Parte 1
Modelo lendário de uma marca excecional, a Square Four deu um salto tecnológico perante a decadência da maior indústria mundial de motos

A Square Four (quatro em quadrado) foi uma das mais evoluídas e famosas motos inglesas. Alicerce da gama Ariel, foi a moto de maior cilindrada fabricada na Grã-Bretanha durante muito tempo e esteve em produção 27 anos.
Tudo começou há mais de 90 anos, quando um jovem engenheiro, de nome Edward Turner, esquiçou um motor de quatro cilindros quadrado, diz a lenda, num intervalo de café nas costas de um maço de tabaco.

Turner, mais tarde famosamente ligado à marca Triumph, ofereceu o design a várias firmas antes de ser contratado pela Ariel em 1928.
O seu projecto, deveras inovador, incluía distribuição por árvores de cames à cabeça, movidas por correntes, e consistia, basicamente, de dois bicilíndricos horizontais ligados pelas cambotas, cada par girando na direcção oposta.
Isto tinha o mérito duplo de criar equilíbrio automático (o movimento de um par cancelava o do outro) e de criar um bloco muito compacto, de tal modo que a Ariel foi capaz de começar produção da Square Four original, de 497cc de capacidade, adaptando ligeiramente o quadro duma monocilíndrica de 250cc!

Isto poupou à firma de Selly Oak, perto de Birmingham, dinheiro e tempo de desenvolvimento. Essa primeira versão de 500cc foi seguida em 1930 de outra de 600cc, principalmente para os muitos que queriam adicionar um sidecar à moto.
O motor de Turner, porém, não era isento de problemas, o maior dos quais era a (falta de) refrigeração dos cilindros traseiros.

Após a sua saída da Ariel em 1936, esses problemas foram resolvidos, em parte, por outro nome famoso da indústria, Val Page, que remodelou o motor colocando mais aletas na cabeça e um túnel entre os cilindros dianteiros, para permitir ao ar fresco atingir a parte de trás do motor.
O comando de válvulas passou a ser por varetas, acionadas por uma única árvore de cames situada entre os cilindros.
Os novos motores eram mais pesados, mas também muito mais potentes, sendo o maior de 1000cc, em particular, mais apto que nunca a puxar um sidecar.
As versões de 600 e 1000cc ficaram conhecidas como a 4F e 4G, respectivamente.

O motor da 4G, todo em alumínio, baixou o peso da moto para uns impressionantes 215 quilos, menos 11 Kg que o modelo rígido, ainda em produção.
Entre outras coisas, o cilindro redesenhado incorporava os colectores de escape e as caixas de distribuição.
O carburador único era um Solex e a taxa de compressão do motor fora aumentada de 5,8 para 6:1, embora a potência absoluta tivesse descido ligeiramente, de 36 para 34 cavalos às 5.400 rpm.

Em 1939, a Ariel já tinha introduzido a sua suspensão traseira “plunger” (em que um pequeno amortecedor monta no eixo da roda, deixando este mexer para cima e para baixo num curso limitado), seguida em 1946 por uma avançada forqueta hidráulica, em vez de suspensão por tirantes na dianteira.
O advento da segunda guerra mundial interrompeu o fabrico, mas em 1945 o modelo de 1000cc é de novo posto em produção, desaparecendo o de 600cc.
Só duas saídas de escape continuavam à vista, embora a natureza do motor tetracilíndrico fosse salientada pelos dizeres “Square Four” no cárter, em vez do anterior número “1000”.

A Ariel era estreita para uma moto de quatro cilindros, mas ao ser equipada com um banco bem acolchoado e guarda-lamas envolventes, estava equipada para viajar, com uma boa bateria, bomba de pneus e protector de corrente.
Instrumentos incluindo um amperímetro, velocímetro Smiths e manómetro de pressão de óleo juntavam-se ao manípulo do amortecedor de direcção para colocar à disposição do condutor informação muito completa.

Uma caixa de quatro velocidades Burman BA, bastante suave, completava o quadro de sofisticação, impressionante na altura, decerto, para quem, normalmente, só estaria habituado a motores monocilíndricos algo erráticos.
Como habitual nas inglesas, no entanto, o tetracilíndrico da Ariel pingava algum óleo, especialmente quando aquecia.
(Continua)