Ensaio | Triumph Street Triple R – Inglesa requintada, mas rebelde
A Triumph deu um passo arrojado em 2019, ao entrar no mundial de Moto2 com os seus motores tricilíndrico de 765 cc. Formam muitos os céticos da fiabilidade da marca e capacidade da mesma de apresentar qualidade capaz de estar no mundial, havendo, em simultâneo, muitos que acreditaram desde o início neste projeto.
Quatro anos mais tarde, a marca britânica continua a fornecer motores para todas as motos da classe intermédia do mundial de velocidade, e pelo menos até ao fim da temporada de 2024 é isso que vai continuar a acontecer.
Numa altura em que a marca está a expandir a sua gama de motos, nomeadamente para o todo-o-terreno, com a apresentação – agora oficial e sem nada a esconder – da sua TF 250-X, a competição continua a ser um palco muito grande para a Triumph desenvolver e investir em novas tecnologias que depois chegam aos seus clientes.
É agora altura e falarmos então da Triumph Street Triple R, e o que foi a nossa experiência aos comandos desta moto. De referir também que já está disponível no Youtube o vídeo do ensaio a esta naked de média cilindrada.
Coração que emociona
Falar da entrada da Triumph no mundo do MotoGP não foi em vão. Esta entrada foi muito importante para o desenvolvimento dos componentes internos do bloco de 765 cc, de forma a proporcionar um motor mais equilibrado, fiável e emocionante aos seus clientes. E é isso mesmo que sentimos nesta Street Triple R. O bloco tricilíndrico conta com 120 cv de potência máxima às 11.500 rpm e 80 Nm de binário às 9,500 rpm, algo que pode assustar, tendo em conta que falamos de rotações bastante elevadas. Contudo, uma das virtudes deste bloco é a sua capacidade para disponibilizar muita potência e binário desde cedo, e uma suavidade que quase nos faz esquecer as passagens de caixa. Numa condução relaxada e em cidade, a preocupação com as baixas rotações é pouca, e dificilmente vamos sentir que o bloco está desconfortável. Mas é de facto “lá em cima” que este motor brilha em todo o seu esplendor. Circulando a ritmos mais elevados a entrega de potência é fantástica sem deixar de ser muito linear, mantendo-se a facilidade de dosear o acelerador eletrónico. É nas rotações mais elevadas também que o som desta moto se revela na sua plenitude, não aparentando cumprir com as normas EURO5.
Ciclística que espanta
E o se o motor é o centro das atenções, a ciclística não fica atrás. Aquilo que a Triumph atingiu com esta geração da Street Triple é algo que nos espanta no momento que nos sentamos nesta moto. Com apenas 185 kg a cheio e suspensões Showa totalmente ajustáveis na dianteira e traseira, esta moto mexe-se extremamente bem em qualquer situação. O seu baixo peso permite circular de forma confortável a baixas velocidade e manobrar a Street Triple R com facilidade, mesmo pelos menos experientes, a par de uma enorme agilidade nas inserções e transições de curva. Na dianteira a forquilha invertida Showa de 41 mm absorve bem as irregularidade, ainda que seja notório um pendor mais desportivo, à semelhança do amortecedor traseiro, que revelou ser algo “seco” no seu comportamento a baixas velocidades e em estradas de mau piso. Ainda assim, é a ritmos mais elevados que estas suspensões se destacam, mostrando o porquê de serem mais firmes e não serem capazes de lidar tão bem com buracos e maus piso. Aí, certamente que a versão RS desta Street Triple será mais capaz e um melhor compromisso entre conforto e desportividade. A potente travagem complementa muito bem o binómio motor/suspensões numa condução mais aplicada. Com a dianteira e traseira a cargo da Brembo, a Triumph equipou a Street Triple R com dois discos de 310 mm na dianteiro e um disco de 220 mm na traseira. Na frente sentimos um excelente tato na manete direita, juntamente com uma elevada potência que não nos deixa ficar mal em nenhuma situação.
O essencial tecnológico
São raras as motos de hoje que não equipam um arsenal tecnológico grande e a Street Triple R não é exceção. De forma a facilitar a pilotagem por parte dos utilizadores, a Triumhp equipo esta moto com diversas ajudas. Indissociável do motor é o fantástico QuickShifter que nos permite passagens de caixa muito rápidas e bastante suaves. Naturalmente o sistema funciona melhor em rotações mais elevadas, mas a Triumph fez um excelente trabalho, tornando eficaz o sistema em praticamente toda a faixa de rotação. Contudo, há um ponto que causou alguma estranheza. O travão de motor ao utilizar o QuickShifter pode ser excessivo numa condução rápida, mas relaxada. O que queremos dizer com isto? Quando aumentamos o ritmo, numa estrada de serra, por exemplo, e procuramos usar pouco os travões, ao colocar uma mudança abaixo, sentimos que o sistema de mudanças rápidas nos proporciona travão de motor a mais para o tipo de condução que estamos a praticar. No entanto, quando somos mais agressivos nos travões, esse travão de motor é uma ajuda importante. Mas não é só este sistema que nos ajuda e que é importante neste conjunto. O ABS mostrou-se bastante eficaz, não afetando a condução mais desportiva – pelo menos em estrada – assim como o controlo de tração, que é algo intrusivo de forma a impedir o levantar da roda dianteira, permitindo ainda assim a progressão e o aumento de velocidade sem que seja extremamente notório que há um sistema eletrónico a entrar em ação. Os três modos de condução pré-definidos também funcionam muito bem, com diferenças notórias entre todos eles, com a adição de um modo personalizável que nos permite maior liberdade de customização no painel LCD. Painel esse que apresenta boa visibilidade, apesar de não ser tão avançado e com tantas funcionalidade como o da Street Triple RS. Ainda assim, toda a informação essencial está lá, apesar da navegação dentro dos menus não ser a mais intuitiva para novos utilizadores, algo que alguém que já tenha pegado numa Triumph não estranha.
Requinte britânico
No fim do dia, esta Triumph Street Triple R revelou ser uma moto requintada, mas rebelde quando necessário. Um motor potente, mas não exigente. Uma ciclística equilibrada que se faz valer especialmente pela facilidade e eficácia. E um conjunto de tecnologias que funcionam bem quando solicitadas. A experiência acumulada na competição vai permitindo a Triumph jogar cartas que de outra forma provavelmente não seria possível. Não querendo com isto dizer que a marca britânica não seria capaz de entregar os produtos que entrega sem estar em Moto2, mas é certamente algo que tem um enorme impacto no desenvolvimento de modelos que nos chegam às mãos. Finalizando com uma nota importante sobre esta Street Triple R que conta com um preço a partir de 10.645€, algo que não deixa de nos parecer muito adequado ao pacote que nos é oferecido. Por sensivelmente mais 2.100€ é possível adquirira versão RS, mais equipada, mais potente e mais preparada para lidar com os que levam as suas motos ao limite.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS | Triumph Street Triple R 2023 |
MOTOR | |
Tipo de Motor | Refrigeração líquida, 12 válvulas, DOHC, 3 cilindros em linha |
Cilindrada | 765 cc |
Potência | 120 cv @ 11.500rpm |
Binário | 80 Nm @ 9.500 rpm |
Nº de Cilindros | 3 cilindros paralelos |
TRANSMISSÃO | |
Caixa de Velocidades | 6 Velocidades |
Tipo de Caixa | Manual |
QuickShift | sim |
Embraiagem | Multidisco em banho de óleo, assistida |
Transmissão Final | por corrente |
QUADRO | |
Tipo de Quadro | Dupla trave em alumínio sub quadro de duas peças |
Sub-Quadro | sub quadro de duas peças |
SUSPENSÕES | |
Suspensão Dianteira | Showa invertida 41mm, totalmente ajustável |
Curso da Susp. Dianteira | 115 mm |
Suspensão Traseira | Monoamortecedor Showa com reservatório separado, totalmente regulável |
Curso da Susp. Traseira | 133,5 mm |
TRAVÕES | |
Travões dianteiros | Duplo Disco flutuante 310 mm |
Pinças de Travão Diant. | Pinças Brembo monobloco M4.32 radiais de 4 pistões |
Travão Traseiro | Disco de 220 mm |
Pinça Travão Tras. | Pinça Bremvo de 1 piston |
JANTES E PNEUS | |
Medida do Pneu Diant. | 120/70 ZR17 |
Medida do Pneu Tras. | 180/55 ZR17 |
AJUDAS ELECTRÓNICAS | |
Modos de Motor | Rain, Road, Sport e User |
Outros | ABS em curva, TC, Quickshifter, Cruise Control |
Controle de Binário e Tração | sim |
DIMENSÕES | |
Distância entre Eixos | 1402 mm |
Altura do Assento | 826 mm |
Distância ao Solo | n.d |
Capacidade do Depósito | 15 Litros |
Peso a cheio | 189 Kg |
CONSUMOS / EMISSÔES | |
Consumo Médio – anunciado | 5,4 L / 100 Kms |
Consumo Médio – testado | 6,1 L / 100 Kms |
Emissões CO2 | Euro 5 |
CORES 2020 / PVP | |
Cores | Crystal White/ Silver Ice |
PVP Base s/ despesas de mat. | 10.645€ |
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