Desde 1983 que a marca nipónica tem cimentado um nome que pode já ser considerado icónico no mundo das duas rodas. Em 2019 renasceu e da melhor forma possível, com o lançamento daquela que seria uma das motos de maior sucesso dos últimos anos do segmento adventure. A Ténéré 700 está há sensivelmente seis anos a circular nas estradas (e fora delas) de todo o mundo e agora, melhor que nunca. Pode parecer frase cliché, mas é mesmo verdade.
POR João Fragoso • Fotos Yamaha
A quando do convite da Yamaha para a apresentação internacional da nova versão da Ténéré, percebemos pelo email recebido, que esta apresentação tinha tudo para ser uma experiência com muita aventura e diferentes formas de explorar esta renovação de um dos modelos mais apetecíveis no mundo adventure. Confirmou-se. Rodámos com duas versões distintas, a Yamaha Ténéré 700 e a 700 Rally, sendo esta última agora uma combinação da extinta Extreme e de versões passadas da Rally. A marca japonesa aproveitou assim o conhecimento e as melhores características técnicas de cada variante para fazer nascer uma versão Rally que tem mesmo o melhor dos dois mundos.
Versão base, não básica

A Yamaha Ténéré 700 sempre foi reconhecida pela sua versatilidade e, acima de tudo, a excelente relação preço-qualidade, aliada a uma enorme simplicidade que, curiosamente, funcionava de forma exímia em praticamente todas as situações. Ainda assim, havia pontos em que tinha claras debilidades, algo que mereceu a atenção da Yamaha para 2025. Para isso a marca focou-se em 4 pontos essenciais no desenvolvimento do modelo para este ano: capacidade fora de estrada, ergonomia, estilo, equipamento, tecnologia, e simplificação das variantes disponíveis. Na Ténéré 700, as alterações não foram profundas, mas revelaram ser bastante acertadas e com grande influência no comportamento geral. Teremos de ir por partes, para que não nos percamos. No que diz respeito à ciclística, as melhorias deram-se ao nível da suspensão dianteira, com revisão dos componentes internos da mesma e do amortecedor traseiro que deriva do programa de corridas da Yamaha, estando agora num nível bastante superior ao da versão de 2024.

A ligação do braço traseiro tem agora uma forma distinta, permitindo um aumento de curso da suspensão em 7 mm, passando de 94 mm para 101 mm. A ergonomia foi também revista, com o assento junto ao depósito a estar com menos 7 mm de espessura, e a dianteira movida ligeiramente para a frente, com a ajuda de um novo depósito de combustível (com tampa integrada no mesmo, finalmente!), melhorando não só a posição de condução, como a distribuição de peso. Os pousa pés têm agora mais 36% de área de contacto, com borrachas removíveis e o descanso foi reposicionado, estando agora 15 mm mais elevado e com uma proteção, para utilizações mais extremas. O EURO5+ deu também à Ténéré 700 novas entradas de ar, e mais importante, um acelerador eletrónico que trás consigo dois mapas de condução – Sport e Explorer – controlo de tração, e um quickshifter bidirecional como opcional. A versão base da Ténéré esta assim mais tecnológica, e com melhorias em departamentos importantes e que há muito pediam para ser revistos. No papel, tudo certo, na prática, ainda mais.
Da teoria para a prática

Falámos das melhorias técnicas que a Yamaha aplicou à Ténéré 700, mas o mais importante foi perceber como realmente se traduzem na prática. Tendo em conta que testámos as duas variantes disponíveis para 2025, vamos tentar manter aqui um paralelismo entre elas, focando claro, as principais diferenças, com a nota de que parte da rota da apresentação foi semelhante para a Ténéré 700 e 700 Rally. Comecemos pelo fora de estrada. Sabíamos à priori que as suspensões da Rally, baseadas na Extreme, teriam vantagem, não só pelos seus 20 mm extra de curso, mas também pelo interior distinto, com menor atrito. A Rally impressionou. De forma direta e simples, foi isso que aconteceu. A facilidade de condução de uma Ténéré, aliada a suspensões que não se negam a nada e que trabalham de forma exímia em todo o seu curso, fez-nos querer sempre um pouco mais desta moto, fazendo-nos sentir que o limite estava sempre um pouco mais além. Acima de tudo, conseguimos ter sempre uma excelente percepção do que se passa, tanto na dianteira como na traseira, oferecendo assim uma enorme confiança. A versão base revelou ser um pouco mais limitada, ainda que seja preciso dizer que, comparativamente à sua antecessora, está bastante melhor, principalmente quando olhamos para o amortecedor traseiro que está muito mais competente. Contudo, as limitações fora de estrada aparecem mais cedo do que na versão Rally e a confiança transmitida não é a mesma. Curiosamente, no asfalto as sensações foram semelhantes. Apesar de na Rally estarmos com pneus mais focados para o todo o terreno, que claramente limitavam os ângulos de inclinação, as suspensões fazem a diferença na confiança e estabilidade da moto. A travagem com duplo disco de 282 mm na frente é muito competente, com potência e com uma boa sensibilidade, permitindo dosear de forma bastante suave a manete, assim como o pedal de travão traseiro, que morde um disco de 245 mm, também ele bastante mordaz, sem exceder as necessidades desta moto.
Simplicidade é uma virtude

Ciclísticamente a Ténéré continua simples, mas eficaz. Tanto a versão base, como a rally funcionam muito bem, de acordo com o que oferecem. Eletronicamente, esta moto tem agora muito mais para oferecer, algo que era visto como uma potencial desvantagem, principalmente ao nível do acelerador que era um dos pontos mais apreciados neste modelo. Mas nada temam, pois a Yamaha realizou um excelente trabalho com o acelerador Ride by Wire colocado nesta moto. Com apenas dois mapas de condução, como já foi referido, não há muito por onde escolher, mas não nos pareceu problemático. Mais uma vez, a simplicidade ajuda. O modo Explorer é o mais suave, oferecendo uma curva de potência mais linear e mais adequada a circular fora de estrada, ou em situações de menor aderência na estrada, mantendo uma excelente sensibilidade de tudo o que fazemos com o punho direito. Já o Sport, acorda o binário e potência máxima mais cedo, revelando de imediato todo o carácter (e bem conhecido) do motor CP2.

Estes modos podem ser alterados através de um botão dedicado do lado direito do guiador, ou com recurso ao novo joystick de 5 eixos situado no lado esquerdo, altamente intuitivo na sua capacidade de navegar pelo painel TFT de 6,3” colocado na vertical ao estilo Rally. Painel esse que possibilita a ligação ao telemóvel através da aplicação MyRide da Yamaha. Ainda no departamento tecnológico a marca nipónica introduziu finalmente uma tomada USB, nesta caso USB-C, mantendo do lado esquerdo do painel o botão de acesso rápido ao ABS. O funcionamento é bastante intuitivo, sendo essencialmente um atalho para colocar a Ténéré com as definições de controlo de tração e ABS que tínhamos antes de desligar a moto, uma vez que quando desligamos a chave o ABS e controlo de tração voltam a ser ligados na utilização seguinte. Importante referir que é possível desligar o ABS na sua totalidade assim como o controlo de tração, tendo sido referido várias vezes pela Yamaha que este último está pensado apenas para estrada e, uma vez que apenas temos dois modos (ligado e desligado) a marca não recomenda a sua utilização fora de estrada.
Estrada ou terra?

A apresentação da nova Yamaha Ténéré contemplou as duas versões que vão integrar as fileiras deste modelo para 2025, com um grande foco nos percursos fora de estrada. Isto permitiu tirar boas conclusões sobre o comportamento de ambas, com claro destaque para a Rally no todo o terreno, mas não só. A versão base está com melhorias significativas e em pontos essenciais que vinham a ser apontados como defeitos a algumas gerações. A Ténéré está mais requintada, mas não se esquece de onde vem, bem pelo contrário. Esta moto continua a impressionar pela forma como faz funcionar um conjunto aparentemente simples e inferior à concorrência. A escolha entre as duas versões não é difícil, principalmente porque monetariamente estamos a falar de “apenas” 1.350€, e só as suspensões valem o diferencial – poderíamos ter em conta também a lindíssima decoração da Rally, mas aí será uma questão de gosto pessoal.
CONCLUSÃO
A Yamaha Ténéré está efetivamente melhor que nunca na sua versão base. Com isso, a Rally sobe também a fasquia e oferece um conjunto extremamente equilibrado e com muito potencial. Se pensam em fazer muito fora de estrada a escolha da Rally é óbvia, mas podem sempre olhar para a versão base, porque está muito mais competente e continua a ser um conjunto muito equilibrado, que chegará e sobrará para a maioria dos que procuram uma trail aventureira.
ficha técnica
Yamaha Ténéré 700 e 700 Rally
Motor 2 cilindros, Refrigeração líquida, DOHC, 4 válvulas
Cilindrada 689 cc
Potência Máxima 73 cv às 9.000 rpm
Binário Máximo 68 Nm às 8.000 rpm
Versão limitada A2 Sim
Embraiagem Multidisco em banho de óleo, deslizante
Final Por corrente
Caixa 6 velocidades
Quadro Estrutura tubular em aço
Suspensão Dianteira Forquilha invertida, 43 mm, totalmente ajustável
Suspensão Traseira Monoamortecedor, totalmente ajustável
Travão Dianteiro Duplo disco 282 mm
Travão Traseiro Disco 245 mm
Pneu Dianteiro 90/90 – 21”
Pneu Traseiro 150/70 R 18”
Comprimento Máximo 2.370 mm
Largura Máxima 935 mm
Distância entre eixos 1.595 mm
Altura Máxima 1.455 mm / 1.490 mm
Altura do Assento 875 mm / 910 mm
Depósito 16 litros
Peso (a cheio) 208 kg / 210 kg
Cores Azul, Cinzento / Azul
Garantia 3 anos
Importador Yamaha Motor Portugal
PVP 11.150€ / 12.500€
PONTUAÇÃO
Yamaha Ténéré 700 e 700 Rally
Estética 4
Prestações 4,5
Comportamento 4,5
Suspensões 4,5
Travões 4
Consumo 4
Preço 4