Nos EUA, a exigência de capacetes para motociclistas divide a liberdade individual da segurança coletiva. A questão ética permanece: vale a pena arriscar a vida por liberdade ilimitada?
Parece que, nos Estados Unidos, a questão da obrigatoriedade do capacete para motociclistas tornou-se o símbolo de uma batalha entre a liberdade individual e a responsabilidade coletiva. Se na década de 1970 quase todos os estados exigiam capacetes, hoje restam apenas 19 que exigem um para cada motociclista, enquanto na maior parte do país a escolha é individual, muitas vezes com apenas algumas restrições para os mais jovens.
A pressão para abolir a obrigatoriedade parte de uma ideia de liberdade sem concessões, apoiada por associações de motociclistas que fizeram da luta contra o uso do capacete uma bandeira. No entanto, essa “liberdade de arriscar” tem um preço altíssimo , pago em vidas humanas e custos sociais. Os números falam por si: nos estados que eliminaram a obrigatoriedade, as mortes no local do acidente quadruplicaram e as mortes em hospitais triplicaram. Entre aqueles que chegam ao hospital após um acidente sem capacete, a mortalidade sobe para 10%, em comparação com 3% para aqueles que usavam proteção. Ainda mais impressionantes são os dados sobre mortes imediatas: de 14% antes da abolição para 68% depois.
E estas não são apenas estatísticas abstratas. No lendário rali de Sturgis, na Dakota do Sul, dos 12 motociclistas que morreram na última edição, apenas 3 usavam capacete . A escolha de não se proteger, muitas vezes justificada pelo desejo de “se sentir livre”, muitas vezes resulta em tragédias evitáveis.

Economicamente, as consequências recaem sobre toda a comunidade. Em 2013, os estados que mantiveram a obrigatoriedade do uso de capacete economizaram US$ 3 bilhões em custos de saúde em comparação com estados mais permissivos. Não se trata apenas de uma questão de liberdade pessoal, mas também de responsabilidade para com os outros: aqueles que se machucam sem capacete muitas vezes acabam onerando os cofres públicos ou as seguradoras, alimentando um círculo vicioso de custos e sofrimento.
A questão moral permanece: a liberdade de escolha pode justificar a liberdade de se lesionar gravemente — e de sobrecarregar os outros — quando as evidências da eficácia dos capacetes são tão contundentes? Os dados e as histórias vindas das estradas americanas sugerem que a verdadeira conquista seria uma cultura de segurança, capaz de colocar a vida em primeiro lugar, sem abrir mão daquilo que torna a paixão por motos única.