Só para colecionadores muito ricos
Uma obra-prima francesa prova que se pode realmente pagar o preço de um supercarro por uma moto que, no entando, está mais à vontade a ser polida do que a exibir números de grandes desempenhos. O fabricante francês de motos de luxo Midual não faz nada pela metade, nem à pressa.

Faz uma década que a marca presenteou o mundo do motociclismo com algo que mais parecia um delírio febril de alumínio polido. Agora, o fabricante boutique de Anjou regressa com a Type 1 Série 3, uma máquina que promete esplendor artesanal, pureza mecânica… e números de desempenho que mal podem justificar o preço de seis dígitos de 186.000€.

O monocoque de alumínio polido, ainda a peça central, serve de quadro, carroçaria e depósito de combustível, tudo numa única peça. É uma unidade única, meticulosamente esculpida à mão, que aparentemente demora centenas de horas a criar, justificando em parte o preço.
É inegavelmente um trabalho artesanal impressionante. Mas, por outro lado, pelo preço, quase se poderia contratar alguém para o seguir a tempo inteiro com um pano de polimento.
No início deste ano, a Midual apresentou a Quintessence, que era uma interpretação totalmente polida e ultra-exclusiva da sua Type 1. Limitada a três unidades e oferecida por 300 mil euros, esgotou quase instantaneamente. E é esse o objetivo.

Para mais, a Midual não está sozinha neste segmento, pois fica perto da atual fábrica da Brough Superior Motorcycles, que também fabrica motos ultra-exclusivas e caras que, com excepção da AMB01 e da RM01, têm números de desempenho que seriam superados por uma naked japonesa de média cilindrada de 15.000 Euros.
E a Brough mesmo assim vende todas as motos novas que produz. A Série 3 segue a mesma trajetória: produção limitada (20 unidades desta vez), construção luxuosa e um acabamento que faz com que até os melhores construtores de motos personalizadas digam “oh merde”.

Cada linha, cada curva, cada filete pintado à mão é trabalhado com a precisão de uma jóia. O famoso assento monobloco de alumínio maciço, conhecido como “tapecul” (dispensa Google Translate), está de volta, presumivelmente porque, mesmo no mundo das motos de luxo, os franceses nunca perdem a oportunidade de batizar algo com um nome ligeiramente obsceno.
Sob toda esta reluzente estrutura metálica, encontra-se o exclusivo motor bicilíndrico horizontal de 1.036 cc da Midual, inclinado a 25 graus.
Alegadamente é suave, com binário abundante e refinado, tal como todos os comunicados de imprensa já escritos sobre um motor cuja ficha técnica não se deve questionar muito a fundo.

É rápida? A Midual não diz. E talvez seja uma decisão acertada: porque, embora o acabamento seja exótico, o desempenho é mais para ‘turismo continental a um ritmo acelerado’ do que para ‘vestir o fato de cabedal e acelerar ao máximo’. Mas, por outro lado, ninguém que compra uma destas motos está a planear bater motos desportivas.
Tudo é fabricado em Juigné-sur-Loire, no coração de Anjou. O fundador Olivier Midy e a sua pequena equipa maquinam, esculpem, pulem e montam cada componente internamente. O alumínio francês em bruto transforma-se numa escultura reluzente, e cada moto é testada durante 300 km antes da entrega – presumivelmente para garantir que se mantém intacta durante o árduo percurso desde a entrada do castelo até ao museu privado onde passará o resto da sua vida.

Midy insiste que a Série 3 é uma verdadeira máquina de estrada, e o historial da marca comprova isso mesmo. Em última análise, porém, trata-se de um objeto de luxo para os apreciadores – pessoas que escolhem motos não pela potência, mas pelos parafusos com acabamento manual e um chassis monocoque que custa mais por quilo do que o melhor foie gras.















