A Royal Enfield reuniu a imprensa Ibérica perto de Madrid, para dar a conhecer o par de modelos que vem reforçar a gama dois cilindros de 650 cc, trata-se da “estilosa” scrambler Bear 650 e a mais elegante Classic 650. Um duplo teste em que o resultado final ficou marcado por uma grande surpresa…
POR BRUNO REBELO • FOTOS ROYAL ENFIELD
A Royal Enfield tem-se mantido fiel ao plano de restruturação e crescimento traçado, e isso tem vindo a dar frutos. Mantendo os pés bem assentes na terra e fiéis aos seus enraizados princípios, a marca tem vindo a ganhar expressão no mercado global, apresentando soluções que ao invés de impactarem com designs arrojados ou disruptivos, têm vindo a apontar num sentido muito próprio, através do lançamento de modelos elegantes, requintados, na moda, com prestações muito equilibradas, preços competitivos, económicas (quer nos consumos como nas próprias manutenções) e sem perderem de vista o que é mais importante, a sua essência, passado e legado! Neste momento, a Royal Enfield atua essencialmente com base em três motores: o 350 cc de um cilindro; 450 cc de um cilindro e o 650 cc de dois cilindros paralelos. Este último, que foi lançado pela marca em 2018, passa agora a ser, com a introdução destes dois modelos, a família com maior expressão na gama RE, com seis variantes diferentes.
Tanto a Bear, como a Classic são novidades que reforçam o espírito da marca, pois a primeira passa a apresentar-se como uma versão scrambler mais extremada, deixando a Interceptor a “jogar” num segmento mais estradista e utilitário, enquanto a Bear passa assumir protagonismo entre as mais puristas scrambler, que marcaram o passado da RE. A Classic, é um clássico (passo a redundância) na gama indiana, agora com maior capacidade de motor, que une o melhor de dois mundos: a carga emocional de uma moto clássica, mas munida das mais recentes tecnologias, disfarçadas com enorme mestria pelo conjunto. Ambos os modelos foram-nos apresentados em simultâneo na simpática cidade espanhola de Alcalá de Henares, a cerca de 40 minutos do centro de Madrid. Em conjunto, partilham da generosidade, aprumo e disponibilidade do motor de dois cilindros de maior capacidade da gama RE, mas com ligeiros acertos, como vamos conhecer em detalhe.
A rebelde BEAR 650

Mostrada no Salão de Milão de 2024, é mais uma resposta às exigências dos clientes e, claro, às tendências do mercado, onde o eterno estilo scrambler continua a ser dos mais desejados quer pelos jovens como por todos aqueles que procuram estilo, que complemente os seus “outfits” diários. Mas este é também um modelo que pretendeu prestar homenagem ao piloto Eddie Mulder, conhecido como “Fast Eddie”, que aos comandos de uma Royal Enfield em 1960 e apenas com 16 anos de idade, ganhou a dura prova de “Big Bear Run”. Está descoberta a inspiração do nome “Bear”!
A primeira impressão com que ficamos da scrambler é muito positiva, prende-nos o olhar à estética e acabamentos, com as cores “vivas” a contribuirem de forma alegre para isso. Embora se tenham inspirado num modelo dos anos ‘60, a verdade é que estamos perante um design muito atual e com equipamento moderno. O motor bicilíndrico paralelo de 648 cc, já bem conhecido na marca, é usado com alguns ajustes, dotando-o de um carácter ligeiramente diferente aos das irmãs, algo mais encorpado e disponível. Temos à disposição 47,4 cv de potência, que o torna imediatamente acessível a detentores de carta A2, com um binário de 56,5 Nm às 5500 rpm, fazendo deste muito encorpado e disponível desde as rotações mais baixas. Se nos regimes superiores de rotação nos brinda com alguma falta de energia, a partir das 5000 rpm, para atacar uma qualquer estrada de montanha, por outro lado, na cidade podemos rodar numa velocidade mais alta, a baixa rotação que os cilindros não reclamam. Depois, basta-nos enrolar punho e deixar que a Bear estique as pernas de forma enérgica. A caixa de seis velocidades mostrou-se precisa e bem escalonada.
Na ciclística, destaque para as suspensões SHOWA, através de uma forquilha invertida de 43 mm na frente, com 130 mm de curso e na traseira dois amortecedores ajustáveis na pré-carga, com 115 mm de curso. O quadro é o mesmo usado na Interceptor, com ligeiras alterações e reforçado para tornar o conjunto mais rígido e acompanhar as prestações superiores. Os pneus de piso misto, são de 19” na dianteira e 17” atrás; apresenta um peso de 215 kg em ordem de marcha e o depósito tem 14 litros de capacidade.
Moderna

De série, a Bear monta iluminação full Led bem como um novíssimo ecrã TFT de 4” onde, além de toda a informação disponível em termos de consumos, Trip, velocidade média e instantânea, temos também a possibilidade juntamente com a aplicação da Royal Enfield emparelhar o nosso telemóvel e termos assim acesso a navegação com o Google Maps.
Ficamos espantados com o simples facto de tirar a moto do descanso e sentir o peso real do conjunto e foi uma agradável surpresa. A Bear é mais leve do que aparenta e apesar de alta, não intimida, graças à boa distribuição das massas. Colocámos o motor a trabalhar e fomos brindados com uma agradável melodia dos escapes, com nota mais grave quando subimos a rotação. Engrenamos a primeira velocidade e somos inundados por uma suavidade que não estávamos à espera, bem como uma agilidade muito bem vinda em cidade. O motor tem bastante binário e não há necessidade de recorrer com frequência à caixa de velocidades. A posição de condução é correta, confortável e descontraída, muito cómoda para ambos os ocupantes. Fora da cidade, aceleramos com mais vontade e a Bear responde sem hesitações, o motor tem muito binário disponível desde as mais baixas rotações. É um conjunto que se mostra divertido, seguro a curvar, apesar de termos achado as suspensões algo rijas. Nota positiva também para os travões que nestes ritmos mais empenhados nunca nos faltaram nem mostraram fadiga. Os pneus, uns MRF indianos, apresentam um design que nos fazem lembrar os Pirelli Scorpion Rally STR, que se mostraram muito competentes, mesmo com o asfalto muito frio e molhado em determinadas zonas. Transmitiram sempre segurança e bom feedback, levando-nos a explorar cada vez mais as competências da Bear. Aqui constatámos que é nos regimes de rotação mais baixos e médios que se sente mais à vontade, sendo que os regimes mais elevados já não acrescentam grande valor. Uma palavra apenas para um aspecto que pode ser melhorado: a injecção, que numa próxima atualização pode fazer com que o motor fique mais linear em toda a faixa de utilização.
A Bear está disponível em três cores: Petrol Green, Golden Shadow e Two Four Nine alusiva ao número com que “Fast Eddie” correu. O preço de venda ao público inicia-se nos 7400€.
CLASSIC 650

Como já havíamos mencionado mais acima, a Classic 650 utiliza o mesmo motor que a Bear 650, mudando apenas a relação da transmissão final e a afinação da injecção. As suspensões continuam a ser SHOWA, mas desta feita a cargo de umas forquilha telescópica de 43 mm com curso de 120 mm na frente e na traseira dois amortecedores com curso de 90 mm, com ajustes na pré-carga da mola. Tal como na Bear, possui sistema de ABS em ambas as rodas, com disco único de 320 mm instalado na dianteira, com pinça de dois pistões e na traseira um disco de 300 mm com pinça de dois pistões. O quadro em tubos de aço provém da Classic 500 Twin de 1948, mas está reforçado para acomodar o novo motor e as prestações mais modernas. Na frente contamos com jante de 19” e atrás uma de 18”. No que respeita à estética temos alguns pormenores que a distinguem como o formato do depósito em lágrima, as luzes diurnas incorporadas no farol dianteiro (em LED) resguardado com uma pala aos estilo dos anos 40, a dupla saída de escape com um silenciador em cada lado, o desenho clássico do farol traseiro (também em LED) com os piscas a seguirem a mesma linha. Destaque para a predominância dos cromados, que tornam este modelo tão especial. Moderno, mas perfeitamente integrado nas linhas e conceito desta Classic, temos o painel de instrumentos digital LCD com todas as informações necessárias, como conta-quilómetros total e parcial, indicador da mudança engrenada, nível de combustível, hora, entre outros. Fica a faltar a informação de temperatura ambiente, que a mim, em particular, me dá muito jeito. Ainda no que respeita à estética, podemos retirar o assento do pendura e ficarmos com uma moto “single seat” com estilo custom que lhe assenta na perfeição.
Boas sensações

Aos comandos da Classic, com muito frio e a pedirmos a todos os anjinhos para que não se cumprissem as promessas de chuva, fizemos os primeiros metros dentro da cidade sem qualquer esforço, uma vez que a postura de condução é relaxada e o motor tão suave que juntamente com o conforto do assento e a boa posição de condução, deixou-nos com a certeza de que esta moto é uma autêntica cruiser e mesmo que tenha o guiador um pouco largo, passamos entre os carros sem qualquer problema ou constrangimento. O motor, esse responde muito bem mesmo em velocidades mais lentas, sem bater, mesmo quando vamos na mudança errada. Depois, é abrir gás que ela sai de forma determinada, mas tranquila. O conjunto está muito bem equilibrado, a moto é estável e sentimos segurança. Negociamos as curvas sem problemas esquecendo muitas vezes que estamos a andar numa moto deste segmento e só nos lembramos quando somos levados pelo entusiasmo e começamos a tocar com os pousa-pés no asfalto, muito por culpa da confiança que os pneus MRF nos dá. Novamente a travagem em destaque, sempre muito competente e com um excelente tacto no travão traseiro. Nas tiradas mais longas, onde conseguimos deixar a Classic desenvolver mais, o motor mostrou-se linear e encorpado, deixando-nos com a clara certeza de que tem muito mais para dar do que a grande maioria do seus utilizadores alguma vez vai exigir! Um conjunto muito equilibrado, eficiente, bem conseguido esteticamente e muito divertido, que chega ao nosso mercado em três opções de cor: Teal (verde), Vallam Red (vermelho) e Black Chrome (preto). O preço inicia-se nos 6800€ e vai até aos 7190€ na versão Black Chrome.

Ficha Técnica
ROYAL ENFIELD BEAR 650 / CLASSIC 650
Motor Bicilíndrico em linha, refrigerado por líquido
Distribuição SOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada 648 cc
Potência Máxima 47,4 cv às 7150 rpm
Binário Máximo 56,5 / 52,3 Nm às 5150 / 5650 rpm
Embraiagem Multi-discos em banho de óleo
Caixa 6 velocidades
Final Por corrente
Quadro Duplo berço em tubos de aço / Estrutura tubular em aço
Suspensão Dianteira Forquilha invertida Ø43 mm, curso 130 mm / forquilha convencional Ø43 mm, curso 120 mm
Suspensão Traseira Dois amortecedores, ajustáveis na pré-carga
Travão Dianteiro Disco de 320 mm, pinça de 2 pistões, ABS
Travão Traseiro Disco de 270 / 300 mm, pinça de pistão simples / 2 pistões, ABS
Pneu Dianteiro 100/90-19”
Pneu Traseiro 140/80-17” / 140/70-18
Altura do Assento n.d./ 800 mm
Distância entre eixos 1460 / 1475 mm
Depósito 13,7 / 14,8 litros
Peso (ordem de marcha) 214 / 243 kg
Cores Verde, preto/cinza, branco / Cromado, verde e vermelho
Garantia 3 anos
Importador Royal Enfield Ibérica
PVP 7400€ / 7190€
PONTUAÇÃO
Royal Enfield Bear 650
Estética 3,5
Prestações 3,5
Comportamento 3,5
Suspensões 3,5
Travões 4
Consumo 3,5
Preço 4
PONTUAÇÃO
Royal Enfield Classic 650
Estética 4
Prestações 3,5
Comportamento 3,5
Suspensões 3,5
Travões 4
Consumo 3,5
Preço 4