Nesta mais recente versão da Speed Twin, a Triumph aprimorou o motor e a ciclística de uma máquina que gera paixões. Esta moto gera sensações díspares, para além de unir passado e futuro, gostamos tanto de rodar o punho direito numa estada de curvas, como dedicarmos tempo a admirá-la estacionada. Intemporal.
Por Pedro Alpiarça
Podia começar este teste por debitar as características técnicas do modelo, o que o difere da versão anterior e da restante gama. Que as suspensões são agora invertidas, que o bicilindrico foi renovado e que a electrónica presente cumpre a sua função. Que anda bem, trava ainda melhor e que é uma retro-rocket-café-racer-vintage-cenas que compete com a BMW nineT ou a Kawasaki Z900 RS. E que tem um preço ajustado ao que oferece. E os caríssimos seguidores deste espaço ficavam esclarecidos e com umas luzes sobre o que define a Speed Twin.
Mas não consigo. Simplesmente porque andar de moto é sobretudo uma experiência sensorial, e esta máquina fechou o meu ano motociclístico de forma muito especial.

Desde o momento em que nos sentamos aos seus comandos, percebemos que o seu carisma está latente nos mais diversos pormenores. A posição de condução é clássica mas desportiva, o guiador não é demasiado largo nem alto, os poisa-pés estão no sítio certo, e o banco corrido (assento com 809 mm de altura ) é acolchoado o suficiente para nos imaginarmos a fazer uns bons kms sem esforço.

A Speed deixa-se manobrar (são 216 Kg em ordem de marcha) facilmente a baixas velocidades, a embraiagem não é demasiado pesada e não há engasgos no acelerador, desde que não deixemos as rotações caírem em demasia. Neste registo, retribuímos ao mundo o prazer de a ver passar, a sua elegância não se queda despercebida.
Mas no pisar desportivo das suspensões e no som rouco e compassado que nos acompanha, a mensagem é clara, há aqui muito mais do que a vista alcança….
Esta é uma daquelas motos que queremos parar o mais perto da esplanada possível. A silhueta sexy faz-se acompanhar de pormenores que requerem tempo e parcimónia para os admirar. Desde os espelhos minimalistas ao clássico farol redondo com uma moderna luz diurna em LED, aos manómetros bem esculpidos, à fantástica linha de escape com o catalisador escondido. Depois reparamos nos Brembo M50 e nos pneus desportivos e ficamos a pensar que tipo de promessas que ela nos fará…

O entusiasmo com que a Triumph Speed Twin ganha velocidade é patrocinado pela força do seu motor (motor bicilindrico paralelo com 1200 cc ; 100 cv @ 7.250 rpm e 112 Nm @ 4.250 rpm), mas mais do que os valores de potência, é o binário que nos acorda e põem em sentido desde as mais baixas rotações.
Vigoroso, decidido na sua entrega, colocando questões para a ciclística resolver, a condução em ritmos mais elevados acontece mais vezes do que esperamos numa máquina desta tipologia. Não era suposto estarmos de língua de fora e joelho técnico assumido, mas a pujança motriz é viciante ao ponto de perdermos a compostura civilizada que vendemos.

A suspensão (Forquilha invertida Marzochi Ø43mm e duplo amortecedor com ajuste de pré-carga) dianteira é incansável na sua função de dar precisão ao eixo frontal, e se pensarmos que agilidade não é o mote deste tipo de arquitectura, a maneira como a Speed aborda as trajectórias e as consegue manter, roça um fenómeno holístico.
Até porque o duplo amortecedor traseiro tem dificuldades em acompanhar o brilhantismo, sobretudo nas ondulações mais bruscas, subtileza não é o seu nome do meio. E apenas destoa porque tudo o resto funciona de forma exímia, a travagem (Duplo disco de Ø320mm; pinças radiais Brembo M50; Disco Ø220mm) está ao nível de máquinas com mais 50cv e a caixa é precisa e bem escalonada.

Até aos 130 km/h conseguimos rolar confortáveis, a partir daí temos de assumir que o corpo é que paga o excesso. Nos clássicos mostradores temos acesso aos mapas de condução (3 mapas de condução: Rain, Road e Sport ; Controlo de tracção desligável), bem diferenciados na entrega e aprimorando o optimo feeling do punho direito.
Quando conseguimos refrear os ânimos, vamos percebendo o contexto em que podemos puxar por ela, com bom asfalto e umas curvas longas para lhe darmos tempo para reagir, o diálogo será inesquecível.

A Speed Twin é aquela namorada que adora cantar, mas temos vergonha de a levar ao Karaoke…porque vai-se esticar na Whitney Houston. Temos de saber lidar com a tentação de andarmos sempre a castigar os Metzeler Racetech , temos de ter noção que estamos em cima de uma clássica, mas a emoção muitas vezes foge à razão. Esta moto faz de nós uns bandidos engravatados, é intemporal no estilo e moderna na performance, e com certeza que enganará muitos os que a julgam apenas pela imagem. O preço começa nos 13.600 €, bastante competitivo.

Tivemos a sorte de poder fazer bastantes kms com a Speed Twin. Inclusive uma road trip ao Algarve onde a deixamos brilhar nas nacionais mais retorcidas. O motor é avassalador, e a ciclística está à altura do seu poder. A margem que separa o passado do futuro esbate-se quando rolamos com motos que nos confundem na sua entrega. É igualmente satisfatório admirá-la ou tentar manter a trajectória de punho enrolado enquanto sorrimos dentro do capacete. Satisfatório não…Sublime.
Gostámos:
- Estilo intemporal
- Motor vigoroso e despachado
- Travagem
- Qualidade dos acabamentos
A melhorar:
- Suspensão traseira algo brusca
Ficha Técnica:
Motor
Tipo de Motor | Refrigeração líquida, 8 válvulas, SOHC, 270º intervalo de ignição, bicilíndrico paralelo |
Cilindrada | 1200 cc |
Potência | 100 cv (73.6 kW) @ 7250rpm |
Binário | 112 Nm @ 4250rpm |
Transmissão | Caixa de 6 velocidades, final por corrente |
Ciclística
Quadro | Duplo berço em aço |
Suspensão Dianteira / Traseira | Forquilha Marzocchi invertida, Ø 43mm, curso de 120mm / Dois amortecedores reguláveis em pré carga, 120mm de curso |
Travagem Dianteira / Traseira | Dois discos de 320mm Ø, pinças monobloco Brembro M50 de 4 pistões, de montagem radial / Dois discos de 320mm Ø, pinças monobloco Brembro M50 de 4 pistões, de montage radial |
Pneus | 120/70 ZR17 ; 160/60 ZR17 |
Dimensões e Preço
Altura do assento | 809 mm |
Distância entre eixos | 1413 mm |
Capacidade do depósito | 14.5 L |
Peso | 216 kg |
Preço | Desde 13.600 € |
Cores Disponíveis:
Jet Black Matt Storm Grey Red Hopper
Concorrentes:
-
BMW R nineT Pure

-
Kawasaki Z900 RS
