Uma das motos mais esperadas do ano chegou ao mercado português. E para que não tenham dúvidas sobre a mesma, fomos até Barcelona a convite da Motos Bordoy para testar a nova Kove 450 Rally, a moto chinesa que está a dar que falar um pouco por todo o mundo, principalmente entre os fãs da motos trail que estão a ver esta moto como um unicórnio bem especial. Ou será que não é bem assim?

Marketing inteligente

O fenómeno Kove 450 Rally é bem recente, e os mais atentos sabem disso. Com um historial relativamente novo, esta moto surge no Dakar e apresentou imediatamente resultados interessantes, o que fez crescer o burburinho à volta da mesma. Percebendo isto, a casa mãe (Tibet New Summit) colocou mãos à obra e engrenou uma campanha de marketing que se foi auto sustentando de forma muito inteligente. Uma moto do Dakar, matriculada e pronta para ser utilizada em qualquer condição? Seriam loucos os que diriam que não. Por esse motivo a Kove avançou mesmo com o processo de homologação da 450 Rally para o mercado internacional, incluindo a Europa, onde rapidamente começaram a circular potenciais preços e especificações para esta moto. O “zum zum” surgiu e a Kove aproveitou.

Do Dakar para as estradas

Se o interesse neste moto surge quase sem querer, se assim podemos dizer, daí para a frente tudo foi pensado pela Kove. É importante dizer que a moto que está já à venda nos concessionários espalhados pelo nosso país não é, de todo, a moto que compete no Dakar – mas pode ficar perto, já lá vamos. De forma que a moto fosse matriculada e fosse cumpridora das normas EURO5+ houve sacrifícios que precisaram de ser feitos. Assim, de origem esta moto conta com 42 cv (31 kW) o que lhe permite ser conduzida por encartados A2. Estes 42 cv são utilizáveis em baixas rotações e a moto apresentou uma boa resposta em curvas mais fechadas, algo importante quando falamos de motos focadas no fora de estrada. Ainda assim a injeção mostrou ser algo irregular, um ponto menos positivo nesta Kove, que por vezes parecia não responder exatamente como o nosso punho direito mandava. Contudo, e de forma fácil, conseguimos alterar isto e quem o diz e faz é a própria marca que oferece dois kits de “performance” distintos.

Em ambos o kit a potência sobe para 55 cv, sendo que um deles equipa “apenas” um escape completo, filtro de ar lavável e uma centralina diferente, havendo a opção de colocar nesta moto (por 7.000€) um pack que a torna basicamente uma moto do Dakar.  No que diz respeito à ciclística, falamos de suspensões Yu-an Absorber, uma marca chinesa, que, segundo a própria Kove, foi a única que se mostrou interessada em fabricar algo especificamente para esta moto. Contamos com uma forquilha dianteira de 49 mm, com um curso de 305 mm, totalmente ajustável, que se mostrou muito competente para todas as situações que enfrentámos. Atrás, temos um mono amortecedor, também ele totalmente ajustável, sendo que na compressão temos ajuste de compressão em alta e baixa velocidade, com 300 mm de curso. Na traseira sentimos que era necessário um pouco mais de afinações para que ficasse ao nosso gosto e também um pouco menos saltitona, mas a margem é tão grande em termos de ajuste que temos total confiança de que podemos colocar o amortecedor traseiro a trabalhar da forma que queremos. A travagem é também ela chinesa, a cargo da Taisko, com um disco de 280 mm na dianteira e um disco de 240 mm na traseira, apresentando bom tato e potência suficiente para uma moto direcionada para todo-o-terreno.

Novo segmento, ou nicho?

A Kove beneficiou de um marketing inteligente, quase sem querer, mas que na verdade foi bem aproveitado. A moto apresenta argumentos muito interessantes e um nome que cativa muitos utilizadores e potenciais utilizadores de motos trail e de aventura. Todas as especificações que falámos “encaixam” num corpo que pesa apenas 155 kg em ordem de marcha (com 90% do combustível), contando ainda com 3 anos de garanti, o que não deixa de ser impressionante para uma moto que está 90% focada em circular fora de estrada. Com um preço chave na mão a rondar os 10.100€, a Kove quer atacar de fortemente o segmento de trails de média cilindrada, com uma proposta um pouco mais radical, mas que permite maiores aventuras, sem descurar a possibilidade de circular em estrada. Poderá ser apenas uma questão de tempo até todo o alarido passar ao redor desta moto, mas a expectativa para perceber se outras marcas vão atrás desta imagem de moto do Dakar, é grande. A verdade é que é um produto interessante e com qualidade, com boas capacidades para circular fora de estrada e proporcionar bons momentos de diversão, permitindo também circular na via pública, algo que não conseguimos com praticamente nenhuma moto de enduro dos dias de hoje. Uns dirão que 10.000€ é muito por esta moto, outros acharam uma pechincha, mas a verdade é que não há no mercado uma concorrente direta desta 450 Rally chinesa, tendo em conta o tipo de equipamento que oferece e as suspensões que encontramos nesta moto chinesa. Teremos de esperar de forma a perceber o sucesso ou insucesso que a Kove vai ter com a 450 Rally, mas independentemente disso, a marca está a começar a crescer no mercado europeu e tem na manga modelos muito interessantes para apresentar, que esperamos poder ter acesso em breve.