Como as motos resistiram ao Coronavírus em 2020
2020 será lembrado como um ano ‘horribilis’ devido à pandemia do Covid19, e todos nós tivemos que, de alguma forma nos adaptarmos a uma nova realidade. Mas para duas rodas, as coisas poderiam ter sido bem piores.
Vamos começar com os números frios. Cerca de 45,7 milhões de motos foram vendidas em todo o mundo de janeiro a novembro de 2020, o que representou uma queda de 15,7% em relação a 2019. Em Portugal, e no mesmo período, houve um decréscimo de 5,3% em relação aos números do ano anterior, correspondente a 30.501 veículos matriculados durante onze meses. Comparando com a queda de 6,58% em Itália – num mercado muito representativo para as duas rodas – existem razões para estarmos confiantes.
Os números nas duas rodas são negativos, é verdade, mas não tão trágicos como em outras áreas da economia, incluindo o sector automóvel, a restauração, a hotelaria, espetáculos, etc. Mas então, por que razão as motos amorteceram a tragédia da pandemia tão bem?
A MOTO É “LIVRE DE COVID”
Todos temos um pouco de medo uns dos outros, tendemos a manter distância de estranhos ao nosso lado e, mesmo ao ar livre, certificamo-nos de que temos a máscara bem colocada quando nos cruzamos com alguém. Além disso, o uso do transporte público e a frequência de lugares lotados tornou-se um verdadeiro desconforto para muitos de nós. No entanto, a moto permite-nos, em vez disso, fazer uma atividade divertida, emocionante e ao ar livre sem necessariamente ter que nos aproximarmos uns dos outros. Além disso, tornou-se uma arma poderosa anti-Covid nas nossas deslocações diárias para o trabalho, onde o carro nos continua a deixar presos no trânsito e a não encontrar estacionamento.
A MOTO É PAIXÃO, E AS PAIXÕES AJUDAM NOS PIORES MOMENTOS
A incerteza para o futuro e para o trabalho, relações sociais limitadas e um grande sentimento de desamparo condicionaram a vida de todos. Quem mais ou menos já não sentiu o peso deste 2020 sombrio sobre os ombros, dedicando uma parte do seu tempo a fazer caminhadas, desporto e outras atividades de lazer para desanuviar o cérebro? A moto é uma válvula de escape perfeita, que permitiu que muitos recuperassem o contato com o mundo e a natureza após meses fechados entre as quatro paredes durante o confinamento.
Houve atividades e desportos proibidos ao longo deste período, mas felizmente os passeios de moto (quase) sempre foram permitidos, e o efeito psicológico positivo em tantos de nós tem sido verdadeiramente extraordinário. Mesmo nós o sentimos durante os nossos testes com motos… que se tornaram cruciais para aliviar pressões e tensões acumuladas neste ano difícil.
Como resultado, todo o setor das duas rodas tem sido impulsionado por uma onda positiva, apesar das dificuldades dadas pela falta de motos nos concessionários e pelo difícil fornecimento de peças de reposição nas oficinas.
O IMPACTO SOCIAL DAS DUAS RODAS
Podemos dizer que 2020 fecha com um sinal negativo nas vendas, mas com uma percepção positiva se olharmos para o cenário global, pois este setor (como todos os outros que dizem respeito a paixões, hobbies e atividades desportivas) não pode ser avaliado apenas com números frios. A moto foi reavaliada por muitos durante estes meses, foi finalmente considerada ao nível social como uma alternativa “inteligente” para sair da monotonia e tristeza dos meses mais sombrios, atraindo mesmo a atenção daqueles que nunca foram motociclistas.
Para os próximos anos, as estimativas globais são para uma recuperação com um aumento acentuado no uso da moto entre 2021 e 2025. Só o futuro confirmará essa previsão positiva, mas estamos felizes em dizer que uma vez mais, apesar das adversidades e do futuro incerto, foi essa essa paixão pelas duas rodas que nos salvou!
QUE FUTURO NO PÓS-COVID?
Agora, chegaram as vacinas, e as primeiras tomas são a notícia do dia nos media de toda a Europa. Mas, qual será o futuro quando a pandemia de Covid-19 acabar? Tudo voltará a ser como antes? Mudarão os hábitos do utilizador das duas rodas, como ficará o nosso pequeno e amado mundo na era pós-Coronavirus?
A atual emergência sanitária, com a sua carga de pessoas infectadas e o número de mortes, é grave, dramática. Tocou a todos, direta ou indiretamente, com uma série de limitações sobre as liberdades pessoais que em algumas décadas vão ficar escritas nos livros de história. Vamos sair dela, isso é certo, mas como? O que assusta analistas, sociólogos, economistas, é o depois. O mundo viveu (ou melhor… está a viver) um tempo suspenso em que não só pequenos hábitos diários foram interrompidos, mas também todo o processo económico que mantém a nossa sociedade de pé parou.
O mundo das duas rodas, em todas as suas formas, encontra espaço nesta sociedade. A moto alimenta as nossas paixões, vive connosco, mas a emergência sanitária entrou na nossa existência como motociclistas, no presente e futuro. A economia sofrerá com o que aconteceu em 2020. O mercado não só experimentará momentos dramáticos, mas provavelmente redefinirá os seus contornos, a sua dinâmica. O fato é que a partir deste período emergiremos profundamente alterados, tanto em termos de abordagem à vida quanto economicamente. Todos! No final, o que emerge é um grande ponto de interrogação.
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