Kove 800X Pro: Ataque ao trono | Contacto
A Kove tem vindo a surpreender e a inovar no mercado global com modelos que têm despertado muita curiosidade. Mais apostada no segmento trail, esta marca chinesa que conta com poucos anos de existência, tem, ainda assim, muita experiência enquanto fabricante no mundo das duas rodas.
Aproveitando esse conhecimento, está decidida a mostrar as suas capacidades como marca e a Kove 450 Rally foi a primeira amostra disso mesmo, apostando agora numa moto trail de média cilindrada que promete abanar (e muito) o mercado. O foco nas prestações e na leveza dos seus modelos continua a ser a prioridade, como ficou bem patente com esta nova 800X.
Energia não falta
Uma passagem rápida pela ficha técnica desta Kove 800X faz-nos perceber que estamos perante a trail de média cilindrada com melhor relação peso/potência do mercado. Falamos de 95 cv, disponibilizados por um bloco bicilíndrico em linha, e 190 kg a cheio, o que deixa antever boas prestações. E não foi preciso muitos quilómetros para percebermos como este motor gosta de ser usado.
Se procuram uma moto para circular a baias velocidades em mudanças altas, este bicilíndrico não é a escolha ideal, uma vez que exige passagens de caixa frequentes para que consigamos mantê-lo sempre perto das 4.000 rpm, ou acima. Na verdade, é perto das 5.000 rpm que este motor tem todo o seu fôlego – e é muito – e que mais gosta de andar.
Com clara inspiração num bloco já bem conhecido no mercado – apesar de nos ter sido dito que não era o mesmo ou comprado à marca em questão – são percetíveis as semelhanças entre o coração da Kove 800X e o bloco que equipa a KTM 790 Adventure, ainda que consigamos também detetar muitas diferenças.
Segundo a Kove, este motor foi, ainda assim, fruto de um desenvolvimento na casa chinesa, durante dois anos, para que pudesse entregar aquilo que sentimos ao andar na moto.
Facto é que este bloco aparenta ter poucos atritos internos, deixando a Kove 800X progredir muito bem em toda a faixa de rotação, apresentando poucas vibrações em rotações e velocidades mais elevadas – contrastando com o desconforto em baixa rotação. Esta trail “respira” bem e parece que nunca lhe falta o ar, deixando sempre em aberto que lhe possamos solicitar um pouco mais de acelerador, acelerador esse que não é eletrónico e por isso, não nos permite notar grande diferença entre os modos de condução (ainda que possamos confirmar que a marca está a trabalhar num acelerador Ride By Wire).
O som da moto é também ele bastante agressivo, sem incomodar a velocidades estabilizadas, puxando sim bastante pelo nosso lado mais selvagem quando começamos a rodar o punho direito, fazendo esquecer que estamos a falar de uma moto cumpridora das normas Euro5. Ainda assim, há um ponto menos positivo quando falamos do motor e acelerador. Semelhante ao que sentimos com a 450 Rally da marca, a injeção parece não estar bem afinada a baixas velocidades, sendo esta bastante brusca quando cortamos totalmente o acelerador, por exemplo, numa curva mais apertada.
Ao rodar novamente o punho direito a reação da moto é brusca, sendo difícil encontrar um ponto em que conseguimos manter uma velocidade baixa e estável, sendo necessário sempre um pouco mais de acelerador do que o que gostávamos. Isto é também um problema quando vamos para fora de estrada, mas chegaremos a esse ponto.
Brinquedo refinado
Os 190 kg desta moto tornam a mesma uma das mais leves trails de média cilindrada e isso fica bem patente assim que começamos a circular na moto. Na estrada, para além de sentirmos a moto bastante leve e ágil, percebemos também que a sensação comum nas motos com roda de 21” de alargar a entrada em curva, não se verifica de todo nesta Kove.
A moto é muito precisa na entrada de curva e a descrever toda a trajetória, mesmo a velocidades já bem elevadas. A suspensão dianteira KYB totalmente ajustável funciona muito bem e lida com todas as irregularidades de forma bastante natural, passando boas sensações na frente da 800X Pro. Na traseira os sintomas são semelhantes, com um bom compromisso entre o conforto e a precisão. Os pneus Pirelli STR têm grande influência nas boas sensações que sentimos, mas a maior responsabilidade é mesmo das suspensões e quadro que funcionam em excelente harmonia.
A travagem com os dois discos de 310mm da Taisko apresentou um pouco de fadiga ao fim de uns quilómetros a ritmos um pouco mais elevados, mas nunca nos deixou ficar mal, apesar da manete direita ter começado a ceder um pouco a sua posição – nunca deixando de travar, apenas foi necessário um pouco mais de força, contrariamente ao travão traseiro que esteve sempre bem presente e com excelente sensibilidade.
Ora, se na estrada é isto que sentimos, fora de estrada a história é semelhante. O curso de 240mm na dianteira é elevado e trabalha de forma bastante homogénea em toda a sua extensão, sendo que o facto de termos regulação total ajuda a que possamos fazer a dianteira trabalhar mais ao nosso gosto. Atrás, o mono amortecedor, também ele KYB, tem um curso um pouco inferior (220mm), mas trabalha igualmente bem.
Aqui foi necessário mexer, principalmente quando apanhámos zonas com bastante pedra, uma vez que os pneus estavam com pressões de estrada e, estando a traseira demasiado rija, a tração era quase inexistente. Mas com uns pequenos toques, percebemos que conseguimos sentir muito melhor o que a traseira da moto nos quer dizer, controlando assim melhor as saídas de curva e potenciais saídas da roda traseira do chão. Ficou bem claro que a harmonia é praticamente perfeita entre quadro e suspensões, quando perdemos um pouco de tempo a afinar as suspensões.
O amortecedor de direção também funciona bem, impedindo a dianteira de ter comportamentos estranhos a velocidades mais elevadas quando passamos por terrenos mais acidentados. Outro ponto que nos agradou bastante na ciclística foi a posição de condução, sentado e em pé. Apesar de ser bastante estreita, a moto tem uma boa ergonomia quando circulamos sentados na estrada, e a posição em pé é também bastante natural, permitindo que haja uma boa movimentação em cima da moto, como é necessário que seja no todo-o-terreno.
O guiador poderia estar um pouco mais elevado, mas nada que não se resolva com um pequeno ajuste. No fundo o único ponto que não nos agradou tanto foi mesmo a questão da injeção – já referida acima – que nos faz ter dificuldades em lidar com o acelerador, principalmente fora de estrada, onde é muito mais difícil mascarar essa debilidade.
Tecnologia de sobra
Como não poderia deixar de ser, esta moto conta com diversos apetrechos tecnológicos que são quase indispensáveis em qualquer moto nos dias de hoje. Contamos com um painel TFT de 7” (na vertical ao estilo Rally) que permite conectividade através da aplicação Thinkrride e nos oferece uma excelente visibilidade em todas as condições, mudando do tema claro para o escuro de forma automática consoante a luz.
Neste TFT conseguimos ainda ter acesso a todas as informações essenciais sobre a moto, nomeadamente a média de combusrtível que no nosso caso se situou nos 5.1L/100km – uma média bastante positiva tendo em conta a forma como andámos nesta Kove 800X Pro, principalmente olhando ao facto de termos realizado bastantes quilómetros fora de estrada.
Temos ainda duas entradas USB, uma USB-A e outra USB-C, luzes diurnas que se regulam de forma automática consoante as condições atmosféricas, e dois modos de condução já referidos acima. Esta moto vem ainda equipada com alguns acessórios de série que muitas marcas vendem como opcional. Falamos de uma proteção de cárter em alumínio, crash bars e um suporte de top case traseiro em alumínio.
Como acessórios, para já, há pouco que podemos escolher, mas a Kove fez saber que está a trabalhar arduamente em fornecer mais opções para equipar esta moto.
Nova rainha?
É uma pergunta difícil de responder com certezas, e uma posição difícil de tomar, mas a Kove entrou neste segmento de forma muito forte, mesmo! Esta Kove 800X Pro provou ser uma verdadeira candidata ao trono que há muitos anos pertence à Ténéré, como trail que define a fasquia para o que os clientes deste segmento procuram ser uma moto competente tanto em estrada como fora dela, com maior vocação para o todo-o-terreno. A marca chinesa conseguiu criar um produto que ameaça seriamente ser a mais polivalente quando falamos de uma trail forte em todo o tipo de terrenos.
Não é perfeita, não. Tem aspetos importantes a melhorar, mas sendo esta a primeira geração e uma primeira geração tão forte, só deixa antever coisas muito boas no futuro. A fiabilidade também terá de ser colocada à prova, principalmente numa marca tão recente como a Kove, mas pelo que nos foi possível ver dos acabamentos e pormenores, pouco ou nada aparenta estar fora do sítio ou mal construído. Uma coisa é certa, quando olhamos para o preço e para a performance desta moto, a nova rainha da festa é a Kove 800X Pro.
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