A Triumph apresentou a Tiger 850 Sport como o modelo de entrada na sua gama Adventure. Tendo a possibilidade de ser convertida para os detentores da carta A2, com a sua qualidade geral e sobretudo com a eficácia do seu envelope dinâmico, é muito fácil de ser subestimada se apenas olharmos para os números que apresenta. A Tiger 850 Sport é aquela irmã mais nova que enche a família de orgulho…
texto de Pedro Alpiarça
Vivemos tempos conturbados. Grande parte do que tínhamos garantido foi-nos retirado por um bicho invisível, e muitos de nós tivemos de adiar ou adequar os sonhos, na esperança da chegada de dias melhores. Se é esta a altura em que impera o bom senso, faz sentido que as máquinas que tanto desejamos acompanhem esta tendência, tentando misturar a paixão com a razoabilidade. A Triumph Tiger 850 Sport é a moto de entrada na gama Tiger, um primeiro patamar no mundo adventure, neste caso com um enfoque mais estradista. Com a certeza de que não há refeições grátis, fomos tentar perceber se no final do dia ficamos com vontade de algo mais…

Não nos deixemos enganar pelo nome, o tricilíndrico em linha mantém os 888cc com os mesmos valores internos de diâmetro, curso e taxa de compressão da família Tiger, mas o ajuste electrónico da sua injecção reduz-lhe a potência e o binário (85cv às 8,500rpm e 82 Nm às 6,500rpm), numa clara opção de a tornar viável para uma conversão A2. Se os números não a favorecem numa conversa de café, a imagem esguia e despojada de artifícios estéticos exagerados, dão-lhe uma honestidade simpática. Mais do que isso, a simplicidade das suas linhas transpiram uma aura de agilidade e de comunicação fácil, como se fosse aquele tipo fixe que conhecemos há 10 minutos mas que sem darmos por isso já estamos ambos a fazer piadas sobre a sua irmã…tal não é o à vontade.

A posição de condução favorece o controlo, o guiador não é excessivamente largo, o assento é bastante acessível e todos os comandos são intuitivos. Não há Cruise Control nem punhos aquecidos, não há um giroscópio electronico para nos dizer de que lado está o Norte, mas há uma boa base para agradar, ensinar e sobretudo deixar-se guiar sem dramas.
A Tiger 850 Sport é aquela moto que nos surpreende pela sua capacidade de nos envolver pela mecânica dos seus elementos, sem filtros e sem floreados, ou seja, não tem onde se esconder. E a sua elegância está bem à vista…

Atenção que simplicidade não é sinónimo de pobreza, e a Tiger continua a oferecer-nos dois mapas de condução, Road e Rain, controlo de tracção com a capacidade de ser desligado, iluminação full-LED (com o bonito farol frontal a manter a luz diurna com a assinatura das suas irmãs) e um écran TFT de 5” costumizável, mas de leitura algo confusa. A qualidade dos acabamentos é óptima e alguns dos seu componentes até parecem sobredimensionados…
Falamos obviamente dos Brembo Stylema que a equipam, num paradigma de travagem que claramente se sobrepõe ao nível de andamento que esta máquina oferece. Verdade seja dita, nunca se ouve dizer que é mau uma moto travar demais…mas a suspensão de curso inicial algo mole tem de trabalhar o dobro para manter o equilíbrio dinâmico nas transferências de massa. A solução é travar com um dedo! As forquilhas Marzocchi não ajustáveis (apenas a pré-carga do mono-amortecedor traseiro) são honestas no seu funcionamento, e muito embora tenham um setting mais afinado para o asfalto, a sua actuação consegue ter uma boa leitura nos pisos mais irregulares.
O fora de estrada agressivo não está nos seus planos, muito por culpa do ABS não desligável e das suas jantes de liga, mas sendo uma trail e montando uns Michelin Anakee Adventure, há sempre a possibilidade de fazer um estradão ou outro…até porque toda a gente sabe que as melhores fotos são tiradas ao pé de moinhos…
A compostura do seu chassis dá-lhe uma atitude perdulária e mantém uma boa comunicação em relação ao que lhe pedimos. É fácil de colocar em curva, mas não podemos cair em exageros porque os avisadores dos poisa pés rapidamente nos lembram que os limites são para ser cumpridos, e esta máquina vem de origem com sapatinhos de cinderela… Nos ritmos mais vivos porta-se à altura, sempre previsível e inspirando confiança.

O motor da Tiger 850 Sport, com a sua cambota T-plane e ordem de ignição específica, tem barulho de bicilíndrico em baixas, é esforçado até ao limite do seu regime de utilização, mas é a rolar entre as 3500 rpm e as 7000 rpm que se sente confortável, num planalto de disponibilidade que dá gozo explorar. A nota de escape é envolvente e viciante e a ampla faixa de utilização é uma mais valia para aqueles que pretendem fazer tiradas maiores… desde lhe perdoem as vibrações nas rotações mais altas (sentidas sobretudo nos poisa-pés).

A protecção aerodinâmica é excelente para o tipo de moto (o vidro ajustável segue o seu propósito mas gostaríamos de uns deflectores de vento nos punhos), o assento é confortável nos percursos maiores e o depósito de 20 litros com consumos na ordem dos 5,6L/100km numa condução mista dão-nos o à vontade de atacar tanto o trânsito citadino como a ocasional viagem. Nota muito positiva para a ergonomia bem equilibrada e adequada a todos os níveis de condução.

Com mais de 60 acessórios disponíveis, desde equipamento de viagem e conforto, a elementos de aumento de performance dinâmica, o valor base da Tiger 850 Sport é extremamente competitivo. A Tiger 900 GT faz-nos desembolsar mais 2000€, e se o salto qualitativo dos seus componentes é real, a diferença dos números da sua unidade motriz não nos dá vontade de olhar por cima da cerca…é que o motor da 850 Sport sempre nos pareceu muito mais forte e convincente do que a sua ficha técnica revela.
A BMW F750 GS será a sua grande rival (não caindo na loucura dos extras propostos pela marca bávara), sobretudo pelo seu campo de actuação mais focado na estrada. A Ducati Multistrada 950 e a KTM 890 Adventure são bastante mais caras e exclusivas na sua oferta de equipamento.
A Triumph posiciona-a no segmento mais baixo das Adventure premium, e nós na moto+ ficámos rendidos ao seu motor, à competência dinâmica do seu chassis , à sua estética muito bem conseguida e sobretudo à sua vontade de mostrar serviço sem preconceitos de carteira, numa clara atitude desafiadora e muito saudável para o nosso mercado

Considerar a Triumph Tiger 850 Sport uma moto de entrada na gama é redutor. A sua capacidade estradista, a confiança revelada na sua condução, e o feeling de qualidade de todos os seus componentes, merecem um olhar mais profundo para as suas reais capacidades. Se virmos as concorrentes, e analisarmos valores e características, rapidamente percebemos o quão competitivo é este produto. Bom motor, boa ciclística, ergonomia refinada com um look elegante e atraente? Mais disto por favor. Estas são as máquinas dos nossos tempos. Porque não precisamos de abdicar de nada para sermos felizes.
Ficha Técnica:
Motor
Tipo de motor | 3 cilindros em linha, DOHC, 12 válvulas, refrigerado a líquido |
Cilindrada | 888 cc |
Potência | 85 cv @ 8.500 rpm |
Binário | 82 Nm @ 6.500 rpm |
Caixa de Velocidades | 6 Velocidades |
Ciclística:
Quadro | Quadro tubular em aço inoxidável, sub-quadro aparafusado |
Suspensão Dianteira / Traseira | Forquilha Marzocchi invertida 45 mm, não regulável / Unidade de suspensão traseira Marzocchi, regulação manual da pré-carga, curso da roda traseira de 170 mm. |
Travagem Dianteira / Traseira | Discos flutuantes duplos de 320 mm, pinças Brembo Stylema monobloco de 4 pistões. Bomba de travões dianteira radial, ABS / Disco único de 255 mm. Pinça Brembo deslizante de pistão único, ABS |
Pneu Dianteiro / Traseiro | 100/90 R19 ; 150/70 R17 |
Dimensões e Preço:
Altura do assento | 810-830 mm |
Distância entre eixos | 1,556 mm |
Capacidade do Depósito | 20L |
Peso | 192 Kg a seco |
Preço | 11,450 € |
Concorrentes:
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BMW F 750 GS

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Ducati Multistrada 950

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KTM 890 Adventure
