Serve esta crónica para vos revelar um dos grandes segredos do mundo das duas rodas. Claro que os mais exigentes pensadores que não sabem andar de moto poderão argumentar que este silogismo serve para qualquer atividade lúdica, pois então que sigam felizes para os seus encontros de Padel ao volante das suas latas de sardinha. Um verdadeiro álibi tem que ser credível, tem que ter uma estrutura fiável, ser fácil de vender e sobretudo, de comprar. Este funciona tanto melhor quanto maior for o número de pessoas a corroborar a sua veracidade. E se não forem muitos, que ao menos sejam bons.
Um simples – “Amor, vou dar uma volta de moto” – é completamente diferente de um – “Vou andar de moto com os meus amigos, OK?” – até porque o espírito de grupo oferece um escudo impenetrável de blindagem a outras questões – “Onde? Com quem? A que horas regressas? – dando azo à névoa típica de que não tem interesse em ser assertivo nas respostas. A partir desse momento, tudo é possível. Motores são ligados e pneus cumprem a sua função ao abraçarem o asfalto (ou de esgravatarem a terra solta, o efeito é o mesmo), mas independentemente de ser uma ida ao café, ou uma volta de três dias a uma longínqua região serrana, a aventura está selada com o lacre das boas desculpas.
Percebo perfeitamente a magnitude da solidão introspetiva de quem viaja de moto sozinho, é uma faceta deste mundo que me agrada bastante e a qual gostava de poder praticar mais vezes, mas a partilha é fundamental. É fundamental porque falamos todos a mesma linguagem, e mesmo que uns sejam mais fluentes, no final do dia queremos apenas estar no registo “fora da grelha”, tipo miúdos com os seus brinquedos em cavalgadas épicas a caminho do horizonte. Algo assim tão básico só pode ser colado com a paixão por uma máquina que nos desafia, enaltecendo as nossas virtudes e expondo os nossos receios.

Por estes dias está um grupo de amigos a combinar uma ida à serra da Gardunha para fazer uns quilómetros fora de estrada. Têm o material todo pronto, entre reboques e carrinhas a logística está toda montada, as paisagens são de sonho e a casa com lareira promete conforto. Chove copiosamente há mais de uma semana e nas previsões não existem melhorias. Para além das questões mais óbvias no que toca à escolha do equipamento impermeável, discute-se o menu de comes e bebes para os três dias, e não menos importante, quem é que leva a guitarra. Ninguém ousa desistir. O Álibi é bom demais…