A jovem descomplicada

O caminho da Royal Enfield é claro, oferecer uma gama de opções que sejam realmente úteis, versáteis e acessíveis ao seu público alvo. A Guerrilla é outro dos modelos desenvolvidos com base nestes pressupostos, levando a marca a sair da sua zona de conforto para oferecer algo de novo, moderno, elegante, simples, acessível e económico, com foco no público mais jovem, não e que não ultrapasse a barreira dos 6000€.
POR Domingos Janeiro • FOTOS Paulo Calisto

Nem todas as monocilíndricas da Royal Enfield são iguais. Os apelidos HNTR, Meteor e Classic partilham a mecânica monocilíndrica de 350 cc, refrigerada por ar, atualizada em 2021, mantendo-se também a Bullet dentro da gama “single” do fabricante indiano. Não podemos esquecer que a Bullet 350 é muito mais que um simples modelo no catálogo, pois continua a ser a moto mais antiga da história fabricada de forma ininterrupta, algo que acontece desde 1932.

A chegada da segunda geração do modelo trail A2, no ano passado, a Himalayan 450, trouxe uma lufada de ar fresco a uma marca de corte mais clássico e que agora, aposta também em produtos mais jovens sem perder os seus valores base e a história que o seu emblema centenário carrega.
Urbana e divertida, a Guerrilla 450 chega com estrondo para romper com o convencional, nesta nova visão da marca indiana, com vista a conquistar novos corações, além dos meramente nostálgicos. Partilha a plataforma com a Himalayan, ainda que devidamente adaptada ao novo espírito e utilização.

Com a Guerrilla 450, a marca indiana passa a oferecer um leque de dez modelos e três motorizações. Vale a pena recordar que a Royal Enfield apresentou a sua primeira moto em 1901 e tem sabido revitalizar-se nesta última década, ampliando e melhorando a presença no segmento das “clássicas modernas” ao qual sempre foi fiel.

Propriedade do gigante Eicher Motors Limited, possui três fábricas de produção na Índia, além de um moderno centro de desenvolvimento tecnológico em Bruntingthorpe (perto de Birmingham, Inglaterra).
Este pormenor mantém-os ligados ao passado, apesar da marca ser 100% indiana desde o fecho da fábrica de Redditch em 1967 e posterior fim de produção no Reino Unido em 1970.

EQUIPAMENTO ESSENCIAL
A Guerrilla 450 recorre ao mesmo motor monocilíndrico Sherpa de 452 cc com refrigeração líquida já visto na nova Himalayan 450. Falamos de um bloco com duas árvores de cames à cabeça, quatro válvulas, capaz de debitar 40 cv às 8000 rpm e 40 Nm de binário às 5500 rpm (85% do qual está disponível logo desde as 3000 rpm). Completa-se com o acelerador eletrónico Ride by Wire, duplo modo de condução (Eco e Performance), caixa de seis velocidades e embraiagem deslizante assistida. Forquilha telescópica convencional Showa, monoamortecedor traseiro com bielas, jantes de 17”, travão dianteiro com um disco de 310 mm, pinça Bybre de dois pistões e pneus CEAT Gripp XL Rad Steel, são outros detalhes que completam o conjunto. Acrescentar ainda a iluminação LED, luz de presença traseira integrada nos piscas, tomada de corrente USB-C, ecrã TFT de 4” com conectividade, navegação Google e descanso central.

COMBATER A CIDADE
A Guerrilla é uma moto muito acessível, com assento a 780 mm do solo que facilita a vida aos utilizadores, na hora de apoiar ambos os pés no chão. O guiador largo com apoios altos é bem vindo porque nos brinda com uma postura de condução confortável e natural. Em andamento, o monocilíndrico de 452 cc mostra-se muito disponível, empurra com vigor e sente-se muito cheio. O regime de rotação baixa (até às 4000 rpm) é muito útil em cidade e os 85% do binário máximo logo disponível a partir das 3000 rpm faz-se sentir, e bem!

A faixa média de rotação é suficiente para nos fazer divertir numa condução normal, mas quando queremos, permite-nos aumentar o ritmo de forma contundente até às 9000 rpm, altura em que entra em cena o corte. Um dos pontos menos positivos deste modelo, é o tacto inicial do acelerador, muito “on/off” até mesmo no modo Eco, que requer algum hábito, principalmente em cidade em que temos que parar com frequência ou rolar a baixa velocidade com uma aceleração constante. Algo a rever numa próxima atualização!

Logicamente que, se conduzimos a maior parte do tempo na faixa de rotação média/alta, sentimos mais a presença das vibrações, principalmente nas mãos, com os retrovisores a perderem mesmo grande parte da nitidez. A caixa de seis velocidades com embraiagem deslizante assistida funciona muito bem e os modos de condução disponíveis (Eco e Performance) podem ser alterados de forma muito simples e fácil a partir do comando “M” colocado no punho direito.
É uma dessas motos que gostam que as usemos de forma mais calma e tranquila, sem grandes exigências, até no capítulo da travagem… prefere que a deixemos mais “soltinha” e fazer as curvas de forma “rolante” e suave, do que exigirmos muito nas travagens mais fortes. Quando o fazemos, notamos que não foi talhada para essa mordacidade imediata.

Ao nível da ciclística, a Guerrilla 450 surpreende e muito. À partida, poderíamos pensar que estamos perante a plataforma Himalayan com diferente carroceria, mas é puro engano. A “espinha dorsal” é específica para este modelo e ao contrário do que nos parecia, até o quadro e sub-quadro são específicos, conseguindo-se geometrias mais fechadas e desportivas face à irmã trail, além dos seus 185 kg em ordem de marcha, responsáveis por conseguir este resultado final que nos brinda com grande agilidade, manobrabilidade e mudanças de direção rápidas.
A adaptação a este modelo é rápido e imediato. Tudo é fácil e familiar desde o primeiro contacto. Não é uma moto que nos desafie a rumar até à estrada revirada mais próxima para desfrutar de uma condução de estilo mais desportivo, pretende sim ser uma forte aliada ao bem estar diário, contribuir para uma mobilidade mais eficiente, sustentável e económica. Apesar de trazer instalados de série pneus mistos, estes são de tacos baixos e com banda central lisa, com um comportamento em estrada tão equilibrado que parecem 100% lisos. Na prática e a seco, surpreendem pela aderência e “feedback” que transmitem, levando-nos a curvar com segurança até atingirmos os limites impostos pelos avisadores dos pousa-pés.

A forquilha dianteira não tem possibilidades de ajuste, enquanto que o amortecedor traseiro oferece apenas a possibilidade de ajustar a pré-carga da mola. No entanto, é um conjunto que se sente muito equilibrado e as suspensões trazem um bom “setting” de origem. O mesmo acontece com os travões, não são os mais potentes do mercado, mas cumprem, apresentam bom tacto e quando usados em conjunto, dianteiro e traseiro, oferecem boa capacidade mesmo nas travagens mais fortes de emergência.

A Royal Enfield Guerrilla 450 Está disponível em três versões (Analogue, Dash e Flash) e cinco opções de cor, pelo que, dependendo da cor, ou do equipamento que traz instalado de série, o preço vai variando. A Analogue está disponível nas cores Smoke Silver (cinzento mate), pelo preço de 5247€ (não inclui ecrã TFT).
Os acabamentos Playa Black (preto/amarelo/vermelho) e Gold Dip (castanho/vermelho) estão disponíveis na versão Dash (ambas com painel TFT) por 5387€. Na versão Flash, os acabamentos Yellow Ribbon (amarelo/preto) e Brava Blue (branco/azul) ascendem aos 5447€. Como rivais monocilíndricas da Guerrilla 450, no segmento retro-scrambler A2 temos a Fantic Caballero Scrambler 500, Husqvarna Svartpilen 401 ou a Triumph Speed 400.
O mundo dos acessórios
A nova geração Royal Enfield sempre assumiu que a gama de acessórios é de extrema importância, e por isso, praticamente todos os modelos da sua gama, contam com uma ampla oferta. A Guerrilla 450 não é excepção, permitindo-nos dar um toque pessoal à nossa moto, onde podemos encontrar diversas opções de assentos, retrovisores, alforges laterais, proteções (cárter, farol, motor, etc.), pequenos ecrãs para o farol, entre muitos outros.

Através da Guerrilla a Royal Enfield começa a virar o foco do estilo puramente clássico para outro mais jovem, uma postura mais alegre e descontraída que pretende conquistar outros públicos que, até agora, estavam distantes da Royal Enfield. Uma moto simples, equilibrada e fácil de conduzir, em linha com a HNTR 350, mas com um motor mais desportivo, competitivo e eficiente. Uma naked urbana confortável, muito divertida em estradas reviradas e uma forte aliada no campo económico.
Muitas vezes, o mais simples é o que funciona melhor!
ficha técnica
Royal Enfield
GUERRILLA 450
Motor Monocilíndrico, DOHC, 4v, refrigeração líquida
Cilindrada 452 cc
Potência Máxima 40 cv às 8000 rpm
Binário Máximo 40 Nm às 5500 rpm
Limitável a A2
Caixa 6 velocidades
Quadro Trave em tubos de aço
Suspensão Dianteira
Forquilha convencional Showa de 43 mm, curso 140 mm
Suspensão Traseira
Monoamortecedor com bielas, ajuste da pré-carga, curso 150 mm
Travão Dianteiro
Disco de 310 mm com pinça de dois pistões
Travão Traseiro
Disco de 270 mm com pinça de dois pistões
Pneu Dianteiro 120/70 – 17”
Pneu Traseiro 160/60 – 17”
Distância
entre Eixos 1.440 mm
Altura do Assento 780 mm
Peso declarado 173 kg (a seco)
Depósito 11 litros
Consumo 3,39 l/100 km
Garantia 3 anos
Importador
Motorien S.L.U.
PVP a partir de 5.247 €
PONTUAÇÃO
Royal Enfield
GUERRILLA 450
Estética 3
Prestações 3
Comportamento 4
Suspensões 3
Travões 2
Consumo 2
Preço 4