Husqvarna FE350 2019: Ensaio Off Road

By on 11 Abril, 2019

Será que a cilindrada 350 continua a ser a preferida dos portugueses no que toca a motos de Off Road (Enduro/TT)?

É verdade que a evolução nas vendas de motos com motores a 2 tempos tem sido abismal, sobretudo desde que a KTM e a Husqvarna lançaram as versões TPI de injecção directa, reduzindo significativamente o aspecto poluente das 2 tempos, e talvez ainda mais significativo, eliminando o grande incómodo de fazer pré-mistura.

As 2 tempos ganharam uma nova vida, e passaram a representar nestes últimos anos cerca de 50% das vendas da KTM e Husqvarna, mas também da Beta e da Sherco, refiro-me às gamas de Off Road.

Mas é de realçar o crescimento da Husqvarna neste mercado Off Road, o que significa que cada vez mais gente exige a qualidade KTM, mas com uma imagem mais discreta e talvez diferenciada.

 

Se somarmos KTM+ Husqvarna+Beta+Sherco+GasGas+Honda+Yamaha deveremos estar a falar de cerca de 800 motos de Enduro/TT vendidas em Portugal em 2018, o que é um numero baixo, mas… é o que há….num pequeno país com baixo poder de compra.

A verdade é que as motos de enduro são caras face à sua utilização limitada, se compararmos com motos adventure que proporcionam uma utilização mais abrangente.

Mas o Off Road é uma realidade desde há décadas e continuará a ter sempre os seus praticantes, que aliás continuam a crescer.

 

E se considerarmos que nos passeios na serra perto de casa, uma 2 tempos é uma boa opção, pois é leve, ultra potente e mais barata na compra e na manutenção, as 4 tempos continuam a ser mais polivalentes e adaptadas a qualquer o tipo de utilização, seja na serra, mas também nos estradões do Alentejo ou de Marrocos, onde cada vez mais portugueses estão a ir para poder fazer Off Road sem limitações….

Não nos podemos esquecer que o stress do trabalho gera cada vez mais interesse em actividades de lazer que proporcionem uma total descontração e poder de abstrair dos problemas profissionais. As pessoas querem fazer actividades estimulantes e o Off Road descontraído é uma espectacular opção.

Por isso este ensaio não se dirige aos pilotos de enduro competição mas sim aos amadores do Off Road, que pegam nas suas motos ao fim-de-semana entre amigos para passar um dia inesquecível , e chegar a casa para um bom jantarinho e um merecido descanso.

 

A HusqvarnaFE 350 2019

 

 

O Mercado

A FE350 continua a ser a Husqvarna mais vendida em Portugal, mas com números idênticos aparecem logo de seguida as 2 tempos TE250i e TE300i. A FE250 a 4 tempos vende bem menos de metade da 350.

Por isso podemos afirmar que em termos de modelos individuais a FE350 continua a ser a rainha da gama Husqvarna enduro e se formos dar uma olhada às vendas da KTM também se passa o mesmo, ou seja a 350 é a cilindrada mais escolhida das 4 tempos.

E isto tem a ver com a versatilidade do modelo que hoje assenta num quadro e suspensão da 250, beneficiando do menor peso e bastante maior maneabilidade do que as 450, que acabam por ser um pouco exageradas para o comum dos utilizadores.

A 350 tem um motor muito chegado ao 450 em termos de potencia e performances, mas consegue ser bem mansinho em utilização de passeio o que é muito interessante.

 

As reputadas revistas francesas Moto Verte e Enduro Magazine, fazem testes comparativos entre os vários modelos de mesma cilindrada, e chegam mesmo a fazer a eleição da moto de enduro de cada ano (em Portugal os importadores raramente disponibilizam motos de enduro para ensaio) e até agora foram sempre as 4 tempos que ganharam.

A Enduro Magazine em 2018 elegeu a Sherco SEF 300 como a melhor moto do ano, uma solução de cilindrada que se situa entre as 250 e a 350 que parecia ser uma aposta inteligente da marca…francesa.

Mas em 2019 a mesma revista voltou a eleger a KTM EXC350F, precisamente a irmã gémea da nossa Husqvarna FE350, e que só não estava a concurso por ser demasiado idêntica à KTM.

Quando se trata de escolher um moto de enduro para comprar, há demasiados factores emocionais que acabam por influenciar a nossa escolha. Raramente compraremos uma moto de uma marca da qual não gostamos verdadeiramente, só porque essa moto é racionalmente melhor que as outras. Cada um de nós sempre se sente mais afeiçoado à marca A, ou à marca B porque se revê nela, muitas vezes por razões do passado, de pilotos que seguiam e que as conduziam, ou porque as viram ganhar numa corrida na juventude…para já não falar nas cores…sim muito importante no que toca a motos de enduro e cross.

A Honda é vermelha, a Yamaha é azul, a Kawasaki é verde e a Suzuki é amarela….nada a fazer, tanto que a KTM andou perdida sem cor e quando finalmente foi comprada, escolheu uma cor que não pertencia ainda a nenhuma outra marca. E assim apareceram as laranjnhas que depois recriaram as branquinhas Husqvarnas

A KTM pensou bem no posicionamento a dar à Husqvarna o que faz com que o publico informado saiba exactamente que se tratam de motos idênticas. As pessoas simplesmente gostam mais da imagem e das cores de uma ou de outra, o que lhe dá uma maior possibilidade de escolha.

Os quadros, suspensões e motores e sistema de alimentação são rigorosamente iguais. Os travões são diferentes, os guiadores também, para além dos plásticos que esses sim, são responsáveis pelo essencial da estética das motos, e aí existe realmente muita diferença.

Mas existe outra diferença concreta está no sistema da suspensão traseira que é composta por um conjunto de bielas e veios que tornam o movimento do amortecedor mais progressivo  na Husqvarna, o que pode eventualmente emprestar uma diferença de sensações no comportamento da moto em determinadas situações.

Portanto uma vez escolhida a marca preferida, agora é uma questão de escolher a cilindrada da próxima moto, e isso é algo que se decide pelo tipo de utilização…ou pelas modas…

A Estética

A FE350 2019 é rigorosamente idêntica à versão 2018. Não tem qualquer evolução técnica, apenas estética, e que se resume a uma nova decoração dos plásticos que apresentam precisamente a mesma forma.

A decoração de 2019 apresenta cada vez mais superfície branca e a cor propriamente dita está limitada a um meio  logo azul  nas tampas dos radiadores , com um pequeno apontamento a amarelo, e mais uma pequena risca amarela junto ao banco azul. As bainhas são amarelas como em 2018 e esta é a peça mais colorida do conjunto.

Portanto é uma moto muito sóbria e discreta o que contrasta na justa medida com a exuberância laranja da KTM a marca irmã, o que parece fazer sentido.

Para alem dos gráficos, a tampa do carter da embraiagem apresenta varias ranhuras adicionaise é tudo quanto a alterações.

Alto, estava a escapar-me um pormenor importante, existe uma alteração que merece ser mencionada, e que é um diferente set-up na suspensão da frente, que possibilitou uma melhor prestação na forma de absorver as irregularidades do terreno, aspecto absolutamente crucial neste tipo de motos.

Quanto a evoluções técnicas é importante perceber que a fabrica divide as gamas off road da KTM e Husqvarna, em 2 e 4 tempos e em Enduro e Cross.

As evoluções nas gamas são feitas escalonadamente, ou seja não se muda tudo em todos os anos.

No ano de 2017 as 4T Enduro evoluíram bastante a nível mecânico, depois em 2018 foram as Enduro 2t que sofreram alterações radicais, em 2019 foi a gama Cross que adaptou as evoluções das Enduros e em 2020…ouvem-se rumores de que vem lá novidades interessantes!

 

Vamos preparar-nos para arrancar…

Poucos são os que podem pegar na suas motos de enduro e sair de casa já em cima delas…na maioria dos casos há que colocá-las em cima do atrelado e percorrer uma boas dezenas de quilometros até ao local onde se vai desfrutar das maquinas…na terra!

Não façamos confusão – trata-se de motos para andar na terra, e por isso os piscas e espelhos e tudo isso foi já organizadamente colocado numa caixinha que vem com a moto e nunca verão a luz do dia…

 

O descanso da Husqvarna serve apenas para manter a moto em posição vertical, sem piloto em cima. É uma regra de ouro. Estes descansos não aguentam o peso de uma pessoa em utilização continua e se desejar manter o seu descanso na sua forma original, nunca se esqueça deste pormenor.

Primeiro pode “abrir o ar” por baixo do deposito e aquecer o motor, antes de montar na “burra”. Aqueça bem o motor, não precisa de “fechar o ar” pois ele voltará à posição normal quando atingir a temperatura correcta.

Afinar Suspensões e SAG

Agora sim pode levantar o descanso e subir para cima da sua FE 350. Alguma dificuldade? Upss, parece um pouco alta não acha? Os seus pés tocam bem no chão? Não é provável, a menos que a sua altura ande lá pelos 1,85 ou mais. É uma má sensação esta de sentir que os pés não estão ali bem apoiados pois isso é algo que ajuda muito numa utilização off road, em que sistematicamente precisamos de usar os pés para repor o equilíbrio, ou para ajudar a ultrapassar um obstáculo.

É um facto que a FE 350, tal como a FE 250 são demasiado altas, o que provavelmente se explica pela necessidade de dispor de um curso adequado das suspensões e amortecedor traseiro, assim como de garantir uma distancia ao solo suficiente que evite contacto violentos do quadro e carter motor com pedras e troncos de arvores que sempre surgem no caminho…

Mas seria importante poder reduzir um pouco esta altura da moto, o que implica que se proceda a uma correcta afinação da forquilha e amortecedor traseiro, assim como do SAG antes de se ir para o campo com a moto.

As suspensões são sempre a parte mais importante de uma moto Off Road, mais do que o quadro ou mesmo do que o motor.

O que diferencia uma boa moto de enduro duma má, é a sua capacidade de absorver as irregularidades do terreno e suplantar os obstaculos. É aqui que reside a diferença, e é precisamente esta uma das grandes qualidades da FE350, equipada das melhores soluções de suspensão WP, aliás uma fabrica que também é propriedade da KTM.

 

 

A FE 350 está equipada com uma forquilha dianteira WP XPLOR 48 com 300mm de curso. Esta forquilha permite uma fácil regulação do nivel de amortecimento em compressão e extensão, a partir de parafusos que não necessitam ferramenta, colocados no topo dos tubos da forquilha, por baixo do guiador. É ainda possível, no mesmo local, regular a pré-tensão da mola da forquilha, também a partir de patilhas de fácil manuseamento que não exigem a utilização de ferramentas.

Atrás, também é muito fácil de regular em compressão, extensão e pré-tensão de mola do amortecedor WP DCC com 330mm de curso, mas já é necessário usar uma chave de parafusos e uma chave de bocas, nada de muito grave.

Todas estas regulações variam em função do tipo de utilização (andamento) mais desportivo ou mais descontraído, mas depende sobretudo do peso do piloto, que deverá situar-se entre os 75 e os 85kg. Outros intervalos de peso obrigarão à substituição  das molas, única forma de garantir um perfeito desempenho desta suspensão.

E aqui reside uma parte fundamental da qualidade da FE350, que se traduzirá no prazer e na eficácia de utilização desta rainha do Off Road.

O manual de instruções impresso ou digital a partir do site Husqvarna permite a qualquer momento que o utilizador possa tirar o melhor partido de todas as funcionalidades disponíveis neste modelo e que, bem aproveitadas poderão fazer toda a diferença entre uma excelente moto ou uma moto normal.

Motor em marcha

Afinada devidamente a suspensão vamos colocar o motor em funcionamento o que proporciona uma nova surpresa – o silencio!

Mas então esta moto não é a rainha da competição? Não ganha facilmente a Baja de Portalegre? Mas como, sem barulho? Pois é verdade, a sociedade está a evoluir e agora tudo é muito civilizado, muito verde….barulho é poluição….incomoda a população…portanto há que encomendar uma ponteira Akrapovic, pois este som não tem aceitação possível para quem gosta de motores…e ainda por cima faz com que todos os outros ruídos desagradáveis passem a notar-se muito mais, como por exemplo a corrente a bater no braço oscilante em baixa rotação….

Mas antes de arrancar há que escolher o modo de mapeamento do motor, que tem 2 posições, a 1 para ritmo mais brando e descontraído e a 2 mais “assanhado” para resposta mais imediata e utilização mais rápida e agressiva.

Tudo isto sem esquecer do Controlo de Tração que também pode ser activado no mesmo modulo de botões. Tudo muito pratico, muito fácil e eficaz sempre a pensar na eficácia e prazer de utilização.

 

Sensações de Condução

Preferencialmente este tipo de motos conduz-se de pé, e na realidade a disposição das peseiras (pisa pés) e do guiador da FE350 incentiva a adoptarmos essa posição como perfeitamente natural. Está-se bem de pé na FE350 e isso é bom pois é a posição correcta para muitas situações, e muito mais descansativa e que melhor protege o nosso traseiro e as nossas costas….o que no final do dia faz uma certa diferença…Vale a pena fazer o esforço de habituação para quem não o tem. Mas sentadinhos também tudo funciona na perfeição, claro está com aquela sensação de estarmos demasiado altos e do pé não chegar ao chão quando for necessário. Mas isso também se contorna com alguns truque a aplicar nos momentos em que vamos parar e precisamos de dar a volta para trás num caminho de 60 cm de largo…

 

Comandos manuais de embraiagem e travão dianteiro, super suaves e precisos, incentivam a utilização com um dedo apenas…mesmo como os pros!

Travões eficazes, potentes, a obrigar a uma boa gestão de intensidade na frente em situações de terreno escorregadio.

O motor aguenta bem a baixa rotação para andamento lento ou moderado sem ameaçar calar-se, e o binário sempre  disponível evita uma permanente mudança de caixa de velocidades. Mas está sempre pronto a reagir rapidamente à solicitação do acelerador, mesmo no mapeamento 1. Para andamentos mais vigorosos a posição 2 do mapeamento dá outro gozo e ajuda a retirar todo o potencial deste motor muito potente.

Aliás tudo nesta moto nos faz sentir melhor piloto do que na realidade somos, pois tudo é bem pensado, fácil e eficaz e o comportamento excelente.

Impressionante a forma como a suspensão suplanta todo o tipo de buracos e pedras e troncos e desníveis súbitos e regos e todo o tipo de dificuldades e obstáculos. A FE 350 ultrapassa tudo, absorve tudo sem se queixar, o que torna a sua utilização polivalente.

Não esquecer no entanto a altura e o peso da moto que são um ponto negativo para terrenos mais difíceis tecnicamente, como trialeiras ou situações “extreme”.

Essa é a grande opção que se tem que fazer antes da escolha do modelo, e na gama Husqvarna as opções são muitas, para todos os tipos de utilização, pisos e terrenos.

Em conclusão

Uma moto muito sofisticada, baseada num quadro ultra desenvolvido, com o menor peso possível equipada de um motor muito potente mas de utilização fácil em todo o tipo de andamentos e munida do melhor equipamento disponível no mundo, seja a nível de suspensão, travões ou electrónica.

Sempre que ensaio uma nova Husqvarna costumo pensar que não é possível tecnicamente fazer melhor, e a verdade é que a partir deste nível, já dificilmente o comum dos utilizadores consegue tirar partido de evoluções adicionais…

Mas há que ter consciência de que se trata de uma 350, uma moto já com algum peso e dimensão, mas é uma opção francamente mais versátil do que uma 450 ou 501.

A Husqvarna FE350 é polivalente e comporta-se muito bem em todo o tipo de terrenos, pelo que se compreende perfeitamente que seja o modelo mais vendido da gama.

O preço da Husqvarna FE350 2019 é de 10.929,04€+ despesas de matriculação (cerca de 300€)

Importante comparar com o preço de um FE250 – 10.654,11€ apenas menos275€

Como referência as versões a 2 tempos a TE250i custa 9.503,79€ e a TE300i custa 10.639,86€

Pontos Fortes – Suspensão muito eficaz e confortável / Motor agradável em modo 1 e agressivo em modo 2 / Controle de Tração ajuda em determinadas situações de piso muito escorregadio /

Pontos Fracos – Demasiado alta / Preço

 

Ver fichas técnicas e preços de toda a gama Off Road Husqvarna AQUI

 

Ficha Técnica

Combustível Gasolina 95

Tipo de motor Monocilíndrico, 4 tempos, 4 válvulas

Cilindrada 349,7 cm3

Curso 57,5 mm

Diâmetro 88 mm

Potência Não comunicada

Alimentação Injecção directa

Refrigeração liquida

Arranque – Eléctrico

Emissões CO2 87,4

Transmissão por Corrente  X-Ring 5/8 x 1/4″

Numero Velocidades 6

Caixa de velocidades Manual

Embraiagem Discos múltiplos em banho de óleo accionada hidraulicamente Magura

Quadro Chassis central em tubos de aço-cromo-molibdénio

Guiador Pro Taper

Suspensão dianteira Forquilha WP XPLOR 48 PA com regulação e 300mm curso

Suspensão traseira Mono Amortecedor WP DCC com regulação 330mm curso

Travão dianteiro   Pinça e disco e circuito hidráulico Magura

Diametro disco dianteiro 260 mm

Travões traseiros Pinça e disco circuito hidráulico Magura

Diametro discos traseiros 220 mm

Jante dianteira 21” de raios  D.I.D Dirt Star cor-preto

Medida pneu dianteiro 100/90-18”

Jante traseira 18” de raios D.I.D Dirt Star cor-preto

Medida pneu traseiro  140/80-18”

Distância entre eixos 1400 mm

Altura do assento 970 mm

Altura ao solo 370mm

Ângulo coluna direção 63,5

Capacidade do deposito 8,5 L

Peso em marcha 106,8 kg

PVP 10.929,04€+ despesas de matricula (cerca de 300€)

 

Concorrentes

KTM EXC 350 F

 

Ver Ficha Técnica AQUI

 

Beta RR 350 4T

Ver Ficha Técnica AQUI

 

Sherco 300 SEF Factory

 

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