Teste Royal Enfield Classic 350 – A Máquina do Tempo
Ensaio realizado por Alfonso Sanchéz – Solomoto
Rodar numa Royal Enfield Classic 350 supõe ser uma aventura que inclui viajar no tempo. A mesma é no entanto uma máquina moderna de duas roda, apesar de carregar uma imagem clássica e de nos conseguir transportar aos tempos de outrora, na década dos anos 40, parecendo que nos dirigimos a um qualquer lugar para tomar um chá…
Num passado longínquo, o escritor britânico H. G. Wells imaginou uma máquina capaz de nos fazer viajar no tempo. Estávamos no ano de 1895 quando a novela de Wells foi publicada dando origem a um estilo que hoje se denomina de ficção científica. Poucos anos depois, já em 1901, a Royal Enfield colocava em circulação a sua primeira moto, iniciando assim um percurso em direção ao futuro que daria como fruto a famosa G2 no tempo da II Guerra Mundial e anos mais tarde, já em 2008, à primeira Classic 500.
A marca, originalmente inglesa, dedicava todos os seus esforços em criar uma moto eficaz, resistente e carismática que conseguiu chegar até aos dias de hoje. O que o escritor de Bromley conseguiu imaginar no papel nas suas novelas, a marca de Worcestershire conseguiu concretizar na então incipiente indústria da mobilidade automóvel.
E chegados aos dias de hoje encontramo-nos com o fruto dessa mesma evolução, a Royal Enfield Classic 350, um modelo que soube desenvolver-se, reduzindo a sua cilindrada. Esta realidade pode parecer uma contradição, no entanto este paradoxo ganha sentido quando conhecemos o caminho percorrido.
Mais por Menos
A última Royal Enfield Classic foi apresentada em 2008 e desde então manteve-se praticamente inalterada no catálogo da marca, realidade que se altera com a chegada da 350. O modelo anterior era de facto uma 500cc, com injecção electrónica que já contava com travagem assistida por ABS. No entanto parece ser que não houve capacidade nem argumentos suficientes para superar a inexorável evolução dos tempos e as exigentes normativas ambientais.
É neste contexto que chega a nova Classic 350, herdeira de uma longa tradição de motos com motor monocilíndrico e de estilo vintage. Afirma-se de forma mais discreta e simultaneamente elegante, sendo capaz da magia de tudo mudar sem mudar nada.
Na realidade a sua cilindrada é agora menor e a sua potência também, no entanto agora estamos perante uma Clássica moderna, que cumpre todas a exigências da norma Euro 5, que monta um chassis de excelente desempenho, suspensões algo firmes mas também agradáveis e uma travagem segura sem perder em nada o seu encanto retro.
Sinceramente esta evolução não nos parece ter sido demasiado complicada para a marca, agora Indiana, já que tinham uma excelente base de partida, a sua Meteor 350, modelo apresentado há menos de um ano. Este modelo, de estilo Cruiser, apenas teve que ceder a sua mecânica e grande parte da sua ciclística para que a Royal Enfield pudesse “vestir” a sua nova Classic 350 com a indumentária apropriada dos anos 40/50.
Desta forma , o motor 350 de curso longo é já nosso conhecido, o chassis foi desenhado pelos especialistas da Harris Performance e a nível de suspensões mantiveram-se os mesmos conjuntos dianteiros e traseiros que monta a Meteor. Ao conjunto anterior apenas se teve que juntar um depósito, um farol, um guiador, umas tampas laterais, uns guarda lamas e as jantes de sempre que já montava a anterior versão da Classic, para obtermos uma nova máquina actualizada para as exigências de 2022.
Passagem de modelos
Uma das grandes virtudes deste modelo e que se mantém na versão actual da Classic, é a sua capacidade de se adaptar aos mais variados gostos. A Royal Enfield propõe nada mais e nada menos do que 8 versões possíveis de estilos, com diferentes acabamentos e cores para o depósito e guarda-lamas assim como um catálogo extenso de acessórios da marca , específicos para o modelo, de forma a conseguir uma personalização máxima do mesmo, ao gosto de cada um.
Entre as principais opções destacam-se as diferentes estruturas para adaptar alforges de lona encerada e que contribuirão para oferecer uma imagem aventureira clássica e tradicional. No catálogo de acessórios encontramos também proteções para o motor, assentos de estilo “touring” mais confortáveis, para condutor e passageiro e outros pormenores de estilo como peças mecanizadas em CNC.
Em todo o caso o segredo para esta viagem no tempo, proposto pela Royal Enfield, reside naquilo que representa o núcleo duro do conjunto, ou seja, na combinação de três elementos, motor/chassi/suspensões. Já a sua estética é revestida à medida pelos “alfaiates” da Royal Enfield de forma a transmitir a nostalgia do modelo e a sua relação com a tradição e o passado.
Mas voltando ao presente, onde encontramos um suave motor monocilíndrico que oferece generosas subidas de regime sem quaisquer vibrações. Apesar de ser uma mecânica de curso longo monta um eixo de equilíbrio que filtra todas as vibrações primárias, conseguindo um funcionamento suave sem batidas, praticamente imperceptível a baixa rotação.
Com pouco mais de 20 cv de potência, que à partida podem parecer curtos para uma 350, o certo é que a nova Classic garante uma circulação fluida por entre o tráfico urbano, respondendo de imediato ao rodar do punho de acelerador, certamente pelo peso contido do conjunto e de uma grande facilidade de virar a baixa velocidade apesar de montar uns poisa-pés algo largos, realidade que a par do guiador nos obrigam a tomar um extra de atenção quando circulamos entre os carros. A caixa de velocidades é precisa e agradável com um pedal que perde a sua extensão para o calcanhar face ao modelo Meteor.
A um ritmo tranquilo
Tal como na versão Meteor também encontramos na Classic 350 um motor com potência algo justa, ideal no entanto para circular pela cidade e em pequenos passeios por estrada. Os 20 cv de potência são de facto algo curtos, sobretudo quando percebemos que a ciclística admitiria asem problemas algo mais de potência. Uma realidade que se faz sobretudo sentir quando circulamos em estrada aberta e onde rapidamente chegamos à velocidade máxima e nos deparamos com o corte de ignição. Fica claro que a Classic 350 não foi pensada para realizar longos trajectos em auto-estrada, mas sim para uma utilização muito diferente.
Mesmo assim e de forma surpreendente, o chassi de duplo berço desenvolvido pela Harris Performance funciona na perfeição com as suspensões permitindo que a Classic tenha um desempenho excelente em percursos mais sinuosos, garantindo um ritmo alto e trajectórias precisas, apoiadas numa suspensão que permite uma excelente leitura do asfalto, com um afundamento progressivo e contido nas travagens. Os amortecedores traseiros acompanham bastante bem o desempenho da dianteira e apenas mostram os seus limites em situações mais extremas.
Interessante de facto como uma moto de características supostamente mais conservadoras te permitem realizar uma pilotagem mais agressiva e divertida. Porém as limitações do seu motor obrigam a tirar o máximo partido da caixa e rodar nos regimes mais altos em cada velocidade sempre que nos deparemos com subidas mais acentuadas na estrada. A Classic 350 foi concebida para rodar tranquilamente em regime de passeio e não para curvar de joelho no chão… ainda assim.
Outro ponto que indica a sua natureza tranquila são os seus travões. Com um desempenho suave e seguro num registo mais calmo de condução, mostram no entanto as suas limitações quando rodamos mais rápido e queremos apurar mais as travagens. O peso da Classic 350 gera inércias que não se mostram compatíveis com apenas um disco na dianteira, sobretudo em situações de velocidade excessiva. Acaba por deter a Classic 350, é certo, no entanto temos que nos aplicar com decisão na manete de travão e procurar alguma ajuda no travão traseiro, mostrando-se então progressivo e eficiente. O sistema de ABS cumpre com a sua missão embora em travagens mais fortes surja com um grau excessivo de intervenção.
Atenção aos pormenores
Outro detalhe que destacamos são as jantes, que tanto podem ser de raios como de braços em liga, é uma questão de gosto. Tendo em conta o estilo clássico da moto talvez faça mais sentido do ponto de vista da coerência a adopção de jantes de raios.
Em qualquer caso a combinação final é idêntica, sendo que na dianteira monta uma jante de 19” e na traseira de 18”. Os pneus CEAT, nas medidas de 100/90-19” e 120/80-18”, são de origem indiana e oferecem um desempenho bastante aceitável, conseguindo um bom equilíbrio e contribuindo para a agilidade do conjunto.
Quanto à estética vintage que apresenta a Classic 350 há que destacar o depósito com tampas laterais de proteção para os joelhos e os guarda-lamas envolventes de metal, decorados com o mesmo estilo. De ambos lados da moto encontram-se umas tampas com fechadura, onde na esquerda temos acesso ao filtro do ar e na direita a bateria e o sistema elétrico.
Outros pormenores que consideramos interessantes são o escape cromado que termina numa ponteira do tipo “Peashooter”, o conjunto farol com painel de informação, do tipo analógico e que integra um pequeno LCD, que inclui um écran de proteção aerodinâmica ao melhor estilo retro. Neste conjunto frontal uma outra “modernice” pode ser encontrada escondida pela peça de fixação da embraiagem, uma tomada USB.
A Classic 350 é entregue de série com o assento do pendura montado assim como uns apoios tubulares para o mesmo se segurar. O processo de transformação da Classic 350 em monolugar é no entanto bastante simples.
Definitivamente a marca indiana mantém a sua política de produzir modelos de características acessíveis, capazes de se adaptarem a um target de público bastante abrangente e que carregam consigo um estilo característico e inconfundível.
Aliás, poucas agências de viagem oferecem a possibilidade de “Viajar ao Passado” pelo preço desta Royal Enfield, que custa na sua versão base 4.989 euros e nas versão Chrome 5.189 euros.
O que mais gostámos e o que menos…
MOTO +
- Imagem clássica
- Motor generoso e dócil
- Eficácia da ciclística
MOTO –
- Potência algo justa
- Travagem roda dianteira
Ficha técnica Royal Enfield Classic 350
- Motor tipo Monocilíndrico, 4T refrigerado por ar e óleo SOHC 2V
- Diâmetro x curso 72 x 85,8 mm
- Cilindrada 349,34 c.c.
- Potência máxima 20,2 CV a 6.100 rpm
- Par máximo 27 Nm a 4.000 rpm
- Emissões de CO2 63,4 g/km
- Alimentação Injeção electrónica
- Caixa 5 velocidades
- Embraiagem Multi-disco en aceite
- Transmissão Corrente de o’Rings
- Tipo de chassi Duplo berço em aço
- Direção N.d.
- Braço oscilante Doble brazo en tubo de acero
- Susp. Dianteira Telescópica de 41 mm com curso de 130 mm
- Susp. Traseira Amortecedor duplo com pré-carga em 6 posições
- Travão dianteiro Disco 300 mm c/ pinça de 2 pistons, ABS duplo canal
- Travão traseiro Disco 270 mm c/ pinça de 1 piston, ABS duplo canal
- Pneus 100/90 x 19” y 120/80 x 18”
- Distância eixos 1.390 mm
- Altura assento 805 mm
- Peso atestada 195 kg
- Depósito 13 l
- Consumo médio 2,63 l/100 km
- Autonomía teórica 490 km
- Garantía oficial 3 anos
- Importador Desmotron Portugal
- Web www.royalenfield.com/pt
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