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Kawasaki Z900: Crónica de uma fórmula intemporal.

By on 29 Setembro, 2020

texto de Pedro Alpiarça
 
 
 
“São duas da tarde e encontro-me sentado na esplanada do meu tasco favorito. Sou um tipo de hábitos e gosto de saber com o que conto, e aqui, sei exactamente o que comer. Chamemos-lhe um bacalhau à Brás, ou um bitoque (não interessa, é figurativo).
Enquadrada na paisagem, lá fora espreita uma máquina que nas ultimas horas me surpreendeu e me fez pensar em analogias gastronómicas. Pela sua simplicidade e refinamento, pela sua honestidade e pilantragem, pela sua modernidade clássica. Confusos? 😉

Hoje de manhã, antes do primeiro contacto, pensava no seu posicionamento em relação ás rivais, na simplicidade do conceito. Na sua distinta e longa linhagem, não há cambotas desfasadas, não há cilindros aos pares ou trigémeos, não é alimentada a plutônio nem cospe labaredas pelo escape. Mas tem um Z no nome. O orgulho com que se apresenta vem de uma herança que contém um bom segredo. Há formulas intemporais.

Na sua postura de predador em posição de ataque (o tal design Sugomi promovido pela marca) a estética mereceu uns retoques, temos agora um farol dianteiro redesenhado (full LED com luzes diurnas), umas entradas de ar mais volumosas (para albergar as novas borboletas de admissão duplas (trabalham em conjunto, uma controlada manualmente pelo acelerador e outra pelo ECU ) e um muito bem desenhado TFT a cores.
No capitulo do motor nada de novo. O mesmo 4 em linha de 948cc DOHC de 16 válvulas.

Neste momento ensaio as primeiras faenas no transito e sinto um binário sempre presente e uma linearidade na resposta ao punho digna de um motor electrico (bem…se eu dissesse isto há uns anos atrás era considerado um herege), responsivo, fácil de perceber, cheio. Assim que a estrada o permitiu, o punho direito ficou feliz. E eu fiquei siderado. A subida de rotação deste motor é tão viciante quanto interminável, das 5k às 11k é todo um mundo de sensações que poderíamos pensar em valores mais altos de potência, tal não é a velocidade com que a paisagem fica nos espelhos. Se nos primeiros kms fui conservador nos modos de condução (Sport, Road e Rain, com 3 níveis do novo Kawasaki Traction Control associados a cada um deles), rapidamente explorei o modo Rider, onde podemos selecionar o Full Power (existe também o Low Power para dias de chuva … e para aqueles que separam as cuecas por cores) e  inclusivé existe a possibilidade de desligar o controle de tracção.
Horas felizes a castigar os  brilhantes Dunlop Sportmax RoadSport 2 se seguiram (vou só repetir mais uma vez o nome de pneu mais longo de sempre…Dunlop Sportmax RoadSport 2..). As sequências de curvas eram despachadas com uma fluidez e uma cadência que muitas vezes me fez pensar o quão importante é ter um conjunto equilibrado. O renovado quadro ( a treliça de aço foi reforçada na ligação ao braço oscilante) a travagem (potente e doseável), a agilidade do conjunto e a maneira imperturbável em como as suspensões (agora com afinação de pré carga e extensão) leem o pavimento…fazem desta Z900 uma street fighter nipónica sem respeito nenhum por qualquer tipo de realeza. Venham de lá as princesas do mediterrâneo, as duquesas de Austria, as irmâs do Oriente… Numa estrada de montanha com curvas de apoio médio (2a, 3a, 4a), a maneira como este motor aguenta a rotação e a mantem potência disponível, é brilhante. Tudo fica fácil quando a maquina trabalha connosco (volto a referir a subtileza do novo controlo de tracção, nunca intrusivo, sempre cooperante. Até da maneira como permanece inactivo quando desligamos a ignição! Obrigado Kawasaki!), o condutor sente-se munido de uma confiança que lhe permite explorar os seus próprios limites, na certeza de que pode ser um vilão honesto ou um padre pecador. Sem moralismos técnicos.

Já no fim do meu prato favorito, na minha tasca favorita, pego no apêndice que nos liga ao mundo e ligo a nova app da Kawasaki que registou todo o meu heroismo. Percurso, Velocidades (media e máxima), Consumos (agradavelmente surpreendido pela frugalidade deste motor) e mostra-nos também as configurações eletrónicas por nós escolhidas. 
Ao comparar a Z900 com um momento degustativo simples mas especialmente bem feito, caio na realidade onde se enquadra. Tem um preço altamente competitivo no segmento, uma qualidade de construção e aptidões técnicas que não a envergonham em nada. Pelo contrario, do alto da sua construída lenda, a velhinha Z1 estará certamente orgulhosa.
 
Podia ter um Quick-Shift opcional? Podia ter um interface mais simples de utilizar (não pelo excesso de botões de acesso, mas na atrapalhada maneira de navegar nos menus e na pouco intuitiva forma de interagir com o sistema)?
Podia. Mas aí já era gourmet!
 
 
 
 
 
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