No coração do Alentejo, naquela região outrora batizada como o “Celeiro da Nação”, brilha a cidade de Beja, cidade Capital do Baixo Alentejo, que é o centro das atenções na nossa proposta de evasão para este mês. Uma região plena de encantos e segredos, prontos a serem descobertos em duas rodas!
POR REDAÇÃO E PEDRO PEREIRA . Fotos heraldicacivica.pt; Câmara Municipal de Beja;
visitalentejo.pt; ANA Aeroportos de Portugal; ovibeja.pt; mun-aljustrel.pt;
www.visitcastroverde.pt; cm-almodovar.pt

Imagine-se a percorrer, sem pressas, as planícies douradas sob um céu azul infindável, a sentir a brisa quente a embalar os campos. A partir à descoberta de um património rico e único, com uma visita ao imponente Castelo de Beja que se ergue na planície alentejana, convidando a uma visita ao alto da sua torre, para o brindar com uma vista de cortar a respiração, única e marcante! Depois disso, rumar em busca da gastronomia autêntica, onde o azeite, o pão e os enchidos têm um sabor inigualável. Sentir a hospitalidade genuína das gentes alentejanas, prontas a partilhar os segredos da sua terra. Estes são parte da quase infindável lista de argumentos que temos para vos apresentar neste roteiro em duas rodas pelo Baixo Alentejo!
Sul do Alentejo: muito mais que planícies a perder de vista!

Diz-se, com alguma graça, que um Algarvio é alguém que veio de uma zona mais a norte, mas sem travões, dado o facto de o relevo alentejano ser, na sua maioria, bastante plano, o que não corresponde necessariamente à verdade. Nem mesmo no distrito de Beja, que fica como o mais a Sul do Tejo, ou seja, Além Tejo, antes de chegarmos ao Algarve.
A capital do Distrito, Beja, é uma cidade encantadora e que facilmente se avista à distância, seja pela sua bonita Torre de Menagem (a mais alta do país), seja pelo seu gigante e desativado silo de cereais, uma herança do tempo em que o Alentejo era considerado como o “celeiro de Portugal”.

A cidade propriamente dita combina o moderno com o antigo, o clássico com o futuro e o seu centro histórico descobre-se facilmente a pé e com relativa facilidade, mas há muito para visitar e conhecer. Afinal de contas, a cidade não é muito grande e tem apenas cerca de 35 000 habitantes, mas continua virada para o futuro e não para as glórias passadas. Um bom exemplo é a sua oferta de ensino universitário que tem conhecido um forte incremento e não vai ficar por aqui.
Por exemplo, a recente criação, está em fase de construção avançada, de um edifício com capacidade para 500 estudantes, mostra bem a aposta no ensino universitário como forma de dinamização desta encantadora cidade e a sua construção modular é uma forma de mostrar que se prepara o amanhã.

Outro exemplo de uma oportunidade ainda não devidamente explorada é o aeroporto de Beja. Tem um enorme potencial e com melhores acessos e uma via ferroviária pode ajudar muito a aliviar os aeroportos de Faro e Lisboa e a desenvolver Beja. Até já há por lá um MotoFest!
Sendo o maior distrito do país, com 10263 km2, Beja tem uma baixíssima densidade populacional e mesmo considerando os seus catorze municípios, a população residente ronda apenas os 150 000 habitantes.
Faz fronteira com Espanha, com o Algarve e ainda com os distritos de Évora, Portalegre e Setúbal e o Oceano Atlântico, mas tem caraterísticas muito próprias, que vão desde a gastronomia, a uma história riquíssima, sendo que já no tempo dos romanos a cidade era um ponto importante e ficou conhecida como a Pax Julia.
Por falar em gastronomia, são imperdíveis os pratos com base na carne de porco, de caça ou os de peixe do rio, em especial do Guadiana. Enchidos de porco, com destaque para o Paio de Beja, sopa de beldroegas, presunto de Barrancos, queijo de Serpa ou açorda de bacalhau são apenas alguns exemplos. Bons vinhos é coisa que também não falta no Sul do Alentejo, incluindo da talha, mas cuidado com as imitações!
Pias, no concelho de Serpa, é um exemplo emblemático: são dezenas as designações de vinho que usam o termo Pias e muitos deles nem sequer são produzidos no Alentejo ou mesmo em Portugal!
Já os gulosos, no Baixo Alentejo, também sabem que vieram bater à porta certa! Especial destaque para doces conventuais que têm séculos ou não fosse Beja a terra de Soror Mariana Alcoforado. A freira da Ordem de Santa Clara, que estava no convento de Beja e se apaixonou pelo oficial francês Cavaleiro de Chamilly. As “Cartas Portuguesas”, num total de cinco, foram publicadas pela primeira vez em França em 1669 e são um clássico da literatura mundial. Experimentem ler e vão ficar surpreendidos!
Para ajudar a “esmoer” o repasto pode sempre aproveitar para se deliciar com uma audição ao vivo de Cante Alentejano. É difícil não se deixar emocionar e se sair uma lágrima ou um sorriso é perfeitamente normal! Também pode ser convidado a participar! Se for o caso, não se acanhe!
A não perder
O Alentejo é mais conhecido como ponto de passagem para quem gosta de motos, do que como ponto para ficar a conhecer melhor e é um erro! O distrito de Beja é muito mais que uma ligação entre Faro e Lisboa ou o Porto e há muito por descobrir, mas com calma!
Sem pressas

Claro que a imperdível EN 2, que rasga Portugal de Norte a Sul, sempre pelo Interior do país merece um especial destaque. No Distrito de Beja atravessa os concelhos de Ferreira do Alentejo, Aljustrel, Castro Verde e Almodôvar. Todos têm os seus encantos e merecem, pelo menos, uma paragem e visita.
Não tenham medo de parar e conversar com as pessoas, de ouvir as suas histórias, de se rirem com elas, talvez até de lhe mostrarem as suas motos e de perceberem que o Distrito de Beja é um tesouro ainda por descobrir.
Mais encostados a Espanha não podem deixar de visitar Mértola (tem umas ótimas curvas) ou conhecer Moura, terra da Moura Salúquia, e, já agora, visitar o maior lago artificial da Europa e, porque não fazer um passeio de barco pelo Alqueva, com um petisco a bordo, tal como já fez a Revista MOTOS!


Aproveite para ir ver uma paisagem apocalíptica nas minas Mina de São Domingos e se preferir o Litoral vá com tempo e descubra a Costa Alentejana, nomeadamente as praias do maior concelho de Portugal, ou seja, Odemira. São cerca de 1720 km2 e um número de habitantes a rondar os 30 000 habitantes, embora este número possa ser algo impreciso, sobretudo porque este concelho tem imensa população não permanente a trabalhar na agricultura.
Tudo somado, de norte a sul, do interior ao litoral, Beja tem tudo para nos seduzir! As suas paisagens, as gentes, a gastronomia ou a quietude são apenas alguns dos seus encantos, mas lembre-se sempre que é para descobrir com calma, talvez até fazendo algumas caminhadas ou visitas guiadas e se for no tempo mais quente não faltam praias fluviais onde se refrescar.

Se for fã e tiver oportunidade, também uma visita à Ovibeja é quase obrigatória e vai valer a pena. Além da exposição de serviços, máquinas, equipamentos e produtos agrícolas, há mostra e venda de artesanato, o pavilhão do gado, com raças autóctones de ovinos, caprinos, suínos, bovinos, mas também música com a presença de artistas de renome nacional e internacional ou música regional, com destaque para o cante alentejano. Para se ter uma noção da dimensão desta feira, na edição de 2024 contou com mais de mil expositores e cerca de 200 mil visitantes.