A vitória de uma pequena Kove na final das SSP300 do Mundial de Superbike este fim de semana em Jerez quase passou despercebida… mas não devia.
É a primeira vez que uma moto chinesa vence um campeonato Mundial, ainda por cima gerida por uma equipa privada e sozinha contra uma exército de Kawasaki e Yamaha.
O paralelo nas vendas de motos de estrada é óbvio: Certas marcas e modelos chineses são já um fenómeno de vendas na Europa. A começar por Portugal, onde a Benelli do Grupo Multimoto vende, vende e vende – e outras marcas estão a ponto de a seguir.
E já nem são só as 125 compradas por empregados de escritório com carta de carro que não percebem nada de motos. Nem os brasileiros algo básicos da UberEats que acreditam que a Benelli ainda é uma marca italiana.
O modelo Benelli que mais vende é a TRK, uma Aventura que começou por ser uma 500 e já vai em 700… mas podia ser uma QJ Motor ou uma CF Moto. Ou uma Kove ou Macbor.

O argumento de que Portugal é um mercado pequeno e pobre não cola, porque, falando em CF Moto, a marca já vende mais em França que a Ducati, KTM e Suzuki.
É que as chinesas-imitação que depois se desfaziam e não havia peças para as reparar já eram. Agora, são bem feitas, bem equipadas e tecnologicamente ao nível do mais avançado. E não, também não é apenas uma questão de preço…
No ano de 2025, até agora, o segmento chinês registou em França 4.741 novas unidades, obtendo uma quota de mercado de 3,38%.
Comparativamente, a Ducati tem 3.175 unidades (2,26%), a KTM tem 2.977 (2,12%) e a Suzuki tem 3.936 (2,81%). Em suma, a CFMoto vende mais do que três marcas históricas, num país que tradicionalmente aprecia a arte e o design.
Claro que isto pode ser posto em contexto em comparação com as marcas ‘grandes’, onde a liderança pertence à Honda com 31.677 unidades, seguida da Yamaha com 22.485, BMW com 14.591, Kawasaki com 11.101 e até Triumph com 8.583.
A marca chinesa posiciona-se a seguir, mesmo assim com um número significante. E quem diz França, como exemplo, diz muitos outros países da UE, onde os motociclistas se importam mais com o design, acabamento e tecnologia que muitas vezes com o preço (se não for um exagero!).

A CFMoto é apenas um exemplo, neste aspeto: a robustez em utilização corresponde ao aspeto, a estética convence, a qualidade dos materiais não desaponta e o preço competitivo é inegável.
Quando falamos de preço inferior aos modelos do Japão e da Europa, podíamos incluir a Kove, a QJ Motor, a Macbor, a Zontes, a Mitt, a Cyclone, a Keeway que há muito é um caso sério, e ultimamente, até a recém-chegada Benda. Todas começaram por comercializar pequenas 125, algo básicas, mas económicas e baratíssimas. Hoje, quase todas têm modelos na gama dos 600-800cc, com equipamento completo e equipadas com eletrónica, travões e suspensões de marcas premium europeias ou japonesas como Bosch, Brembo ou Kayaba.
O marketing acompanhou a par e passo, com stands imponentes, publicidade nos meios especializados, e ofertas como malas incluídas ou acessórios extra, ajudando a construir uma identidade de marca forte.
E nem vamos enveredar pelo caminho de mencionar quantas destas marcas desenvolveram os seus atuais modelos a fabricar unidades para conceituadas marcas europeias ou americanas.
Com um bocadinho mais de esforço, o último obstáculo, a desvalorização galopante, será também ultrapassado com melhor assistência, uma rede eficiente de concessionários e mecânicos habituados às necessidades específicas da manutenção.
No fundo, isto foi exatamente o que se passou com as japonesas há meio século… primeiro, foram olhadas com desconfiança, escárnio, até, depois provaram-se superiores e sabemos onde isso acabou, com o quase desaparecimento da indústria europeia da altura. Só que, ou já não nos lembramos, ou nem éramos nascidos para ter o termo de comparação presente…