Testámos a Indian FTR 1200 R Carbon – Expressão actual de um passado vitorioso na competição em duas rodas
Rodarmos numa Indian FTR é uma viagem que nos remete para mais de um século atrás quando a competição em duas rodas dava os seus primeiros passos em circuitos ovais construídos com tábuas de madeira, as famosas e perigosas Board Track Racing, corridas que se fizeram famosas nos Estados Unidos e que durante uma década, no início do século XX, atraíam milhares de espectadores aos vários circuitos que foram proliferando por terras norte-americanas.
As motos de então eram rudimentares, monocilíndricas e bicilíndricas em V, sem caixa nem embraiagem, sem travões e com lubrificação manual externa do acionamento de válvulas, realidade que enchia de óleo o circuito oval de tábuas de madeira e que tornava a pouca aderência das borrachas que montavam ainda mais suscetível de se parecer com patinagem artística. As motos pegavam de empurrão e com os seus parcos 15 Cv de potência conseguiam projetar os pilotos, protegidos rudimentarmente com roupas de couro e capacetes que derivavam da aviação, a mais de 100 milhas por hora.
O ambiente era eletrizante e ruidoso, com cheiro de fumos e de óleo e combustível queimado e os acidentes eram recorrentes, muitas das vezes fatais. No mínimo os pilotos saíam de uma queda cheios de farpas de madeira das tábuas que constituíam o piso em que rodavam. Era esta perigosidade que atraía os espectadores e criava cada vez mais afición tendo-se tornado as corridas de Board Track Racing no desporto motorizado mais popular à época.
Nessa época já as Indian disputavam os primeiros lugares do pódio com outra das marcas mais conhecidas norte-americana. Infelizmente em 1913 um terrível acidente, em que a moto e o piloto foram projectados para a bancada, acabou por ser fatal para 8 espectadores e o próprio piloto. A partir de aí as autoridades começaram a limitar e a proibir as corridas de Board Track Racing e a popularidade desceu abruptamente tendo os circuitos pouco a pouco desaparecido.
Porém, aquela emoção que era vivida nas ovais de madeira não desvaneceu totalmente e, já nos anos 40 e 50 passou para um palco que oferecia a mesma emoção mas com mais segurança, as pistas de Flat Track em terra batida. Nessa época a Indian ganhou novamente protagonismo conquistando vitórias e campeonatos nacionais com uma equipa de três pilotos que se fez famosa, Beckman, Tuman e Hill, e que dava pelo nome de Wreking Crew.
Aos dias de hoje vemos esse passado recuperado e novamente as Indian FTR 750 são protagonistas nas populares corridas de Flat Track norte-americanas.
Precisamente inspirado neste passado histórico ligado à competição, a Indian decidiu criar uma versão comercial das suas famosas motos de Flat Track Racing tendo precisamente escolhido as iniciais da competição para designar o modelo, FTR 1200.
Embrenhados neste histórico fantástico, foi com enorme emoção que recebemos da Indian Lisboa o convite para testarmos aquele que é o expoente máximo da gama FTR, a versão R Carbon e que carrega consigo todo o incrível ADN de mais de um século de história ligado ás mais populares e incríveis competições em duas rodas. É por isso que ao estarmos perante o modelo aquilo que imediatamente nos transmite é um sentimento de enorme respeito e responsabilidade pois a FTR 1200 é quase como uma homenagem a um percurso irrepetível de mais de um século de histórias.
A estética inspirada nas motos de Flat Track e os acabamentos premium da versão R Carbon aumentam ainda mais o sentimento por esta peça de engenharia contemporânea e aumentam a expectativa da experiência que a mesma nos iria proporcionar .
Logicamente que nem sequer nos passou pela cabeça levar esta versão ao extremo de a testar em pista de terra e rodar com a moto atravessada nas curvas de uma oval. Não quisemos correr o risco de nos convertermos em mais um facto histórico no panorama nacional editorial, neste caso pelos maus motivos. Aliás a versão FTR 1200 não está preparada para invocar na terra os feitos das suas antepassadas e tão somente fazer-nos viajar no tempo.
Foi portanto com o espírito embebido de sensações contraditórias que avançámos para o teste da FTR 1200 versão R Carbon.
Aquilo que desde o primeiro momento mais nos chama a atenção é precisamente o motor V-Twin de 1203 cc, que se destaca num belíssimo quadro de treliça e um depósito minimalista em forma de gota, que debita os generosos 123 CV às 8.250 rpm e um binário máximo de 118 Nm logo às 5.900 rpm, realidade que garantia sempre arranques vertiginosos com o rodar do punho e desde os baixos regimes.
A posição de condução é algo desportiva, com as pernas encolhidas e o corpo inclinado para a frente o que se compreende face ao comportamento “agressivo” do modelo. O assento, de excelente acabamento, é algo alto e minimalista no seu conforto ( tipo Flat como o conceito da própria moto ). A adopção de roda dianteira de 17” em vez da anterior de 19” induz ainda mais a nossa posição sobre a frente da moto, compensando no entanto na maior agilidade que obtemos na condução da mesma.
A caixa de velocidades não conta com Quickshift no entanto é precisa e bem escalonada beneficiando de um binário alto desde os baixos regimes o que nos permite rodar de forma mais suave sem termos que passar demasiada caixa, até porque o acionamento da embraiagem, embora mais eficiente, sobretudo em transito intenso em cidade, exige mão de ferro. Particularidade que beneficia o nosso conforto é o facto de que em situações de sobreaquecimento do motor, por exemplo em cidade, o motor desliga o cilindro traseiro, diminuindo assim a sensação de calor junto ás nossas pernas.
As suspensões Ohlins, à frente e atrás, totalmente ajustáveis, dão um toque de sofisticação e desportividade a esta versão R Carbon e garantem um comportamento irrepreensível na leitura da estrada, embora em piso degradado façam sentir na nossa estrutura física o seu carácter firme e desportivo. A travagem está assegurada por componentes do melhor que existe no mercado, pinças Brembo radiais de 4 pistons e discos de 320 mm na dianteira. A nível de pneus monta Metzeler Sportech, 150/17” atrás e 120/ 17” na frente, que se mostraram adequados para garantir estabilidade e aderência em curva da FTR.
Em termos de ajudas eletrónicas a FTR conta com três modos de condução, Rain, Standard, e Sport e ainda um IMU que providencia Cornering ABS, Controle de Tração, Controle de cavalinho e do levantar da roda traseira e ainda Controle de Velocidade de Cruzeiro. A gestão destas funcionalidades é facilmente gerida e beneficia inclusivamente do painel de instrumentos, apesar de dimensão contida e redondo, é sensível ao toque e podemos selecionar algumas funções partir do mesmo, isso sim e por questões de segurança obriga que a moto esteja parada.
Em termos de equipamento e acabamentos a Indian FTR 1200 R Carbon com com um painel Touch Screen, inédito em modelos deste segmento mas tecnologia que a Indian já nos habituou nos seus modelos. A leitura é algo penalizada pela pouca dimensão do mesmo e sobretudo quando o sol incide sobre o mesmo. No entanto contém toda a informação necessária e permite inclusivamente navegação.
Em termos de acabamentos a versão R Carbon exibe uma série de elementos em fibra de carbono, nomeadamente o guarda-lamas dianteiro, a proteção do farol dianteiro e painéis junto ao depósito de combustível. Nota-se em toda a moto o cuidado com a qualidade dos materiais, as soldaduras perfeitas, a qualidade da pintura e dos poucos cromados que este modelo exibe. A iluminação é Full Led e esteticamente bem integrados no conceito Flat da FTR. Achamos que esta versão de todo da gama FTR merecia trazer de origem as ponteiras de escape da Akrapovic que existem como opção.
A Indian FTR 1200 é uma moto que se define por um estilo muito próprio, uma espécie de “muscle bike” muito exclusiva na sua concepção e de inspiração específica numa realidade histórica e desportiva associada à marca. É para todos os efeitos uma moto belíssima com um comportamento dinâmico difícil de criticar e assegurado pelo binário do seu motor e pela qualidade premium dos componentes da sua ciclística. Não é obviamente uma moto para viajar pois não tem qualquer proteção aerodinâmica e é pouco confortável para realizar grandes tiradas em viagem. O depósito de combustível tem apenas 12,9 litros e rapidamente damos conta do acender da luz de reserva.
A Indian FTR 1200 R Carbon tem um PVP 18.990 euros e tem atualmente uma promoção de 1.000 euros em roupa ou acessórios ( oportunidade para adquirir as ponteiras Akrapovic ).
Gostámos
- – Estilo e estética
- – Resposta do motor
- – Acabamentos
A Melhorar
- – Autonomia
- – Conforto
FICHA TÉCNICA
MOTOR | |
Tipo de Motor | V-Twin Arrefecimento Líquido |
Cilindrada | 1203 cc |
Diâmetro x Curso | 102 mm x 73.6 mm |
Relação de Compressão | 12.5:1 |
Injecção Electrónica | EFI / Corpo de 60mm |
Performance | |
BINÁRIO MÁXIMO (RPM) | 6000 rpm |
BINÁRIO MÁXIMO (95/E/1/EC NM) | 120 Nm |
SUSPENSÃO | |
Suspensão Dianteira | Forquilha telescópica invertida, Öhlins totalmente ajustável/120mm |
Suspensão Traseira | Amortecedor Öhlins totalmete ajustável com reservatório independente IFP / 120mm |
CHASSI | |
Travões Dianteiros | Duplo disco, Brembo de 320mm / Pinças de 4 pistões |
Travões Traseiros | Disco Brembo de 260 mm / Pinça de 2 pistões |
Pneus Dianteiros | Metzeler Sportec 120/70ZR17 58W |
Pneus Traseiros | Metzeler Sportec 180/55ZR17 73W |
Rodas | Pretas com risca vermelho Indian Motorcycle (17” x 3.5” / 17” x 5”) |
Sistema de Escape | 2 em 1, Catalisador no coletor |
DIMENSÕES | |
Distância entre eixos | 1525 mm |
Altura do assento | 805 mm |
Distância ao solo | 165 mm |
Comprimento Total | 2223 mm |
Largura Total | 830 mm |
Altura Total | 1295 mm |
Angulo de inclinação | 45° |
Inclinação | 25,3° |
Rasto | 99.9 mm |
Capacidade de Combustível | 12.9 L |
GVWR (Peso Bruto Total do Veículo) | 430kg |
Peso (Depósito Vazio / Atestado com Combustível) | 221 kg / 235 kg |
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