Parte 1
A Vincent HRD conheceu dois períodos de glória, fundada por um visionário em 1924 e renovada por outro em 1943…
“Convém mencionar que Howard Raymond Davies ganhou o TT da Ilha de Man em 1925 na sua própria moto, estabelecendo um recorde de volta de 106 Km/h”

Foi durante a primeira guerra mundial que um jovem piloto de caça britânico, Howard Raymond Davies, foi abatido pelos alemães e feito prisioneiro.
Durante o seu cativeiro, Davies sonhou com construir uma moto, a melhor moto do mundo. Em 1924, 6 anos após o fim da grande guerra, associou-se a um engenheiro chamado E. J. Massey para conseguir o seu objectivo, e começaram a fazer a primeira HRD.
O resultado foi uma moto de aspecto moderno e estiloso, movida por um motor Rudge. Outras se seguiram, como motores fornecidos pela famosa JAP de J. A. Prestwick & Co., situada no Norte de Londres.

As motos eram avançadas para a época, empregando muitas técnicas novas que influenciaram outras marcas bem até aos anos 30. Convém mencionar também que Howard Raymond Davies era um piloto de sucesso, que ganhou o TT da Ilha de Man em 1925 na sua própria moto, estabelecendo um recorde de volta de 106 Km/h. Lamentavelmente, a empresa caiu em dificuldades financeiras pouco depois, vindo a fechar as portas em 1927. Porém, quase ao mesmo tempo, outro jovem chamado Philip Vincent estava igualmente interessado em construir uma moto avançada e, ao completar os seus estudos na Universidade de Cambridge em 1928, concretizou as suas ambições ao comprar por £500 libras a marca e espólio da HRD. Estabelecido em Stevenage, no condado de Hertford, alterou o logótipo da marca para reflectir a sua aquisição e assim nasceu a Vincent HRD.
O primeiro logótipo consistia dum grande HRD com um pequeno Vincent por cima. Assim permaneceria até 1949, quando a empresa começou a exportar a sério para o mercado americano em franca expansão e, para evitar confusão com as mais conhecidas iniciais HD da Harley-Davidson Motor Co., o HRD desapareceu deixando apenas as letras Vincent num pergaminho dourado.

Por alturas de 1934, sete modelos diferentes estavam à venda, quatro deles com o próprio motor da casa, um monocilíndrico de 499 cc. Esse motor básico nunca mudou, pois como eles diziam, “se funciona não mexas”.
Philip Vincent, no entanto, gostava demais de experimentar com motores e novas técnicas para estar quieto. Um visionário sem medo de incorporar novas ideias na produção, implementou entre 1928 e 1934 mais de 20 modelos diversos, a uma média de mais de 3 modelos novos por ano.

Em 1931, um engenheiro de grande talento, chamado Phil Irving, entrou para a Vincent como Engenheiro Chefe e por alturas de 1936 tinha desenvolvido o primeiro bicilíndrico Vincent HRD, juntando dois motores de 499cc.
A nova moto foi chamada Vincent Series A Rapide. Utilizava a primeira suspensão traseira com um sub-quadro triangular de molas sob o banco, que se viria a tornar normal em todas as motos da marca. Outras novidades incluíam mudanças por pedal, caixa de 4 e um descanso lateral.
O motor obtido pela junção dos cilindros de 499cc dava um V de 998 cc que debitava 45 cavalos, numa configuração refrigerada a ar que atingia os 176 Km/h. Para a época, tinha a mesma conotação duma Hayabusa de agora… pouco depois, em 1937, Phil Irving deixaria a Vincent para ir trabalhar para a Velocette, onde criou uma nova configuração de suspensão sob o banco, mas em 1943 estava de volta ao seu antigo trabalho para desenvolver uma moto que pudesse suceder à Series A Rapide, a que chamaram Series B Rapide. Aparte continuar a ser um bicilíndrico em V de 998 cc, qualquer semelhança com a anterior era mera coincidência…

O nascimento da Series B Rapide
A B era uma moto completamente nova das rodas para cima. Os novos conceitos de engenharia empregues dotaram-na dum monocoque que dispensava um quadro convencional onde se prendia o motor, como em todas as outras motos de então. O tanque de óleo montava a suspensão traseira e dianteira directamente, com o depósito a esconder a maioria dos apoios do motor, pelo que este parecia flutuar no ar sem meios de suporte visíveis. A alimentação por carburador duplo e a posição do escape traseiro que apontava para diante estabeleceram o modelo como o pináculo da tecnologia contemporânea.
(Continua)















