Parte 1
Se há marcas que de começos modestos se tornaram colossos industriais, outra devem a sua fama à visão singular de um homem
Neste último caso, encontra-se, sem dúvida, a JAP. Hoje em dia, parece uma abreviatura de Jap-onesa, mas na verdade, era a moto inglesa com as inicias de John Alfred Prestwich, um génio da engenharia, nascido em 1874, que aos 16 anos já tinha várias patentes mecânicas sob registo e durante a sua vida fabricou câmaras de cinema, geradores, baterias, motores, peças de aviões, motos e até carros, em suma, tudo que tivesse que ver com engenharia de precisão…
Quando J.A. Prestwich fundou a companhia que lhe seria homónima, em 1895, contava pouco mais que 20 anos, e utilizou as traseiras da casa de seu pai como instalações, expandindo gradualmente para as duas casas adjacentes.
Em 1911, já tinha ocupado uma fábrica em Northumberland Park, no subúrbio do Norte de Londres de Tottenham. Prestwich ganhou fama tanto pelos seus projetores cinematográficos como pelos seus motores a explosão.
O Roe, primeiro avião a voar em Inglaterra, fê-lo com um motor JAP
Prestwich começou por trabalhar com S.Z. de Ferranti no fabrico de equipamento cinematográfico, e depois com o pioneiro do cinema William Friese-Greene. Embora as suas câmaras fossem tão avançadas que foram utilizadas para filmar o jubileu da rainha Vitória e a expedição Antártica de Scott, ele regressa eventualmente ao seu primeiro amor, o motor a explosão.
Assim, começa a fabricar motores de moto, primeiro um monocilíndrico de 293 cc, em 1903, que é imediatamente adotado pela Triumph. Pouco depois, forma a Prestige Battery Company, para fabricar uma invenção sua, a vela de ignição JAP, que só seria tornada obsoleta pelo desenvolvimento do magneto.
De 1904 a 1908, motos completas começam a ser produzidas, para escoar o que era então o único motor inglês de válvulas à cabeça! Por alturas de 1908, a fábrica já faz motores de avião com válvulas à cabeça, de dois, quatro e oito cilindros, e é com uma associação com o pioneiro da aviação Sir Walter Roe, que a JAP começa mesmo a fabricar aviões… até se meter em problemas com a polícia pela comoção causada pelo fabrico (e teste!) de aviões no subúrbio londrino de Clapton.
De todo o modo, os motores são já empregues em tudo desde cultivadoras a motoserras e até pequenos camiões. É então que Stan Greening, um dos capatazes da fábrica, convence John Alfred, que até aí não demonstrara interesse na competição, a visitar as corridas de Speedway em Stamford Bridge.
Mesmo isso não impressiona J.A.P., que pensa que o speedway é só uma moda, mas felizmente Stan Greening tem a perseverança de continuar a desenvolver os motores a nível interno, e acabaria mesmo como Consultor Técnico Chefe, depois de 50 anos na fábrica.
Só quando o espaço da marca é visitado pelo capitão da equipa de Speedway Bill Bragg, no Salão do Olympia de 1929, é que este trava conhecimento com o filho de J.A.P. Vivian Prestwich, e faz este perceber que a Speedway tem um futuro e é um excelente pólo de desenvolvimento técnico. Vivian dá a ordem a Stan Greening de desenvolver um motor, e em menos de 3 meses há um protótipo para Bragg avaliar. Nessa altura, os motores dominantes eram os Rudge, que por sua vez tinham obliterado os bicilíndricos Douglas, e inicialmente o JAP era pesado e pouco potente contra os 28 cavalos do Rudge.
É então que outro piloto, Wal Phillips, com experiência nos motores Douglas, começa a visitar a fábrica e Greening pede-lhe para abrir um motor JAP e ver como este poderia ser melhorado.
Sob as observações de Wal, o motor é fortalecido, com melhorias nas condutas e ângulos que lhe aumentam a potência sem alterar a simplicidade básica do “layout”. Como o motor trabalhava a metanol, um alcóol que evapora rapidamente, em vez de aquecer, arrefecia demais.
Assim, as aletas de refrigeração provaram-se redundantes e foram aparadas quase para nada. Esse primeiro motor, uma vez instalado numa moto, permitiu a Wal Phillips bater o recorde da pista de testes logo à primeira, dando indicação do potencial da unidade.
(continua)
