Teste Benelli Leoncino 800/800 Trail – Familia Renascentista
Ensaio realizado por Alfonso Sánchez
Itália é terra pródiga em famílias ilustres e lugar propício para renascimentos tal como o protagonizado pela marca Benelli a partir de 2005 pela mão do grupo chinês QJ.
Fruto de esta nova etapa, a sua família mais felina tem vindo a ganhar especial protagonismo, culminando agora a saga com as novas Benelli Leoncino 800, duas versões onde a primeira está mais conotada com o segmento das motos Naked e a segunda mais dentro do conceito das motos Scrambler.
Farnesio, Sforza e Medici…. São nomes facilmente identificáveis por aqueles que estudaram o Renascimento Italiano. Nomes que estiveram na base do mosaico político e cultural das épocas quatrocentistas e quinhentistas da história transalpina e que contribuíram de forma inegável para a definição do carácter da Itália actual.
De esse mesmo modo, uma marca centenária como a Benelli, conta na sua história com uma dessas castas singulares que contribuíram para marcar o estilo da casa de Pesaro. Essa casta é precisamente a família Leoncino, uma gama actual de modelos que conta com a mais ligeira 250 e duas versões de meio litro, a 500 e a 500 Trail, às quais se somam agora as novas versões 800 e 800 Trail e também a mais pequena, recentemente anunciada, a 125.
No entanto a Leoncino não é uma total novidade pois já conta com uma longa trajectória dentro da Benelli, décadas de história que de uma forma ou outra acabam por gerar o seu reflexo nesta nova geração de modelos.
A chegada das novas Leoncino 800 mantém o estilo que tornou a gama tão popular, mantendo a imagem de família que marca a diferença face a todas as restantes motas que existem no mercado, um conceito que mistura num estilo próprio nakeds e scramblers, com alguns apontamentos estéticos originais que as distinguem das restantes.
As duas versões da nova Leoncino 800 partilham uma série de componentes e diferenciam-se essencialmente em alguns dos seus componentes e ciclística. Basicamente são quatro os pormenores que marcam a particularidade da natureza de cada modelo, a estética do farol dianteiro, as jantes, o escape e as tampas laterais. O suficiente para transformar uma Naked numa Scrambler.
Muito em comum
A Leoncino 800 procura marcar a sua identidade através da adopção de um farol dianteiro ovalado, esteticamente bem conseguido, de tecnologia full LED, com luz diurna facilmente identificável, coroado por um novo painel TFT a cores de instrumentos, de leitura clara e cuja iluminação se adapta à intensidade de luz diurna e noturna. A versão Trail da nova 800 adopta também o mesmo conceito sendo que a cobertura do farol abraça de forma mais envolvente o painel TFT.
O guiador em tubo é de secção larga e as manetes de embraiagem e travão são reguláveis. Os comutadores são simples, cómodos e fáceis de acionar. O depósito de combustível de 15 litros conta com revestimentos laterais ao nível do joelhos e o logo da marca colocado de forma visível de ambos os lados.
O assento de uma só peça é cómodo e permite que alcancemos o chão com os dois pés de forma fácil na versão naked ( 805mm ) e algo mais elevado na versão Scrambler ( 834mm ).
A traseira recortada monta um farol estilizado e simples, com uma estética combinada com os intermitentes, tudo equipado com luzes LED.
Do ponto de vista estético as diferenças entre as duas “leoas” centram-se na adopção de jantes diferentes, de liga na versão naked e de raios na versão Scrambler, e nos pneus que montam. Também os escapes marcam a diferença, com a adopção de escape duplo elevado na Trail/Scrambler, que monta uma tampa lateral que protege as penas do calor do escape, e na versão Naked adopção de escape mais volumoso, com apenas uma saída e colocado em baixo.
Para marcar o AND Leoncino, as duas versões montam, tal como as suas antecessoras, uma pequena figura de um felino estilizado sobre o guarda-lamas dianteiro, realidade inspirada nas Leoncino do passado que montavam umas esfinges similares mas de maior dimensão e feitas em chapa.
O essencial sem complicações
Em termos de ciclística as únicas diferenças que constatamos são no curso e afinação das suspensões assim como na opção das rodas das duas versões.. Quanto ao resto as duas irmãs são quase como duas gotas de água, idênticas em tudo, montando os seus componentes em torno de um quadro em aço de estrutura tipo trelissa. O braço oscilante de duplo braço assimétrico em chapa estampada, apoia directamente no amortecedor, sendo o mesmo regulável em pré-carga de mola e em extensão do hidráulico. Por certo, no caso da Leoncino 800 versão Naked a regulação do amortecedor traseiro é mais fácil do que na versão Scrambler.
As duas italianas montam uma suspensão dianteira Marzocchi invertida com barras de 50mm de diâmetro, sem possibilidade de regulação. No entanto o seu comportamento é bastante bom e de uma enorme eficiência, ao ponto de nos esquecermos totalmente de que não são reguláveis. O curso difere em 10mm entre as duas versões 130mm/140mm sendo que o amortecedor traseiro o curso é idêntico.
A Benelli adoptou nas suas Leoncino 800 um sistema de travagem de excelente desempenho, com duplo disco dianteiro de 320mm, semi-flutuantes, com pinças radiais de 4 pistons. Na traseira monta disco de 260mm com pinça de um único piston, ambos com ABS. Os discos da versão Scrambler são lobulados e os da versão Naked são convencionais
Sobre este tema encontramos o primeiro “senão” pois a versão Scrambler não inclui a possibilidade de desligar o ABS, nem parcial nem totalmente, o que acaba por penalizar a sua utilização em pistas for a de estrada e condicionar a sua utilização por quem se queira por aí aventurar. Pelo menos incluir a possibilidade de desconectar o ABS traseiro seria certamente uma mais valia em termos da abrangência da sua utilização..
A Leoncino 800 standard monta jantes de liga de 17” e pneus Pirelli MT60 com as medidas 120/70-17” na dianteira e 180/55-17” na traseira. No caso da versão Trail, a mesma monta jantes de raios e opta por uma jante de 19” na dianteira em vez de 17”, no sentido de obter um melhor desempenho fora de estrada. Os pneus que monta neste caso são os Pirelli Scorpion Rally STR , pneus que garantem um excelente comportamento misto, tanto no asfalto como na terra.
Com tudo em dia
A Benelli confiou na sua mecânica bicilíndrica de 754cc, conhecida do anterior modelo752 S, para dar vida às suas novas Leoncino. O motor teve que obviamente ser revisto para estar de acordo com as exigências da norma Euro , mantendo porém as suas conhecidas características, com refrigeração líquida, 4 válvulas por cilindro, dupla árvore de cames, injecção electrónica e escape 2 em 1 que termina num silenciador cónico, no caso da versão road/naked e numa ponteira dupla colocada em cima, no caso da versão Trail/Scrambler.
Como resultado o bicilíndrico atinge uma potência de 76,2 CV às 8.500 rpm e um binário máximo de 67 Nm às 6.500 rpm. Valores idênticos para as duas versões embora na prática venhamos a sentir um comportamento distinto entre as duas, como veremos mais à frente. As duas versões oferecem a possibilidade de optar por uma versão limitada para condutores possuidores de carta A2.
Vamos então ao que interessa mas deixemos clara uma situação. Não vás à procura de encontrar o nível de sofisticação de última geração, actualmente existente em outros modelos no mercado, nestas Leoncino. A Benelli optou por produzir motos simples e sem complicações, que vão directas ao coração, muito mais viscerais do que tecnológicas.
Como consequência não encontrarás Control de Tração, nem modos de potência, nem ABS em curva… no entanto desfrutas igualmente ao máximo. A simplicidade é uma das grandes virtudes destas Benelli. Montas-te, dás gás e tudo só depende de ti, um estilo do passado que muitos continuam a apreciar.
Rugidos
A primeira impressão que temos é que se tratam de motos volumosas e de grande dimensão, no entanto quando estamos junto às mesmas e nos montamos a sensação é a de uma moto menos aparatosa. Chegamos bem com os dois pés ao chão e o peso que enquanto parados se faz notar, assim que arrancamos deixa-se de sentir, passando a ter um comportamento até de alguma agilidade. O motor responde bem desde os baixos regimes, com uma entrega uniforme e plana, sem picos de potência que se notem. Nos regimes mais altos sente-se algum esforço embora aguente perfeitamente se assim o exigirmos. É a partir das 4.500 rpm que sentimos uma maior entrega de potência e se nos mantivermos a rodar neste regime ou perto conseguimos obter um enorme prazer na sua condução, sobretudo em estradas reviradas de montanha.
No percurso que realizámos durante a apresentação nos arredores de Pesaro, Itália, as estradas sinuosas de asfalto algo duvidoso serviram para percebermos como em segunda e em terceira podíamos manter um ritmo alto sem baixar o regime de rotação.
A ciclística esteve sempre à altura , embora o amortecedor traseiro tivesse um comportamento seco para o meu peso de 65 Kg. Embora menos notado na versão Trail / Scrambler o certo é que a roda traseira insistia em saltar sempre que negociava algumas irregularidades no asfalto. Talvez ajustando a extensão do hidráulico poderíamos ter minimizado esse problçema, mas não houve tempo.
Já em relação à forquilha dianteira as suspensões Marzocchi invertidas mostraram um excelente desempenho com um quadro que garante uma excelente agilidade ao conjunto tendo em conta o seu peso de 222/234 kg, com uma surpreendente e eficaz distribuição de massas. As mudanças de direção realizavam-se com enorme facilidade e a estabilidade em curva era sempre uma constante. A travagem potente e bem doseada permitia atacar as curvas de forma controlada, embora a transferência de massas em travagens mais apuradas se fizesse notar.
O conforto que sentimos é um ponto em destaque e a liberdade de movimentos proporcionada pelo boa dimensão e ergonomia do assento garantia a adopção da posição mais correcta para realizar as diferentes manobras.
Na versão Trail/Scrambler as sensações são algo parecidas com algumas particularidades. Um pouco mais alta devido ao maior curso das suas suspensões, esta Leoncino de estilo genuinamente Scrambler, não coloca quaisquer dificuldades para subirmos para a mesma. Chegamos perfeitamente com pelo menos um pé ao solo, dependendo da estatura de cada um, e sempre que saímos for a de estrada permite uma condução perfeita em pé, com um comportamento igualmente cómodo e efectivo, segurando o depósito com os joelhos e mantendo os braços numa posição adequada e descontraída, garantindo um excelente controle em estradas de terra. Só o peso algo elevado de 234 Kg e a impossibilidade de desligar o ABS reduzem o potencial de um melhor desempenho fora de estrada.
Já em estrada e apesar de um maior curso de suspensões o seu desempenho é correcto, graças também ao comportamento dos pneus Pirelli Scorpion Rally STR, que proporcionam uma excelente aderência tanto em asfalto como em terra. Realidade que pudemos comprovar já que o percurso escolhido para o teste da versão Trail era toda uma coleção de buracos, pedras, fendas e todo o tipo de irregularidades possíveis e imaginárias. Perante este cenário a Leoncino deu mostras de poder superar todos os constrangimentos e dificuldades apenas limitada por não podermos desligar o ABS e também pela tendência de saltar em excesso na traseira.
Definitivamente estas duas novas versões da família Leoncino, as maiores e mais potentes, estão dirigidas a dois targets de público distintos. Um totalmente asfáltico e outro com tendências de outras aventuras. Duas versões que permitem essa versatilidade renascentista de uma família centenária.
O PVP da Leoncino 800 E5 é de 8.590 euros e está disponível em 3 cores, cinza, verde e antracite. O PVP da versão Trail é de 8.990 euros e está igualmente disponível nas 3 cores referidas anteriormente.
O que mais gostámos e o que menos
Moto+
- Motor com resposta linear e agradável
- Potência suficiente que garante diversão
- Ágil e cómoda de pilotar
Moto-
- Peso algo excessivo
- Suspensão traseira
- ABS não desligável na versão Trail
Ficha Técnica Benelli Leoncino 800/ 800 Trail
Motor tipo: | Bicilíndrico 4T, DOHC, LC, 8V | |
Diámetro x curso: | 88 x 62 mm | |
Cilindrada: | 754 c.c. | |
Potência máxima: | 76,2 CV a 8.500 rpm | |
Par motor máximo: | 67 Nm a 6.500 rpm | |
Alimentação: | Injecção electrónica | |
Emissões de CO2: | 114 g/km | |
Caixa: | 6 velocidades | |
Embraiagem: | Hidráulico, multidisco em banho de óleo | |
Transmissão secundária: | Corrente de O’rings | |
Tipo chasis: | Estrutura em tubo de aço do tipo Trelissa | |
Geometría de direção: | N.d. | |
Braço Oscilante: | Duplo braço assimétrico | |
Suspensão dianteira: | Forquilha invertida de 50 mm com 130/140 mm de curso | |
Suspensão traseira: | Monoamortecedor, ajuste de pre-carga e extensão con 130/140 mm de curso | |
Travão dianteiro: | 2 discos de 320 mm com pinças radiais de 4 pistons e ABS | |
Travão traseiro: | Disco de 260 mm com pinça de duplo piston e ABS | |
Pneus: | Versão Road/naked – 120/70-17 e 180/55-17 Versão Trail/Scrambler – 120/70-19 e 170/60-17 | |
Distância entre eixos: | 1.460/1.480 mm | |
Altura assento: | 805/834 mm | |
Peso : | Em ordem de marcha 222/234 kg | |
Depósito: | 15 l | |
Consumo médio: | 4,9 l/100 km | |
Autonomía teórica: | 300 km | |
Garantía oficial: | 3 años | |
Importador: | Multimoto | |
Contacto: | 256 000 200 | |
Web: | Benelli.pt |
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