promissor. E se o aspeto se manteve fiel quase na totalidade, os componentes foram ligeiramente alterados. A MT-X que agora chega ao nosso mercado conta com suspensão dianteira YU-AN (marca chinesa com a qual tivemos o primeiro contacto na Kove 450 Rally), totalmente ajustável e um generoso curso de 230mm. Curso esse que é igual na traseira, que também permite ajuste total do amortecedor YU-AN. Mas falemos das sensações que esses mesmos componentes nos transmitiram.
Do meio para cima

Comecemos pelo bloco que equipa esta 800MT-X. Já bem conhecido da marca, e por estar equipado também na KTM 790 ADV, fazendo parte de uma parceria entre a marca austríaca e a CFMOTO, este motor não era uma novidade nesta moto. Sabíamos mais ou menos o que esperar. E dizemos mais ou menos porque a marca chinesa fez algumas alterações ao bloco antes de o montar neste variante MT-X. O motor continua a contar com 95 cv, mas agora com um binário mais elevado do que aquele que encontramos nas variantes anteriores da MT. São cerca de 10 N.m a mais nesta variante, contando assim com 86 N.m às 6.750 rpm. Isto traduz-se efetivamente numa melhor resposta do motor numa faixa intermédia de rotação, mas mantém a tendência deste bloco em preferir médios e altos regimes, sendo assim necessário circular com um pouco mais de rotação, principalmente fora de estrada, de forma a aproveitar este incremento de binário máximo. E foi mesmo fora de estrada que circulámos 80% do dia, percebendo que é preciso trabalhar um pouco a caixa de velocidades para conseguir ter a resposta correta deste bicilíndrico. Ainda assim, os 95 cv são mais do que suficientes para atingir velocidades bem elevadas em curtas distâncias. Seria bom que estivessem disponíveis um pouco mais cedo na faixa de rotação, uma vez que a potência máxima aparece apenas às 8.500 rpm. No asfalto a história é semelhante no que diz respeito à resposta do motor. A tendência é sempre utilizar o QuickShifter bidirecional de série para alcançar regimes médios ou elevados para obter a resposta ideal desta unidade motriz. Unidade essa que graças aos contrabalanços internos está isenta (quase na totalidade) de vibrações, proporcionando assim um enorme suavidade, em baixos ou altos regimes.
Consistente e convincente

Falámos atrás de como a 800 MT foi uma das bandeiras da CFMOTO na sua demonstração de evolução e progressão, algo que é ainda mais vincado com esta nova variante. Aqui a marca chinesa aposta em componentes domésticos, numa área que se poderia pensar ser demasiado arriscado fazê-lo. Falamos, claro, das suspensões. Isto mostra também a confiança que a marca tem nos seus parceiros e em como os componentes chineses têm vindo a evoluir ao longo dos últimos anos. Já referimos que esta moto vem equipada com suspensões YU-NA de 48mm na dianteira e mono amortecedor da mesma marca na traseira, sendo que em ambos os eixos temos ajuste total das mesmas. O seu comportamento agradou-nos bastante, principalmente fora de estrada, onde se mostraram extremamente competentes a absorver impactos e na leitura do terreno – algo prejudicada pelos pneus CST que contavam com a pressão recomendada para o asfalto. O seu curso é também bastante generoso, oferecendo uma distância ao solo de 240mm com 230mm de curso, tanto na dianteira como na traseira. Na estrada percebemos que a afinação que vem de fábrica é algo firme, prejudicando um pouco o conforto, que ainda assim é bastante elevado graças a uma posição de condução ergonómica e um assento talhado para grandes viagens sem que seja necessário sair de cima da moto. E aqui a possibilidade de afinação total da suspensão eleva a polivalência desta moto, uma vez que podemos sempre ajustar a mesma ao nosso gosto, consoante o tipo que de terreno (ou asfalto) que vamos enfrentar. O conjunto desta CFMOTO 800MT-X mostrou-se bastante consistente, com o quadro também ele a revelar estar à altura de todo o stress que podemos causar a esta moto, stress esse que é também muito bem dissipado pelo amortecedor de direção de origem.

Dissipado, ou bem distribuído, melhor escrevendo, está o peso desta moto que nos engana muito bem, passando facilmente por uma trail com muito menos peso do que apresenta na ficha técnica. Para isso a CFMOTO adotou uma estratégia já conhecida da KTM, colocando o(s) depósito(s) de combustível mais perto do chão, oferecendo assim um centro de gravidade mais baixo e uma boa agilidade, mesmo contando com capacidade para 22,5 litros. Ainda neste departamento da ciclística, dizer que a travagem a cargo da J.Juan com dois discos de 320 mm na dianteira e um disco de 260 mm se mostrou bastante competente a parar os quase 220 kg desta moto. Uma nota apenas para esta mesma travagem fora de estrada, onde o ABS, não sendo totalmente desconectável, se mostrou algo interventivo e em situações onde a roda dianteira sofria algum impacto, o mesmo parecia entrar em conflito interno. Com isto dizer que a manete direita ficava extremamente sensível e com folga nula, ativando imediatamente o ABS assim que queríamos realizar nova travagem. Isto poderá ser uma junção de um efeito mecânico nas bombas de travão após o impacto, juntamente com uma leitura incorreta por parte do “cérebro” da MT-X. Ficou o aviso aos engenheiros da CFMOTO, e a promessa de que seria verificada a situação.
O que se espera

No capítulo tecnológico, temos tudo o que esperamos de uma CFMOTO nos dias de hoje. Um painel TFT de 7” com excelente leitura e toda a informação necessária, que nos permite aceder a três modos de condução distintos e a todas as ajudas eletrónicas, nomeadamente o QuickShifter bi-direcional equipado de série nesta moto. Temos ainda ABS em curva, embraiagem deslizante, cruise control e sensor de pressão de pneus – uma das razões de percebermos que os CST estavam com ar em excesso para circular fora de estrada. O controlo de tração, naturalmente, está também presente na MT-X e é possível desligar o mesmo quando circulamos fora de estrada para que possamos brincar com a traseira. Como é hábito na marca, há a possibilidade de conectar o telemóvel ao painel da moto e obter diversas informações da mesma através da aplicação.

Passo a passo
A CFMOTO está efetivamente a responder ao mercado europeu com motos de qualidade e a demonstrar ter a capacidade de ouvir os consumidores de forma a entregar melhores produtos todos os anos. A verdade é que as variantes Explore e Sport da 800MT são motos bastante sólidas no que diz respeito aos componentes que apresentam e como isso se traduz na sua condução. A MT-X vem adicionar algo mais. A marca chinesa coloca esta variante direcionada 40% para fora de estrada e 60% para o asfalto – algo que comprovámos na apresentação – e isso permite que haja alguns componentes nesta moto que a elevam para um outro patamar relativamente às variantes já existentes, nomeadamente as suspensões. Esta MT-X parece ser a que faz mais sentido. Por tudo. Pelo seu desenho mais agressivo, pelos melhores componentes, na estrada e fora de estrada, e pelo conforto que não perdeu. Denotamos ainda alguma irregularidade na injeção desta moto, algo que temos vindo a referir frequentemente nos modelos da marca chinesa, mas uma nota para uma melhoria significativa neste capítulo. Sem muito mais a apontar, por 8.990€ é quase impossível não ponderar esta moto se estivermos no mercado à procura de uma trail de média / alta cilindrada. No asfalto a sua competência é muito elevada e fora de estrada consegue surpreender os mais céticos e puristas, pela sua facilidade de condução e elevada agilidade e capacidade de superar obstáculos.
Ficha técnica
CFMOTO 800 MT-X
Motor 2 cilindros em linha, 4T, refr. por líquido DOHC, 8 válvulas
Cilindrada 799 cc
Potência Máxima 95 cv às 8500rpm
Binário Máximo 87 Nm às 6750 rpm
Versão limitada A2 Sim
Embraiagem Multidisco em banho de óleo, deslizante
Final Por corrente
Caixa 6 velocidades
Quadro Estrutura tubular em aço
Suspensão Dianteira Forquilha invertida, 48 mm, totalmente ajustável
Suspensão Traseira Monoamortecedor, totalmente ajustável
Travão Dianteiro Dois discos, 320 mm, ABS em curva
Travão Traseiro Disco, 260 mm, pinça de dois êmbolos, ABS
Pneu Dianteiro 90/90-21”
Pneu Traseiro 150/70-18”
Comprimento Máximo 2288 mm
Largura Máxima 945 mm
Distância entre eixos 1530 mm
Altura Máxima 1426 mm
Altura do Assento 830 / 870 mm
Depósito 22.5 litros
Peso (a cheio) 220 kg
Cores Azul, Preto
Garantia 3 anos
Importador Multimoto Portugal
Preço 8.990€
Pontuação 800 MT-X
Estética 5
Prestações 4
Comportamento 4
Suspensões 4,5
Travões 3,5
Consumo 3,5
Preço 5