A Ducati Multistrada dispensa apresentações para os fãs da marca italiana, e também para todos o que estão mais conscientes do que se passa no mundo das motos trail. Multistrada começa a ser quase uma submarca da Ducati, ganhando por si só, seguidores e admiradores em todo o mundo, pelas suas qualidades e características.
Este modelo e um dos mais desejados da atualidade e é também um dos maiores focos de investimento por parte da casa italiana, contando quase sempre com tecnologias inovadores, até mesmo provenientes do MotoGP, algo que apenas costumamos ver nas super desportivas. Para 2025, a Ducati elevou ainda mais o jogo, com renovações, aparentemente mínimas, mas que oferecem um conjunto significativamente melhorado.
Mascarada de V4
Uma máscara nem sempre é algo mau, e no caso desta Multistrada não é de todo algo mau. Este motor tem sofrido diversas melhorias ao longo doa anos e tem sido um dos pontos chave do sucesso da maior trail da Ducati. Com 1.158 cc, 170 cv e 124 N.m de binário máximo, falamos de um dos motores mais potentes do segmento, e também um dos mais entusiasmantes. E quando dizemos que esta moto está mascarada de V4, é porque nos instantes iniciais aos comandos da Multistrada não sentimos que estávamos com um motor e 4 cilindros em V debaixo de nós, por toda a suavidade e facilidade de circular a baixa velocidade e baixas rotações.
A linearidade e capacidade de ganhar vivacidade desde as rotações mais baixas é efetivamente impressionante e isto só acontece por haver uma excelente relação entre os modos de motor / acelerador eletrónico e o desenvolvimento do motor. Infelizmente a chuva não nos permitiu explorar esta moto como gostaríamos – e como sabemos que a Ducati a pensou – mas deu para perceber bem a diferença entre os diversos modos de condução, com o Wet a proporcionar uma resposta muito linear e menos potência (cerca de 114 cv) o que torna esta moto extremamente civilizada e fácil de pilotar, para qualquer condutor, independentemente do nível de experiência.
Os modos de condução são 5, sendo que os únicos que têm menos potência são os Wet e Enduro, deixando assim os Touring, Sport e Urban com 170 cv, mas com curvas de potência diferenciadas. Contudo, mesmo com a potência máxima disponível, este motor é bastante amigável, pelo menos até às 7.000 rpm onde revela toda a sua alma e intensidade, tornando esta Multistrada V4S numa moto desportiva autêntica.
Deixou-nos de boca aberta a forma como a Ducati conseguiu evoluir um motor que tinha a fama de ser algo desagradável de conduzir em baixos e médios regimes, para algo que é agradável em toda a faixa de rotação e mesmo assim não deixou de lado o seu carácter mais desportivo e excitante, oferecendo uma experiência de condução muito prazerosa em praticamente todas as situações.
Conforto ou desportividade?
Como sugere o subtítulo, a questão que se coloca quando olhamos para esta Multistrada é se será confortável, ou se vai pender mais para o lado desportivo. A verdade é que à semelhança do motor, a Ducati conseguiu um equilíbrio quase perfeito neste departamento. Agora com a possibilidade de ajustar de forma independente a suspensão eletrónica Marzocchi em praticamente todos os parâmetros e dentro de cada modo, podemos ter uma moto que faz tudo bem, em qualquer situação.
Numa afinação mais suave, conseguimos passar por buracos e irregularidades na estradas sem que nos apercebamos de que lá estão. Pedindo um pouco mais de firmeza no painel TFT de 6,5”, conseguimos atacar as curvas como se estivéssemos sentados numa Panigale – ou perto disso. A polivalência que a Ducati oferece nos componentes equipados nesta Multistrada V4S é imensa, com as suspensões a nunca revelarem estar a necessitar de se esforçar em demasiada em qualquer situação.
O novo sistema de deteção de lombas ou irregularidades também é bastante interessante, uma vez que ao detetar que a dianteira está a passar numa irregularidade, a informação é passada para o amortecedor traseiro para que este possa reagir da melhor forma a esse mesmo ressalto, sem perturbar o condutor. É efetivamente difícil dizer se o sistema atua ou não, mas podemos confirmar sim que o novo amortecedor traseiro funciona de forma sublime na absorção de ressaltos, mantendo uma ótima leitura da estrada – placebo ou não, poderá mesmo ser deste sistema inovador da Ducati. Ainda no departamento do que funciona muito bem, temos de referir a travagem que está a cargo da Brembo e não sendo uma surpresa a sua eficácia, agradou-nos bastante pela precisão que sentimos na mão direita e também no pedal de travão traseiro.
Mesmo à chuva, nica sentimos o ABS a intervir, a não ser de forma propositada, algo que foi influenciado claramente pelo travão de motor bastante eficaz desta moto. E falando em eficácia, temos de referir o QuickShifter desta Multistrada V4S. Maravilhoso. É o único adjetivo que nos surge quando pensamos no assistente de passagem de caixa desta moto. Em qualquer rotação, a qualquer velocidade, em aceleração, a travar, seja qual for a situação, este QuickShifter é sublime e muito suave no seu funcionamento, acrescentando uma dose de prazer extra quando começamos a puxar dos galões do V4 que conta também com uma sonoridade revista.
Arma tecnológica
Como referimos no início, esta Multistrada V4S é um dos modelos que maior desenvolvimento te recebido por parte da Ducati ao longo do anos, sendo mesmo inovadora em muita da tecnologia que incorpora. Não querendo deixar a tradição de parte, a marca italiana equipou esta moto com novos apetrechos eletrónicos e com melhorias nos já existentes.
O ajuste da suspensão dentro de cada modo de condução foi uma novidade muito bem-vinda, assim como a melhoria do sistema DVO (Ducati Vehicle Observer), que tem agora melhores leituras e ajusta a eletrónica consoante o peso colocado na moto. Este sistema está também diretamente ligado à travagem combinada que está sempre ativa no modo 3 do ABS e ativa as pinças dianteiras quando pressionamos o pedal de travão traseiro, algo que pode funcionar para quem viaja bastante com a moto carregada ou passageiro, uma vez que permite uma travagem mais repartida e de forma mais inteligente, mantendo as transferências de massa em travagem mais homogéneas.
Para os que circulam mais sozinhos e querem uma condução mais desportiva, o modo 3 de ABS vai ser desligado depois da primeira travagem, com quase 100% de certeza. Mas ainda no arsenal tecnológico, esta moto conta com luz de nevoeiro traseira (uma novidade), aviso de colisão graças ao radar traseiro, algo que pensámos inicialmente ser apenas para inglês ver, mas que funciona bem e nos mantém alertas para eventuais perigos na estrada quando vamos a olhar para a velocidade ou qualquer outra informação no painel. Ao detetar que estamos ainda a acelerar e o obstáculo à nossa frente se está a aproximar de forma demasiado rápida, recebemos avisos no painel, que vão crescendo em tamanho à medida que nos aproximamos desse obstáculo.
Não podemos deixar de parte também o fantástico painel TFT de 6,5”, que é controlado por um conjunto de comandos bastante intuitivos no lado esquerdo do guiador e que conta agora com a informação mais organizada e que integra a navegação no painel.
Versão de jantes raiadas vs alumínio
A Ducati disponibilizou nesta apresentação internacional duas versões da V4S, uma com jantes de raios e outra com jantes de alumínio forjadas. Sendo que cada uma delas apresenta uma “dieta” de 3 kg e 2kg respetivamente, relativamente à geração anterior. Interessante foi perceber que o comportamento das motos não se alterou em demasia, sendo mais notório pela diferença dos pneus – mais cardados nas jantes raidas – do que propriamente pelo peso ou tipo de jante.
Naturalmente a moto escolhida para realizarmos o percurso fora de estrada foi a versão com os pneus mais todo o terreno, onde ficou bem patente que esta V4S é uma trail mais focada na estrada, mas que vai possibilitar explorar alguns locais fora de estrada, e, dependendo da experiência do condutor, vai permitir fazer alguns malabarismos interessantes.
Difícil de criticar
Temos dito frequentemente que as marcas estão, cada vez mais, a criar produtos homogéneos e que apresentam poucas falhas, pelo menos dentro do parâmetros para que são pensados. Nesta Ducati e ainda mais difícil de apontar algo que nos tenha feito ficar desgostosos com a moto, porque na realidade não há nenhum ponto em que a moto seja má, ou perto disso.
Podemos apenas apontar o calor que sentimos nas pernas a baixas velocidades como uma crítica, ainda que esse calor seja bastante reduzido com a nova tecnologia de desativação de dois cilindros, sendo igualmente baixo quando falamos de um motor V4 com cerca de 1.200 cc. O tarefa mais complicada do dia nos arredores de Roma não foi manter o corpo seco, nem mesmo dominar esta moto de mais de 250 kg fora de estrada em terrenos que achámos não ser possível passar com uma moto com uma capacidade tão desportiva.
O difícil foi arranjar defeitos a apontar à Ducati Multistrada V4S, mostrando que todo o esforço e desenvolvimento colocado nesta moto está a dar frutos a cada ano, estando a mesma cada vez melhor e a atingir um patamar de performance elevadíssimo em todos os campos, seja na parte desportiva, no conforto, ou mesmo na fiabilidade, uma vez que a Ducati confia tanto neste produto que coloca os intervalos de manutenção de 15.000 em 15.000 km e o ajuste de válvulas aos 60.000 km.
Pelo seu preço, não será certamente uma moto para todos, mas para todos os que tenham a capacidade económica de pensar sequer numa V4S, a escolha fica muito fácil depois de nos sentarmos aos comandos desta trail que pende claramente para uma moto sport touring, mantendo aquilo que os amantes das motos trail mais gostam. Como é possível? É uma pergunta que só a Ducati conseguirá responder, mas que provavelmente nunca o vai fazer. O importante a reter é que a Ducati Multistrada V4S está melhor que nunca. Mais suave, mas mais desportiva. Mais confortável, mas mais precisa. Mais exuberante, mas menos exagerada. Mais civilizada, mas sempre Ducati.
FICHA TÉCNICA / DUCATI MULTISTARDA V4S
Motor: Dois cilindros em V, refrigerado por líquido
Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada: 1.158 cc
Potência máx.: 170 cv às 10 750 rpm
Binário máx. : 124 Nm às 9 000 rpm
Limitável a A2: NÃO
Velocidade máx.
Embraiagem: Deslizante, multi-discos em banho de óleo
Caixa: 6 velocidade
Final: Por corrente
Quadro: Monocoque em alumínio
Suspensão Dianteira: Forquilha Marzocchi, totalmente ajustáveis eletronicamente
Suspensão Traseira: Amortecedor, totalmente ajustável eletronicamente
Travão Dianteiro: Dois discos 320 mm, pinças Brembo Stylema de 4 pistões, ABS
Travão Traseiro: Disco 280 mm, pinça Brembo de duplo pistão, ABS
Pneu Dianteiro: 120/70 ZR19
Pneu Traseiro: 170/60 ZR17
Altura do Assento: 840 – 860 mm
Distância entre Eixos: 1566 mm
Depósito : 22 litros
Peso (em ordem de marcha): 254 kg
Cores: Vermelho; Preto; Branco
Garantia: 4 anos
Importador: Ducati Ibérica
Preço: 24.940€
Equipamento
Blusão: Macna Synchrone
Calças: Macna Synchrone
Luvas: Ixon Eddas
Capacete: Schubert E2
Botas: Ixon Kassius